Em 1990, Patricia Boyer-Domergue iniciou uma verdadeira missão de resgate da história vitivinícola do Languedoc, no sul da França. Apaixonada por vinhos e formada em enologia, Patricia adquiriu uma antiga propriedade em ruínas em Siran, no coração de Minervois, cercada por vinhedos abandonados e uma capela medieval praticamente esquecida pelo tempo. Ali nasceu o projeto visionário do Clos Centeilles.
Diferente da maioria dos produtores que buscavam apenas as variedades mais conhecidas e comerciais, Patricia decidiu trilhar um caminho ousado: replantar uvas antigas, quase extintas após a devastadora crise da filoxera. Seu objetivo era claro — preservar o patrimônio genético e cultural da região, trazendo de volta castas raras como Riveyrenc, Œillade Noire, Picpoul Noir e Araignan, entre outras.
Hoje, o Clos Centeilles cultiva 23 variedades diferentes, sendo 16 delas consideradas esquecidas. Algumas dessas joias raras incluem Riveyrenc Noir, Blanc e Gris, Œillade Noire, Morrastel, Muscardin, Terret Noir, Aramon, Clairette Rosé, Picardan, Plant de Brunel e, claro, o peculiar Picpoul Noir — uma variedade histórica que praticamente desapareceu dos registros modernos.
Entre os vinhos que simbolizam essa filosofia de resgate está o C de Centeilles, um blend vibrante que une Picpoul Noir, Riveyrenc, Morrastel e Œillade. É um vinho que carrega no aroma e no sabor a alma do Languedoc: leve, frutado, de taninos macios e com um frescor impressionante. Um verdadeiro tributo à diversidade e à autenticidade esquecidas ao longo dos séculos.
Patricia também se mostrou atenta às tendências contemporâneas do mercado. Em entrevista à revista Forbes, ela destacou que o crescente interesse dos consumidores por vinhos com menor teor alcoólico fortalece ainda mais a relevância dessas variedades antigas. Dos onze vinhos atualmente produzidos pelo Clos Centeilles, sete geralmente apresentam menos de 14% de álcool — algo que vem ao encontro da busca moderna por vinhos mais leves e gastronômicos.
Hoje, a paixão de Patricia ganhou reforço em casa: sua filha, Cécile Boyer-Domergue, abraçou a missão da mãe e trabalha lado a lado no vinhedo e na vinícola. Juntas, mãe e filha mostram que é possível unir tradição e inovação, valorizando o passado sem perder de vista o futuro.
O trabalho do Clos Centeilles é mais do que um projeto vitivinícola: é um ato de preservação cultural, uma defesa da biodiversidade e uma prova de que algumas das melhores histórias do vinho ainda estão sendo contadas — em cada cacho de uva resgatada e em cada taça servida.
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