A relação entre música e vinho vai além da harmonização em eventos e degustações. Nos últimos anos, várias vinícolas e centros de pesquisa têm explorado como as vibrações sonoras e a música influenciam não só o envelhecimento do vinho, mas também a forma como percebemos seus aromas e sabores.
Desde 2004, a vinícola chilena Viña Montes utiliza música clássica em sua sala de barricas, acreditando que as vibrações suaves podem influenciar a micro-oxigenação e a sedimentação durante o envelhecimento do vinho. No Brasil, a Luiz Argenta, localizada na Serra Gaúcha, também aposta na música — em especial Bossa Nova — para maturar seus vinhos, defendendo que as vibrações sonoras podem alterar a estrutura molecular do líquido e aprimorar sua qualidade.
Na Itália, a vinícola Paradiso di Frassina, na Toscana, se tornou famosa por tocar as sinfonias de Mozart para suas videiras. Pesquisas desenvolvidas em parceria com universidades italianas indicaram que a exposição contínua à música pode aumentar a resistência das plantas a pragas e melhorar seu desenvolvimento, possivelmente pela estimulação das células através das vibrações acústicas.
Mas a influência da música não se limita ao campo ou à adega. Vários estudos acadêmicos demonstram que ela pode alterar a percepção sensorial do vinho durante a degustação. Um experimento conduzido pela Universidade Heriot-Watt, no Reino Unido, revelou que músicas com batidas mais graves e intensas levam os degustadores a perceberem os vinhos como mais encorpados e robustos. Já músicas suaves e com frequências mais altas fazem com que o vinho pareça mais leve, fresco e frutado.
O renomado pesquisador Charles Spence, da Universidade de Oxford, também se dedicou a estudar como os estímulos sonoros afetam o paladar. Ele demonstrou que frequências agudas (sons mais altos) tendem a realçar sabores ácidos e doces, enquanto frequências mais baixas (sons graves) intensificam a percepção de amargor e taninos nos vinhos.
Essas descobertas fazem parte do campo da psicofísica sensorial, que estuda como os sentidos interagem e influenciam a forma como percebemos o mundo. Embora a música não mude a composição química do vinho no momento da degustação, ela altera o cérebro do degustador, modulando suas sensações e emoções.
Além de estudos acadêmicos, eventos de “wine & music pairing” (harmonização entre vinhos e músicas) têm se popularizado em diversas partes do mundo, promovendo experiências sensoriais que combinam arte, ciência e prazer. Grandes marcas, como a marca de espumantes Veuve Clicquot e a vinícola americana Jordan Winery, já realizaram eventos do tipo, explorando o impacto das trilhas sonoras na experiência gustativa.
A boa notícia é que você também pode experimentar isso em casa. Que tal servir um vinho branco fresco ao som de uma bossa suave, ou um tinto encorpado acompanhado por um jazz com graves marcantes? Faça o teste e observe como a música pode transformar sua percepção do vinho.
Afinal, a combinação de música e vinho é mais do que uma simples coincidência: é uma forma de explorar o prazer sensorial de maneira ainda mais profunda.
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