Publicado em 1977, The Wines of Gala é uma das obras menos conhecidas de Salvador Dalí, mas representa uma extensão fiel do universo surrealista do artista. O livro une arte, vinho, filosofia e sensualidade de maneira não convencional, afastando-se dos padrões técnicos da enologia. A obra surgiu como desdobramento de Les Dîners de Gala, publicação anterior na qual Dalí já havia explorado a gastronomia com excentricidade e imaginação. Em The Wines of Gala, o vinho é apresentado sob uma ótica emocional, sendo classificado de acordo com os sentimentos que desperta. Entre as categorias propostas estão Vinhos de Éxtase, Vinhos de Meditação, Vinhos de Agressividade e Vinhos de Luz. A proposta do artista era romper com classificações tradicionais e transformar o ato de degustar em uma experiência sensorial e subjetiva.
Visualmente, o livro segue o estilo característico de Dalí. As páginas reúnem colagens, ilustrações psicodélicas, imagens de figuras mitológicas, nus femininos e rótulos de vinhos clássicos. Cada elemento visual é trabalhado com traços surrealistas e composições oníricas que fundem arte e simbologia. A obra também incorpora citações literárias, reflexões filosóficas e elementos simbólicos, fazendo do vinho uma metáfora para o prazer, o tempo e o mistério. Em uma das frases mais marcantes do livro, Dalí afirma que “quem sabe degustar não bebe mais vinho, mas sorve segredos”, resumindo sua visão sobre o tema.
O livro foi originalmente publicado pela Borden Publishing e por muitos anos permaneceu fora de circulação, tornando-se item de colecionador. Em 2018, foi relançado pela editora Taschen, o que permitiu seu acesso por novos públicos. Embora não seja um manual técnico, The Wines of Gala atrai tanto admiradores da obra de Dalí quanto entusiastas do vinho interessados em abordagens sensoriais e culturais. A publicação se consolidou como um registro único da fusão entre o vinho e a arte no século XX.
Leia também: Fraude em Champagne abala prestígio da bebida francesa