O uso do termo “poda invertida” tem se popularizado entre produtores e consumidores de vinho no Brasil. Embora comum, essa expressão é tecnicamente incorreta e não aparece em publicações científicas ou na literatura técnica. O nome certo é “dupla poda”, uma técnica desenvolvida no Brasil que tem permitido a produção de vinhos de alta qualidade fora do calendário tradicional da viticultura.
A dupla poda consiste em realizar duas podas na videira ao longo do ano, com o objetivo de deslocar o ciclo da planta. A primeira poda é feita no verão, eliminando os brotos frutíferos e promovendo apenas o crescimento vegetativo. A segunda ocorre no outono e induz a frutificação, fazendo com que a colheita aconteça no inverno. Essa mudança traz uma série de benefícios, principalmente porque o inverno brasileiro é uma estação mais seca e com maior amplitude térmica, o que favorece a sanidade das uvas e contribui para a concentração de açúcares, acidez e compostos aromáticos, resultando em vinhos mais equilibrados e expressivos.
O responsável pelo desenvolvimento da técnica foi o engenheiro agrônomo Murilo Regina, pesquisador da EPAMIG, em Minas Gerais. A prática começou a ser aplicada na cidade de Caldas, no Sul do estado, em parceria com a vinícola Estrada Real, uma das pioneiras na adoção comercial do método. Desde então, a dupla poda passou a ser replicada em outras regiões de altitude do país, como Espírito Santo do Pinhal e a Serra da Mantiqueira, ampliando as possibilidades da viticultura nacional.
Apesar da mudança no ciclo produtivo, o termo “poda invertida” não é adequado, já que ele sugere uma inversão do modo de poda, e não do calendário. O que se altera é o tempo de frutificação da planta, e não a técnica de condução da videira. Por isso, o uso da expressão pode gerar confusão e desinformação. A nomenclatura reconhecida por instituições de pesquisa, como EPAMIG, EMBRAPA e universidades federais, é “dupla poda para colheita de inverno”.
A técnica tem impulsionado um novo segmento no mercado: o dos vinhos de inverno. Os rótulos produzidos com uvas colhidas nesse período vêm ganhando reconhecimento em concursos e entre especialistas, ajudando a consolidar uma nova identidade para o vinho brasileiro.
Valorizar a viticultura nacional passa também pelo uso correto da informação. Ao substituir expressões populares mas equivocadas por termos técnicos adequados, o setor fortalece sua credibilidade, valoriza a pesquisa e amplia o entendimento sobre as potencialidades do vinho feito no Brasil.
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