
Eugenio Cue é sommelier internacional de charutos e vinhos e também especialista em drinks.
Apaixonado por charutos cubanos, ele fala nessa entrevista sobre o que torna esses produtos tão especiais. Também compartilha sua visão sobre edições limitadas icônicas, a evolução do paladar ao longo do tempo e as melhores harmonizações – desde os tradicionais runs até combinações surpreendentes com champanhe. Além disso, Eugenio traz insights sobre o mercado de vinhos, destacando tendências e desafios, como a busca por produtos de alta qualidade e preços mais acessíveis. Também fala sobre drinks, harmonizações e tendências. Sem dúvidas, uma conversa rica para apreciadores de charutos, vinhos, drinks e boas histórias. Confira
Etienne Carvalho: Eugênio, os charutos cubanos são realmente s melhores charutos do mundo?
Eugenio Cue: Seria muito absolutista falar isso, mas eu acredito que sim. Eu sou apaixonado por charutos cubanos. Além de ser minha terra natal, sou fascinado por essa complexidade. Você acende, começa pelo primeiro terço, chega ao segundo e finaliza. Ao longo dessa experiência, há camadas aromáticas e gustativas muito interessantes. Eu não percebo aquelas notas excessivamente picantes nos charutos cubanos. Sinto uma harmonia, uma cremosidade e uma complexidade que somente esse terroir proporciona. Se eu tivesse que descrever em algumas palavras, o habano, o puro cubano, seria encantador, maravilhoso, impressionante e sedutor.
Etienne Carvalho: Quais são as edições limitadas dos habanos mais emblemáticos do mundo, que você considera verdadeiras joias?
Eugenio Cue: Alguns me marcaram muito, e até tenho alguns guardados em casa. Uma edição limitada incrível foi o Robusto Supremos de Cohiba, de 2014, se não me equivoco. Lançaram essa edição com uma coloração de capa bem escura. O charuto ficou robusto e belíssimo. Essa é uma das edições limitadas que guardo com mais carinho.
Etienne Carvalho: Como você acha que o paladar evolui ao longo do tempo?
Eugenio Cue: Olha, com os habanos legítimos, você pode começar por qualquer um e será agradável. Eu recomendo um charuto pequeno para iniciantes, pois um muito grande pode se tornar cansativo. Qualquer marca com um preço justo já é um ótimo começo. Uma perla seria uma boa opção. Se encontrar um Robusto de alguma marca, também pode começar por ele, pois é um charuto de corpo médio.
Etienne Carvalho: E você acha que o paladar evolui com o tempo, à medida que se degusta mais?
Eugenio Cue: Não tenho dúvidas. É um caminho sem volta. No começo, eu fumava qualquer habano. Hoje, assim como no caso do vinho, meu paladar ficou mais exigente. Prefiro curtir o envelhecimento do charuto, a boa conservação e a maturação. O processo oxidativo do envelhecimento realça os aromas e sabores, tornando-os ainda mais encantadores.
Etienne Carvalho: Você associa os charutos a destilados, como uísque e rum. Mas que combinações diferenciadas você já experimentou e recomendaria? Ou continua no tradicional?
Eugenio Cue: Para finalizar um charuto, eu me encanto com rum. Sou apaixonado por rum. No último terço do charuto, acho que o rum combina perfeitamente, com aquelas notas de caramelo, baunilha e madeira, além de um leve toque defumado de cedro. Também gosto de harmonizar um bom puro com champanhe, especialmente os mais envelhecidos, que trazem notas de padaria e levadura. Os champanhes millésime, que apresentam maior potência aromática e gustativa, são excelentes para isso.
Etienne Carvalho: Bom, já que mencionou champanhe, vamos falar um pouco sobre vinhos. Na sua opinião, o vinho perfeito existe?
Eugenio Cue: O vinho já nasceu perfeito. O vinho é a perfeição. Quando falamos de vinho, estamos falando da bebida que mais emociona. Ele já é perfeito por si só. Nós é que procuramos defeitos, mas o vinho em si é perfeito. Eu penso em vinho todos os dias. Para mim, ele é sinônimo de perfeição.
Etienne Carvalho: Estamos falando de perfeição, mas queria que comentasse um pouco sobre o mercado, já que você trabalha com vendas. Qual você enxerga como a grande tendência para o mercado de vinhos nos próximos anos?
Eugenio Cue: A grande tendência que percebo, nesses dez anos que estou no Brasil, é que as pessoas estão conhecendo e apreciando muito mais os vinhos. Elas buscam mais conhecimento, e isso é muito importante para o mercado. Hoje, convivemos com consumidores mais cultos e interessados em informação, o que valoriza ainda mais o nosso trabalho. Assim, a tendência é buscar produtos mais específicos e bem trabalhados.
Etienne Carvalho: Você acha que algo precisa ser feito para tornar o vinho mais acessível? O que poderia ser melhorado, do seu ponto de vista?
Eugenio Cue: A carga tributária impacta muito o preço. Muitas vezes, ouvimos comparações do tipo: “Comprei esse vinho em Portugal por tal preço”. Mas a realidade do mercado local precisa ser levada em conta. É um desafio constante para todos que trabalham com vinho. Precisamos encontrar produtos de excelente qualidade e bom preço. Às vezes, nem sempre acertamos, porque ninguém é perfeito, mas nosso objetivo principal é priorizar esse equilíbrio, pois o mercado exige isso. Quem trabalha com comercialização sabe do que estou falando.
Etienne Carvalho: Qual foi a harmonização mais inusitada que você já fez com vinho?
Eugenio Cue: Para ser sincero, não sou de buscar combinações muito raras. Acredito que cada alimento tem sua companhia ideal. A harmonização é, basicamente, encontrar um equilíbrio entre os dois. É experimentar o vinho, sentir o que ele expressa, provar a comida e avaliar seus componentes para alcançar essa sintonia. Não sou de arriscar harmonizações muito inusitadas. Prefiro entender cada elemento e buscar a melhor combinação.
Etienne Carvalho: E com drinks? Você segue essa mesma lógica ou já ousou mais na produção de drinks?
Eugenio Cue: Sou apaixonado por drinks! A mixologia trabalha com matérias-primas diversas. Às vezes, misturamos muitos ingredientes, outras vezes, poucos, mas sempre há um elemento químico ali, uma busca por equilibrar sabores. O mundo da coquetelaria está cada vez mais impressionante.
Etienne Carvalho: Entre os clássicos da coquetelaria, você reinventaria algum? Como faria?
Eugenio Cue: Com certeza! Muitas vezes, chego em casa, vejo os ingredientes que tenho e experimento combinações. Por exemplo, com um bom vinho de Jerez, busco mesclar com um rum de qualidade. Também gosto de trabalhar com vermouths, explorando suas notas frutadas ou amadeiradas. Costumo misturar bons vermouths, vinhos de Jerez, rum, gin e bitter. Para acompanhar um charuto, prefiro drinks mais complexos, especialmente para o último terço.
Etienne Carvalho: O que você acha que está em alta no mundo dos drinks?
Eugenio Cue: Houve um tempo em que os drinks defumados estavam no auge, mas essa tendência já está diminuindo. Agora, técnicas mais simples e drinks menores, porém complexos, estão ganhando espaço. Os drinks clássicos, no entanto, nunca saem de moda.
Etienne Carvalho: Para finalizar, qual drink você recomendaria?
Eugenio Cue: Gosto de começar com drinks que abrem o apetite, com notas amargas ou bem frescos, que dão vontade de continuar degustando. E, para o final, drinks mais encorpados.
Etienne Carvalho: Complexos e encorpados?
Eugenio Cue: Não necessariamente complexos, mas encorpados para o final. Afinal, não precisamos saturar o paladar, e sim seguir uma sequência lógica.
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