Participei de uma degustação muito interessante conduzida pelo sommelier e professor Antônio Duarte. O evento, intitulado “Quebrando as Regras do Vinho do Porto”, teve como proposta desconstruir a ideia de que o Vinho do Porto é exclusivo para sobremesas e momentos de fim de refeição. Pelo contrário: mostrou, na prática, que esse ícone da enologia portuguesa é extremamente versátil – harmonizando, com excelência, não só com doces, mas também com pratos salgados.
Foram onze etapas de muita descoberta, com vinhos que variaram entre Porto Branco, Tawny, Ruby, Rosé, LBV, Colheita e Vintages raros – alguns com mais de 30 e até 40 anos de envelhecimento! Cada vinho foi cuidadosamente combinado com um prato ou petisco específico, explorando tanto a harmonização por contraste quanto a harmonização por equivalência. Ah! os pratos foram deliciosamente preparados pelos chefs Flávio Vieira e Bobson Melo.
Começamos com um refrescante Portonic, drinque preparado com Porto Branco doce, água tônica e limão, ideal para dias quentes, harmonizado com castanhas. Seguimos com pratos surpreendentes como bolinho de bacalhau, espaguete ao molho de tomate com camarão, filé ao poivre e até foie gras, todos harmonizados com diferentes estilos de Porto, ressaltando o equilíbrio entre doçura, acidez, gordura e intensidade aromática.
As sobremesas também tiveram seu momento de brilho, claro. Torta de frutas vermelhas, mousse de chocolate, quindim, crème brûlée e queijo Roquefort foram pares perfeitos para vinhos intensos e complexos como o Porto 30 anos da Messias, o Valriz 40+ e o extraordinário Graham’s Colheita 2003.
Uma das grandes lições foi entender como a acidez e o teor alcoólico dos Portos podem realçar sabores, limpar o paladar e criar experiências gastronômicas memoráveis.
Participaram do evento sommeliers de diversos restaurantes e lojas de vinho de Brasília, os famosos integrantes da Confraria Vinhas Velhas. Foi uma tarde de muito aprendizado e quebra de paradigmas. Um verdadeiro convite a olhar para o Vinho do Porto com novos olhos – mais livres, curiosos e ousados.
Com a ajuda do sommelier Renato Ruziguin, consegui sintetizar o passo a passo da degustação. Confira
Primeira Etapa:
Drink – Portonic (Elaborado com Porto Branco Doce Sagrado – Receita: Copo Long Drink. 50ml de Porto, 150 ml de água tônica, uma rodela de limão. Completar com gelo) harmonizado com castanhas
Drink Leve e refrescante, a doçura do vinho se contrasta com o amargor da
água tônica. Ideal para dias de calor. Boa combinação com as castanhas, limpa
o paladar que fica untuoso, deixado pelas castanhas.
Segunda Etapa:
Porto Tawny Vieira de Sousa Fine harmonizado com Bolinho de Bacalhau.
Harmonização por contraste. O vinho do Porto, que tem um dulçor elevado, se
equilibra com o bolinho de bacalhau, que é um prato salgado, fazendo-se uma bela harmonização, com um final levemente picante.
Terceira Etapa
Porto Branco Extra Dry Taylors harmonizado com espaguete ao molho de tomate com camarão.
Harmonização por equivalência: Desta vez, um prato com acidez e doçura que
o molho de tomate trás, faz uma harmonização com o vinho, Extra Dry, que possui o dulçor e a a acidez necessária. O camarão também combinou muito bem com vinho e elevou o prato.
Quarta Etapa:
Porto Fonseca L.B.V 2011 harmonizado com Filé ao Poivre.
Harmonização por contraste. Um vinho do Porto robusto, com estrutura e tanino
casado com pratos de carne. O dulçor do vinho se equilibrou com a picância do prato.
O alto teor alcoólico do vinho do porto ressaltou a picância no retrogosto.
Quinta Etapa:
Porto Messias 30 anos harmonizado com Torta de queijo Roquefort (queijo de mofo azul)
Harmonização por contraste. Harmonização clássica de vinho do Porto, o
salgado e acidez que o queijo oferece combina perfeitamente com o vinho do
porto, doce em sua caracteristica. O porto 30 anos estava com coloração cobre, a
exposição ao ar concentra e intensifica sua fruta inicial, originando aromas de avelãs e baunilha, e sabores de mel e especiarias. Um Porto que evoluiu muito bem.
Sexta Etapa:
Alves de Sousa vintage 2009 harmonizado com Queijo da Serra da Estrela.
Harmonização por equivalência. Queijo cremoso, rico, com leve dulçor, que deixa a
boca gordurosa. O vinho limpa o paladar e equilibra o sabor do queijo.
Sétima Etapa:
Porto Rosé Sagrado Collections harmonizado com torta de frutas vermelhas.
Harmonização por equivalência. Este vinho do porto oferece uma boa acidez e
notas de frutas vermelhas, combinando perfeitamente com a torta. Vale ressaltar como o vinho do porto não parou no tempo, produzindo rosés para criar uma nova linha e preencher as demandas do mercado.
Oitava Etapa:
Vieira de Sousa Fine Ruby harmonizado com Mousse de chocolate meio amargo.
Harmonização Clássica e por contraste. O vinho do Porto ruby oferce o dulçor que falta ao chocolate meio amargo, e as notas de ameixa que o vinho carrega combina de forma perfeita com o chocolate.
Nona Etapa:
Porto Valriz 20 anos harmonizado com Foie Gras.
Harmozinação por contraste. O sabor levemente salgado e a gordura que o
Foie Gras oferece, confere um bom equilibrio com a caracteristica doce
do vinho do Porto, que se mostrou bem versátil. O Porto 20 anos estava bem
estruturado, com dulçor adequando, não ultrapassando o Foie Gras.
Décima Etapa:
Porto Colheita Graham´s 2003 harmonizado com Quindim.
Harmonização por equivalência. Nesse caso, o quindim não estava muito
doce, o que foi muito bom, e o vinho também estava com o dulçor e acidez
equilibrados. Uma grata surpresa.
Décima Primeira:
Porto Valriz 40+ harmonizado com Crème Brûlée.
Nesse caso, o vinho foi o ponto alto. Um 40+ perfeito, coloração cobre levando ao dourado. Obviamente, a baunilha e o açúcar queimado da sobremesa contribuiram para a harmonização. Mas, com certeza, o vinho em si foi, com certeza, a coroação desse maravilhoso evento.
Vale ressaltar que os vinhos do Porto com idade são melhores apreciados em taças de bojo grande para que possam expressar toda sua intensidade.
Para finalizar a experiência, ainda tivemos a oportunidade de apreciar o Porto Lágrima – m vinho do Porto branco, conhecido pela sua elevada doçura e textura licorosa, devido a uma fermentação mais curta do mosto.

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