Videiras Enterradas para produzir vinhos

Em algumas partes do mundo, produtores de vinho enfrentam um desafio único: proteger as videiras do frio extremo do inverno. Para garantir a sobrevivência das plantas, eles recorrem a uma técnica conhecida como “burial” ou “hilling up”, que consiste em enterrar as videiras no solo durante os meses mais gelados do ano.

Essa prática é comum em regiões onde as temperaturas podem chegar a -25 °C ou até menos, como na China (especialmente em Ningxia), no Canadá (em áreas de Quebec), na Rússia, na Ucrânia e no Cazaquistão. O processo começa no outono, logo após a colheita. Os ramos das videiras são cuidadosamente dobrados em direção ao solo e cobertos com terra. Isso cria uma camada de proteção que impede que o frio intenso danifique a planta. Na primavera, o trabalho é revertido: a terra é retirada e as videiras são desenterradas manualmente para retomar o ciclo de produção.

Embora eficaz, o “burial” é um processo altamente manual e trabalhoso, que exige grande mão de obra e aumenta significativamente os custos de produção. Na China, por exemplo, estima-se que mais de 60% dos vinhedos da região de Ningxia precisam ser enterrados todos os anos, o que representa centenas de horas de trabalho por hectare.

Mesmo com o avanço da pesquisa, ainda não existem variedades de videiras com qualidade enológica comprovada que resistam naturalmente a temperaturas tão baixas. Algumas alternativas híbridas estão em desenvolvimento, mas ainda não substituem as variedades tradicionais. Por isso, o enterro das videiras continua sendo, para muitos produtores, a única forma viável de manter a produção.

Enterrar videiras é uma prática de necessidade, não de luxo. Ela não melhora diretamente a qualidade do vinho, mas garante que a planta sobreviva até a próxima safra. Ainda assim, os vinhos dessas regiões vêm ganhando reconhecimento internacional, o que mostra que, mesmo em condições adversas, é possível produzir rótulos de destaque. Enquanto a ciência não oferece soluções definitivas, o “burial” segue como uma tradição que exige esforço, paciência e um compromisso profundo com a viticultura.

 

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Quem Sou

Sou jornalista especialista em vinhos e em comunicação digital. Sou sommelier Fisar e diretora da Associação Brasileira de Sommeliers do DF. Possuo qualificação Nível 3 (Wine Spirit Education Trust) e o Intermediário do ISG. Também tenho certificado em vinhos franceses (FWS) e vinhos californianos (CWAS).

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