Vinhos envelhecidos no fundo do mar vêm despertando o interesse de consumidores, produtores e pesquisadores ao redor do mundo. A técnica propõe submergir garrafas em ambientes marinhos com o objetivo de explorar as condições naturais do oceano, como temperatura estável, ausência de luz, pressão constante e movimento das correntes. Essas variáveis criariam um ambiente de maturação diferente daquele encontrado em caves tradicionais.
Embora ainda não exista consenso científico sobre os reais impactos da submersão na qualidade do vinho, diversas vinícolas têm observado mudanças sensoriais interessantes, como taninos mais suaves, aromas mais integrados e uma evolução mais lenta e distinta da bebida.
Na França, o Château Larrivet Haut-Brion mergulhou barricas no Atlântico e relatou diferenças significativas no perfil do vinho, com maior frescor e taninos mais macios. Na Espanha, a vinícola Crusoe Treasure criou uma adega subaquática na costa do País Basco, com vinhos elaborados especificamente para envelhecimento marinho, acompanhados por estudos acadêmicos para entender os efeitos da técnica. Na Itália, o espumante Abissi, da vinícola Bisson, permanece até 18 meses no fundo do mar Tirreno, a 60 metros de profundidade. As garrafas voltam à superfície cobertas por conchas e cracas, chamando atenção pelo visual e pelas características sensoriais mais complexas.
O Brasil também faz parte desse movimento. A vinícola Miolo enviou 600 garrafas do Cuvée Tradition Brut Rosé para envelhecimento no mar da Bretanha, na França. As garrafas permaneceram a 15 metros de profundidade durante 12 meses. O espumante apresentou perlage mais delicado, notas mais integradas e textura diferenciada, sendo o primeiro projeto brasileiro de envelhecimento submerso em mar internacional.
Apesar das dúvidas técnicas, o apelo comercial é evidente. A história por trás de cada garrafa, o visual impactante e a exclusividade do processo fazem com que esses vinhos sejam vendidos como itens de coleção. Muitos produtores optam por não limpar as garrafas após a submersão, mantendo os elementos marinhos como parte da identidade do produto.
O envelhecimento subaquático é, por enquanto, uma combinação de experiência sensorial, inovação e narrativa de marca. Ainda é cedo para afirmar seus efeitos com precisão, mas a prática já ocupa um lugar de destaque no mercado de vinhos voltado à experimentação e ao valor simbólico.
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