Agreste pernambucano desponta como novo polo de vinhos finos

O Agreste pernambucano tem se destacado como um novo polo de vitivinicultura no Brasil, impulsionado por uma pesquisa pioneira realizada pela Embrapa Semiárido em parceria com a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). A iniciativa confirmou a viabilidade do cultivo de uvas viníferas na região e atestou a qualidade dos vinhos ali produzidos, abrindo portas para o enoturismo e novos empreendimentos.

O estudo, que avaliou o comportamento de dez variedades de uvas europeias em cinco ciclos de produção no campo experimental do IPA, no município de Brejão (PE), resultou na recomendação de seis cultivares. Para os vinhos brancos, as variedades indicadas foram Sauvignon Blanc, Muscat Blanc à Petits Grains (Moscato Branco) e Viognier. Já para os tintos, destacaram-se Syrah, Cabernet Sauvignon e Malbec. A produtividade média das variedades foi similar à registrada no Vale do São Francisco, consolidando o potencial enológico da região.

A pesquisadora Patrícia Coelho de Souza Leão, coordenadora do projeto, enfatiza o bom desempenho das variedades recomendadas, especialmente Sauvignon Blanc, Syrah e Malbec, que apresentaram uma média de 10 toneladas por hectare. “Essas cultivares demonstraram alta adaptabilidade e produtividade, sendo promissoras para o desenvolvimento da vitivinicultura no Agreste”, comenta.

A pesquisa também revelou o potencial de diversificação agrícola para pequenos e médios produtores da região, que têm na vitivinicultura uma nova fonte de renda. A produção de vinhos tem atraído empreendedores, como o médico Michel Moreira Leite, fundador da vinícola Vale das Colinas. Desde 2018, a vinícola produz vinhos premiados e já ampliou sua área de cultivo para 14 hectares, com foco em produção artesanal e enoturismo.

Além da Vale das Colinas, novas vinícolas como a Vinícola Mello também estão surgindo, fortalecendo o setor. Estudos em andamento avaliam mais de 12 novas variedades de uvas viníferas, ampliando ainda mais o potencial de crescimento da região.

A Embrapa e seus parceiros continuam desenvolvendo técnicas de manejo e aprimoramento das práticas de cultivo. “A vitivinicultura no Agreste pernambucano está em fase de consolidação, e as pesquisas contínuas são essenciais para tornar essa nova fronteira mais eficiente e competitiva, gerando emprego, renda e impulsionando o turismo local”, conclui Patrícia Souza Leão.

Desempenho das uvas no Agreste pernambucano

Muscat Blanc à Petits Grains – Apresentou ciclo produtivo de 129 dias e produtividade média de 6 toneladas por hectare, chegando a 8 toneladas em condições ideais. Cada planta produziu em média 12 cachos, com massa em torno de 148 gramas, e rendimento de polpa de 74,39%. O vinho branco seco dessa variedade destacou-se pela coloração esverdeada com reflexos dourados, aromas complexos de frutas tropicais, notas cítricas e florais, e um corpo leve com bom equilíbrio entre álcool e acidez.

Sauvignon Blanc – O ciclo fenológico da Sauvignon Blanc durou em média 135 dias. A produtividade média foi de 11 toneladas por hectare, com um máximo de 16 toneladas. Cada planta produziu cerca de 23 cachos, com massa média de 109 gramas e rendimento de polpa de 70,37%. O vinho dessa variedade se apresentou límpido e brilhante, com aromas de frutas brancas, tropicais e notas cítricas. Na boca, mostra equilíbrio, corpo médio e boa persistência.

Viognier – O ciclo de produção variou de 132 a 138 dias. A produtividade média foi de 5 toneladas por hectare, podendo atingir 6 toneladas. Cada planta produziu em média 12 cachos, com massa de 94 gramas. O rendimento da polpa foi de 66,56%. O vinho seco de Viognier apresentou coloração amarelo pálido, aroma complexo com notas de mel, baunilha, frutas cítricas e tropicais, e um sabor equilibrado com boa persistência.

Syrah – Para a variedade, o ciclo fenológico foi de 144 dias, com uma brotação de 60,37% e produtividade de 10 toneladas por hectare, podendo chegar a 14 toneladas. Os cachos apresentaram massa média de 110 gramas. O rendimento de polpa foi de 61,73%. O vinho tinto seco jovem apresentou coloração rubi, notas aromáticas de frutas vermelhas e especiarias, corpo médio e persistência gustativa.

Cabernet Sauvignon – Apresentou ciclo de 149 dias, chegando a 160 dias. A produtividade foi de 4 toneladas por hectare, com um máximo de 5 toneladas. Cada planta produziu cerca de dez cachos com massa de 105 gramas. O rendimento médio de polpa foi de 59,83%. O vinho tinto seco jovem dessa cultivar apresentou coloração rubi com reflexos acastanhados, aromas de pimentão verde, especiarias, frutas vermelhas em compota, frutas negras e menta. Na boca, é equilibrado, com corpo médio e sabor frutado, com persistência gustativa média.

Malbec – O ciclo fenológico foi de 146 dias, com brotação média de 54,65%, alcançando produtividade de 10 toneladas por hectare, podendo chegar a 18 toneladas. Os cachos apresentaram massa média de 140 gramas. O vinho tinto seco jovem da variedade Malbec apresentou coloração rubi com reflexos violáceos, bom brilho e limpidez, aromas de frutas vermelhas e negras, notas florais e um sabor frutado com corpo leve.

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Quem Sou

Sou jornalista especialista em vinhos e em comunicação digital. Sou sommelier Fisar e diretora da Associação Brasileira de Sommeliers do DF. Possuo qualificação Nível 3 (Wine Spirit Education Trust) e o Intermediário do ISG. Também tenho certificado em vinhos franceses (FWS) e vinhos californianos (CWAS).

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