Nova Zelândia foi o tema da última reunião da Confraria Franciscana, realizada em fevereiro. Amei! Os vinhos degustados estavam ótimos e foi uma excelente oportunidade para aprender um pouco mais sobre esse país do Novo Mundo que vem surpreendendo internacionalmente pela qualidade dos vinhos que produz. O único problema, infelizmente, é que no Brasil os vinhos neozelandeses são muito caros (devido a pequena produção e ao alto consumo interno do produto naquele país e também pela nossa excessiva carga tributária) fato que acaba desencorajando o consumidor a comprar e conhecer esses vinhos… Uma pena!
Além dos SBs – A Nova Zelândia tornou-se mundialmente conhecida pela produção de seus maravilhosos e “crocantes” Sauvignon Blancs (isso mesmo: “crocantes” ou “crisps” – termo usado para definir uma característica bem peculiar deixada por esses vinhos na boca, causada pela alta acidez e seu corpo médio – Quem já experimentou um bom Sauvignon Blanc neozelandês sabe do que estou falando). No entanto, para minha surpresa, na degustação da Confraria, em que cada um poderia levar o vinho de sua preferência, não houve sequer nenhum Sauvignon Blanc a ser degustado. O fato foi inusitado, mas por outro lado, provou que a Nova Zelândia está muito além de ser apenas a terra de uma única uva e que é capaz de produzir vinhos maravilhosos com muitas outras castas. Veja o que descobrimos:
Hunter’s – Miru Miru – Para abrir os trabalhos, degustamos este espumante que foi eleito em 2013 um dos melhores do Hemisfério Sul em evento realizado em São Paulo e conduzido por Steven Spurrier (o jornalista responsável pelo “Julgamento de Paris” na década de 70, quando vinhos da Califórnia desbancaram os franceses). Sinceramente, o Miru Miru é daqueles que impressiona. Produzido pelo método champenoise e com as tradicionais castas: Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier, o espumante possui realmente o nível, o sabor, os aromas, o peso, enfim, o estilo, de grandes Champanhes. E o melhor: a um preço bem mais baixo, custa apenas R$120. Quem traz o produto para o Brasil é a Premium, que possui uma vasta carta de vinhos da Nova Zelândia.
Stonecroft Gewurztraminer Old Vine 2007 – Um excepcional Gewurztraminer. Como era de se esperar, bastante aromático: toques de casca de laranja, damasco e muito mel. A lichia apareceu, mas de forma bem menos marcante. Na boca um toque adocicado, justificado inclusive, por se tratar de um exemplar meio seco, portanto, com teor mais elevado de açúcar residual. Importado também plea Premium.
Wild Rock Gravel Pit Red – Um corte com as castas Merlot, Malbec e Cabernet Franc. É um bom vinho de uma das regiões menos frias da Nova Zelândia e onde essas castas amadurecem bem: Hawke’s Bay. No geral, esse vinho pode ser caracterizado como elegante e fresco, mas não tem muita complexidade. Possui média persistência e corpo. Importado pela Decanter é vendido a R$ 134,00.
Luna Negra 2009 Stonyridge Malbec – Um vinhaço marcante. Na boca é bem diferente dos Malbecs argentinos clássicos, pois não possui aquela sensação doce final e possui taninos mais firmes. É um vinho que mescla frutas vermelhas e negras. Possui ótimo corpo, boa acidez e persistência. Infelizmente, é um vinho de valor elevado. Custa R$350. Vale ressaltar que é produzido à base de viticultura orgânica no norte da Nova Zelândia.
Craggy Range Te Kahu Gimblet Gravels 2010 – Esse é um corte bordalês que conta com uma pequena porcentagem da Petit Verdot. É um vinho que se destaca pela intensidade de suas frutas negras maduras e por seu frescor. É importado pela Decanter e comercializado a R$200.
Schubert Syrah 2008 – Esse Syrah do norte neozelandês tem o estilo dos Syrahs do norte do Rhône: frutado, com taninos macios e especiarias. É um espetáculo e super indicado para quem gosta do exemplares mais elegantes como os encontrados em Saint Joseph e Crozes Hermitage. É importado pela World Wine e comercializado no Brasil por R$270.
Craggy Range Sophia 2008 – Vinhaço este Shophia, para mim foi o melhor da degustação. Um corte bordalês que conta também com a Petit Verdot para dar um toque especial. Tem tanto aroma de chocolate e tanta potência que, de alguma forma, acabou me lembrando os encorpados Shiraz australianos, embora sem as típicas especiarias. Na boca, o Shophia é um vinho intenso, encorpado, muito persistente equilibradíssimo e com taninos levemente doces. Conseguimos fechar a degustação dos neozelandeses com chave de ouro ao apreciarmos o Craggy Range Sophia 2008 por último. É importado pela Decanter e vendido no Brasil a R$350. Infelizmente, é um vinho caro, mas vale pagar para conhecê-lo.
“Participação Especial” – Apesar de o tema da degustação de ter sido Nova Zelândia, dois vinhos especiais apareceram por lá e abrilhantaram ainda mais a tarde: o tinto Teliani Valley Saperavi Mukuzani e o doce Soleria – Malamado Zuccardi . O primeiro chamou a atenção por ter sido o único a ser servido às cegas e ter conseguido enganar a todos os participantes. Ninguém imaginou que aquele vinho elegante, frutado, equilibrado e de boa persistência fosse proveniente da Geórgia, à base de uma uva chamada Saperavi e vinificado debaixo da terra em ânforas de barro (Vou fazer um post só pra falar deste vinho depois); o segundo, o Soleria da Zuccardi, também surpreendeu porque ninguém esperava que a Argentina fosse capaz de produzir um vinho de sobremesa tão complexo como esse: nozes, amêndoas, casca de laranja e um inebriante toque de mel. De produção reduzidíssima, esse vinho é feito com interrupção de fermentação por adição de álcool vínico e fermentado em barricas expostas ao sol durante 40 meses. É simplesmente divino! Pena que nenhum dos dois é comercializado no Brasil.
Destaque – Mais uma vez a reunião da Confraria Franciscana foi perfeita. Destaque para o capricho com que somos sempre recebidos no restaurante Dom Francisco 402 Sul e para as discussões de alto nível entre os confrades.