O 11 de agosto deste ano entrou para a História do vinho do DF. Nesta data, foram colhidas partes das uvas da safra 2021 que vão integrar alguns dos vinhos que serão elaborado pela vinícola Brasília, a primeira da região. Tive a oportunidade de integrar o time que participou desse momento e vou narrar um pouco da minha experiência aqui pra vocês.
A vindima aconteceu na Villa Triacca Eco Pousada e Vinhos, que fica na região do PAD-DF (BR-251 Brasília-Unaí) a pouco mais de 45 minutos do Plano Piloto, um lugar charmoso e especial idealizado inicialmente para receber turistas em busca de tranquilidade e contato com a natureza, e que agora passou a integrar de forma pioneira a emergente rota de enoturismo de Brasília. O local já conta com 5 hectares de vinhedos plantados,
O início da colheita começou às 6h da manhã, o que fez os participantes do evento madrugarem literalmente. É importante colher as uvas com a temperatura baixa para garantir algumas características aromáticas da fruta.
Quem já participou dessa experiência sabe, que apesar das belas fotografias da ocasião, nem tudo são flores na hora do trabalho na videira. Apesar de muito prazerosa, principalmente para enófilos curiosos, é um tanto exaustiva e requer atenção.
Os cachos devem ser selecionados e cortados com cuidado, em seguida, colocados nas caixas com muito carinho – um a um – para que não se danifiquem. Esse movimento de abaixar e levantar pode gerar um certo desconforto nas costas de quem não tem muita afinidade com a prática – meu caso!!! Rsrsrsrs. Mas nada que ofusque o prazer de participar de um momento único e mágico para a produção de um vinho.
Outro detalhe interessante de participar de uma atividade como essa aqui no DF é que, devido às condições climáticas locais – com noites frias e dias quentes – a gente começa a colher as uvas ainda no frio e ao final, por volta das 9h30, já está debaixo de um sol bem quentinho. Isso faz com que os agasalhos fiquem esparramados pelas videiras durante a atividade servindo como guias dos locais por onde passamos. Ah! Essa diferença do clima – conhecida por amplitude térmica – é algo extremamente importante para propiciar a maturação adequada das uvas aqui do Planalto Central.
Colheita de Inverno
Diferentemente das regiões vitiviníferas tradicionais, que colhem as uvas no verão, como as localizadas no Sul do Brasil, a produção de vinho de qualidade no DF só é algo possível por conta da técnica chamada “colheita de inverno” – uma inovação que há quase uma década já rende bons frutos na Serra da Mantiqueira, tanto em Minas como em São Paulo. Na prática, essa é uma técnica vitivinícola que inverte o ciclo da videira para que a colheita aconteça num período mais propício, ou seja, durante a seca do inverno e após período de maturação adequado das uvas.As uvas colhidas foram a Syrah, casta que se adaptou muito bem ao “terroir” do Cerrado de Altitude e que é de adaptação mais fácil.
No primeiro dia da vindima foram colhidas 3.590kg de Syrah. A safra deste ano deve render ao todo 5.340kg, ou seja, cerca de 3500 garrafas. Parte delas, inclusive, já será comercializada no início do próximo ano. Para Ronaldo Triacca, a expectativa com relação à qualidade desses vinhos é a melhor possível “Acho que será uma excelente safra. A uva estava excepcional e dará um vinho bem encorpado, com cerca de 14% de álcool”, revela entusiasmado.
Seu Claudino
Há dois anos, o visionário paranaense Ronaldo Triacca – nome que será sempre associado à produção de vinhos finos e ao enoturismo no DF – produziu o primeiro vinho com uvas do cerrado. Como ainda não tinha estrutura adequada, as uvas foram levadas para Minas Gerais e lá foram vinificadas com ajuda dos pesquisadores da Epamig (Empresa Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais). O vinho foi batizado de “Seu Claudino” em homenagem ao pai de Triacca e ficou conhecido como o primeiro vinho de Brasília.
Parte das uvas que colhemos no dia 11 de agosto, também serão utilizadas para a produção do Seu Claudino – que a partir de agora – passa a ser oficialmente o primeiro vinho fino tinto a ser produzido não só com uvas do DF, mas também em solos daqui, ou seja, 100% brasiliense.
Recompensa
Após a vindima, um delicioso café colonial foi servido e como forma de recompensa pelo trabalho voluntário dos participantes convidados, a família Triacca serviu em primeira mão o vinho Dona Irani Syrah rosé, feito em “homenagem à mãe de Ronaldo”. De cor intensa e sabor marcante, o vinho integrará o portfólio da Villa Triacca ao lado de “Seu Claudino”.
A colheita na Villa Triacca ainda não acabou. As uvas syrahs já foram todas colhidas, mas ainda faltam cerca de meia tonelada, entre Marselan, Sangiovese e Grenache. Por enquanto, a participação na vindima está aberta apenas para convidados. Mas, com certeza, a partir do próximo ano, será um programa imperdível que entrará para a agenda de muitos amantes de vinho da cidade.
Vinícola Brasília
Uma parceria entre dez agricultores do Projeto de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF) está tornando possível a implantação da primeira vinícola de Brasília, que deverá entrar em pleno funcionamento no início do próximo ano. Unindo esforços para diminuir custos, a expectativa é que a vinícola produza 200 mil litros de vinho por ano – totalizando, inicialmente 11 rótulos – um de cada propriedade envolvida e um blend exclusivo com uvas de todos os sócios.
Integram a Vinicola Brasília, além da Villa Triacca Eco Pousada e Vinhos. a Miro Vinhos e Vinhedos Ltda, a Ercoara – Cordeiro e Vinho, a Hartos – Vitivinicultura, a Vinícola Marchese, a Oma Sena Vinhos e Vinhedos, a Horus Vinhos e Vinhedos do Planalto, a Casa Vitor, a Toscana do Cerrado, a Vista Da Mata. Se depender desses empresários, que também já estão plantando e/ou colhendo uvas nesse inverno, sem dúvidas, muito em breve, Brasília despontará no mercado de produção de vinhos nacionais e enoturismo. Com certeza, vamos ser testemunhas e partícipes desse momento!
