A De Martino é uma vinícola chilena que decidiu produzir vinhos diferentes e originais e não mais ser adepta ao estilo padronizado daqueles elaborados pelas grandes indústrias chilenas. A empresa optou por deixar para trás o conceito de vinhos amadeirados (pelo uso de barricas de carvalho), alcoólicos e com final doce (devido ao excesso de amadurecimento das uvas) e resolveu apostar na produção de vinhos mais autênticos com novos métodos de vinificação e, até mesmo, na utilização de uvas pouco conhecidas no mercado. Apesar de o novo conceito representar um risco, a De Martino prefere acreditar que “nada assegura êxito frente a algo tão subjetivo como as preferências das pessoas” e se dedica a criar “vinhos autênticos”.
A Enoteca Decanter, que importa os vinhos da De Martino para o Brasil, organizou no início deste mês um jantar harmonizado para apresentar aos enófilos de Brasília alguns vinhos da vinícola. O evento aconteceu no Cartolaria Café e Bistrô (QE 28 Conjunto P -Guará II), ocasião em que tive a oportunidade de degustar vinhos produzidos e vinificados em diferentes subregiões do Chile. Provei o De Martino Gallardía Del Itata Muscat 2012 (Itata), o De Martino Cinsault Gallardía 2013 (Itata), o De Martino Cinsault Viejas Tanijas 2012 (Itata), o De Martino Carmènere Grand Reserva Legado 2011 (Maipo), o De Martino Syrah Single Vineyard Alto los Toros 2009 (Elquí), o De Martino Família 2007 (Maipo) e finalizei com o doce De Martino Late Harvest Sémillon Legado 2004. A degustação foi minuciosamente conduzida pelo diretor de exportação da empresa, Cristian Castro.
Os melhores para mim – O De Martino Cinsault Viejas Tinajas 2012 e o De Martino Syrah 2010 não são os “tops” da vinícola e nem os mais caros, mas foram os que mais me chamaram a atenção. O primeiro é da Região Sul do Vale de Itata, um local onde a precipitação anual pode chegar a 1000 milímetros, fazendo com que as doenças fúngicas sejam um grave problema a ser enfrentado pelos vitivinicultores da região; já o segundo vem da Região do Atacama, do Vale do Elquí, no deserto chileno, onde ao contrário do Itata, o maior desafio é a falta de água e a precipitação tem valores que rondam não mais que 80 milímetros por ano. Neste local as vinhas estão sendo plantadas a grande altitude e se beneficiam pela brisa do mar e pelo ar da montanha, caso das uvas produzidas pela De Martino no local.
Cinsault Viejas Tinajas 2012 (R$101) – Destaco dois fatos interessantes neste vinho: a utilização da uva Cinsault (leia-se Sançoult – casta francesa pouco vinificada no mundo e o método de vinificação utilizado: ânforas de argila de mais de 100 anos). Resultado: vinho extremamente autêntico, frutado e com acidez marcante. Feito para ser bebido jovem. Diria que é um vinho elegante e fresco, mas por ser bem original é indicado para paladares mais exigentes e apurados. Talvez não agrade muito quem esteja iniciando o processo de degustação. No entanto, é sem dúvida, um vinho interessante e não deve deixar de ser apreciado, nem que seja apenas por curiosidade.
De Martino Alto Los Toros Syrah Single Vineyard 2009 (R$131) – Tenho que tomar cuidado para não ser imparcial, pois estou numa fase de apreciar muito o Syrah chileno do deserto. Esse da De Martino é elegante, tem bom volume em boca, é equilibrado. Apresenta notas de frutas negras, couro, chocolate e um pouco de especiarias. Além disso, é super persistente. Gostei muito e recomendo, inclusive, pelo preço, pois vinhos desta região, costumam ser mais caros.
Apreciei-o com o delicioso Zicartola (o carro-chefe do Cartolaria que é um filé mignon ao molho de framboesa acompanhado de purê de batata barôa e risoto de alho poró). A harmonização foi sugerida pelo gerente comercial da Decanter de Brasília, José Filho Anjos e aprovada com louvor!
Qualidade e bom preço – Aproveito para registrar aqui no blog que o Cartolaria Café e Bistrô, mesmo um pouquinho distante fisicamente dos badalados e reconhecidos “espaços gourmet” da capital, é uma casa charmosa e supreende pelo cardápio variado, bom preço, boa música e, sobretudo, pela qualidade dos pratos elaborados pelo chef turco Seref Ertek. Administrado pelo jovem empresário Thales Cipriano, o local se consolida a cada dia como referência enogastronômica em Brasília. Vale a pena conhecer!
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