Você pode achar estranho o termo Degustação às Cegas, mas a estranheza logo desaparece quando você entende o seu interessante propósito! Com essa prática, as pessoas não sabem que vinho estão provando, sendo uma estratégia bem interessante para superar preconceitos em relação a alguns rótulos. Na verdade, é uma prática comum entre profissionais e pessoas com experiência na degustação de vinhos, mas que também pode ser uma boa técnica de aprendizagem para aqueles que estão começando a aprender sobre a bebida.
Como é feita?
Ao contrário do que muita gente possa imaginar, numa degustação às cegas mais séria o que deve ser completamente tapado é o rótulo da garrafa de vinho e não os olhos dos degustadores (embora haja quem faça dessa maneira). Na verdade, antes mesmo de começar a degustação, as garrafas cujos vinhos serão degustados são cobertas com papel alumínio ou pardo para dessa forma garantir uma análise livre da influência de fatores externos. Depois disso, os degustadores apreciam o vinho contando com sua memória olfativa e gustativa e, de certa forma, fazendo um bom exercício mental, para por meio dos aromas e sabores identificados tentarem descobrir o vinho degustado ou, ao menos, a uva ou sua procedência.
França Versus Estados Unidos
Em 24 de maio de 1976, o crítico e jornalista inglês Steven Spurrier fez uma dessas degustações às cegas com críticos franceses de enogastronomia para provar que os vinhos produzidos na Califórnia eram tão bons ou até melhores que os tintos de Bordeaux e os brancos de Borgonha. O resultado foi surpreendente, pois naquela época os vinhos franceses eram tidos como os melhores do mundo, e os primeiros colocados foram os vinhos norte-americanos. Entre os brancos, dos cinco primeiros colocados, três eram da Califórnia. Já, entre os tintos, dos cinco primeiros colocados, dois eram da Califórnia. Esse episódio ficou conhecido como “O Julgamento de Paris”, sendo produzido um filme com o mesmo nome no ano de 2008.
Surpresas
Já participei de diversas degustações às cegas e confesso que cada oportunidade é sempre um bom aprendizado. A gente se surpreende muitas vezes nesse tipo de degustação e percebe o quanto a ausência de informações de um rótulo pode ser capaz de aguçar a nossa percepção e de, realmente, quebrar paradigmas. Em uma das reuniões da confraria que participo, degustamos às cegas vários tintos feitos à base de Syrah. Ao final do evento, a grande surpresa foi saber que o que muitos achavam se tratar de um vinho exótico do Velho Mundo, era, na verdade, um Syrah brasileiro 2010, bem mineirinho, lá de Três Corações, chamado Primeira Estrada. É por essa e por outras que sempre aconselho juntar os amigos (profissionais ou não) para degustarem vinhos às cegas. Garanto que além de boa oportunidade de aprendizagem, será uma ótima diversão!