Tema dos mais atuais, o aquecimento global vem afetando diretamente a produção de vinhos ao redor do mundo. As técnicas agrícolas envolvidas no cultivo das uvas, dada a grande sensibilidade delas às mínimas nuances climáticas, estão sendo rearranjadas para lidar com as alterações de temperatura mundo afora. E a distribuição de vinícolas pelo planeta também está sofrendo alterações.
A relevância do clima é tamanha na vitivinicultura, que, segundo especialistas, ela é uma atividade econômica central na demonstração do aquecimento global.
É o que argumentou Elizabeth Wollkowich, professora associada de Ciências Florestais de Conservação na Universidade da Colûmbia Britânica, em Vancouver (CAN), ao tradicional jornal americano Washington Post, em matéria de junho passado:
“O vinho é o principal indicador da mudança climática. Grande parte da noção de terroir se resume ao clima, por isso estamos remodelando os terroirs, com consequências variadas”
O ‘novo’ mapa-múndi do vinho
Em decorrência do aquecimento global, o mapa da vitivinicultura começa a contar com a presença de localidades antes inimagináveis pela predominância de baixas temperaturas, como Inglaterra e Suécia, e conceitos antes “pétreos”, como a preferência por terras ao sul do Hemisfério norte e ao norte do Hemisfério Sul, estão ficando ficando para trás.
Áreas que sempre foram notadas como muito frias para a plantação de uvas viníferas beneficiaram-se da alteração climática e passaram a ser propícias. É o caso das regiões mais próximas dos pólos, dos extremos da terra, como Inglaterra, países escandinavos e o sul de Argentina e Chile.
Ao longo da costa sul inglesa, por exemplo, a produção de espumantes tornou-se presente. E a colheita melhorou em algumas áreas, como as da uva riesling, na Alemanha, e de Cabernet, no Vale do Loire, na França.
Regiões mais altas também passaram a ser favoráveis à vitivinicultura. Isso deve-se ao fato de que, com as mudanças climáticas, o calor nessas áreas tornou-se mais ameno durante a tarde e o frio ficou menos intenso na madrugada.
Adaptar-se ao clima causado pelo aquecimento global
Em 2013, um artigo científico publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos alertava que a geografia do vinho passaria por constantes alterações em razão do aquecimento global. Regiões tradicionais, como Bordeaux (FRA), Toscana (ITA) e Napa Valley (EUA), precisarão mudar as variedades de uvas se não quiserem desaparecer do mapa.
Em alguns casos, será preciso recorrer a uvas híbridas, o que faz os mais tradicionais enólogos torcerem o nariz. A projeção é de que, em algumas décadas, áreas importantes de França, Itália e Espanha percam a capacidade de produzir vinhos finos.
Os verões mais quentes e eventos climáticos não previstos, como geadas, chuvas de granizo e incêndios florestais, são duas consequências climáticas que interferem diretamente na produção. Áreas que antes não tinham grandes safras com frequência importantes, agora as têm graças ao aquecimento global.
Maturação da uva
Por que a temperatura é tão importante na produção do vinho? O ponto-chave desse processo é a maturação da uva, que é o que determina a qualidade do vinho e está intimamente ligado a elementos climáticos. Períodos mais quentes levam à produção de uvas com mais açúcar e álcool, mas afetam aromas e sabores.
Regiões tradicionais de vitivinicultura passam pelo desafio de lidar com a nova realidade climática ao misturar castas. Em Bourdeaux, com seus rótulos tradicionais, o conselho que normatiza as regras de produção já admite novas variedades de uvas.
A necessidade de sobreviver tem falado mais alto em relação ao rigor da tradição. Você, que ama vinhos, poderá provar rótulos de novas regiões, mas também terá de lidar com alterações nos seus preferidos.