“Existem vinhos que são para sempre, únicos e completos. Enchem a taça e o coração, ficam eternizados em nossa memória. Já outros não são bons o suficiente, são rápidos, corriqueiros e terminam na primeira garrafa ou nem mesmo isso. São descartáveis, valem apenas uma degustação, uma prova do que você não deve repetir. Representam uma sábia lição do que você precisa deixar de lado, ignorar, na hora de buscar por um bom vinho.” Com essa declaração, Rafael Sá, da Pires de Sá Vinhos, inicia uma discussão altamente necessária para os enófilos: o que diferencia um vinho memorável de um rótulo cotidiano?
Para quem já bebe vinho há tempos, a sensação de beber um rótulo comum já não lhe causa nenhum efeito, é fugaz. Apenas faz lembrar ao apreciador que aquele vinho é corriqueiro, é para qualquer situação, lugar ou hora. “É apenas um vinho ordinário em que não se pode esperar encontrar muita coisa: apenas uvas. Uvas que, mais cedo ou mais tarde, estariam podres, mas que, com muita química, uma boa maquiagem e um rótulo chamativo, estão sendo vendidas em qualquer esquina do mundo a preços populares, disponíveis para quem estiver disposto a beber do jeito que lhe convir”, explica o sommelier.
Esses vinhos não exigem explicações e nem amplo conhecimento. “Apenas bebemos para matar a sede de algo maior”, diz Rafael. Mas, segundo o profissional, esse tipo de rótulo é o começo de uma grande busca pelos rótulos que realmente farão história em nossas trajetórias.
“Muitos desses vinhos chamam a atenção e vendem bem, passam a ilusão de que são perfeitos, quando, na verdade, só servem para iniciar nossa jornada no mundo dos vinhos”, opina. Com o tempo, arrisca Rafael, eles provavelmente serão esquecidos.
Mas, felizmente, são esses vinhos corriqueiros que darão, ao apreciador, a oportunidade de estudar e entrar cada dia mais no mundo da enofilia, conhecendo, assim, os rótulos memoráveis. Assim como tudo na vida, a relação do apreciador com o vinho é um constante ensinamento. “Você passará, e estes vinhos, passarinho: voarão para bem longe de você, porque a vida é feita de voos maiores”, conclui Rafael, relembrando que, independentemente dos rótulos, a verdadeira magia para tornar um vinho memorável está no melhor néctar do mundo: o amor.