Comemorar a pesquisa brasileira com uva e vinho

Por Celso Moretti – Presidente da Embrapa

Celso Moretti - Presidente Emrapa
Celso Moretti – Presidente Embrapa comemorando a Pesquisa Brasileira

A história da humanidade não deixa dúvidas: a consolidação e avanço das ideias e das sociedades se deu, entre outros aspectos, em momentos de socialização em torno de uma mesa, com a presença de refeição farta, preparada com alimentos e frutos colhidos da terra e regadas a bebidas fermentadas, como o vinho. Tudo isso traz alegria e sabor especial aos encontros.

Essa presença é tão significativa que algumas frutas e seus derivados são centrais nas narrativas de diferentes povos e culturas, como as simbólicas macieira e videira na Bíblia e o deus Baco na cultura helenística. A imagem de uma maçã vermelha ou de uma taça de vinho  remete a  associações transmitidas por gerações ao redor do mundo. Aliás, videira e macieira atravessaram o Atlântico e chegaram ao nosso Brasil, reconhecido pela diversidade de solos e climas que nos possibilitam experimentar e avançar como poucos no campo da agropecuária — uma adaptação decorrente  do trabalho  de agricultores, pesquisadores e mais  atores envolvidos nas cadeias produtivas, que se dedicam a explorar as particularidades de cada espécie  de modo a oferecer novos produtos e experiências sensoriais.

Presentes no território brasileiro há pouco mais de um século, as frutíferas de clima temperado encontraram fatores geográficos e culturais que inicialmente concentraram a produção na região Sul. Da Serra Gaúcha, onde está a Sede da Embrapa Uva e Vinho, cuja missão é nacional, foram difundidos conhecimentos e tecnologias fundamentais para a expansão dos pomares e vinhedos a regiões antes impensáveis, como o Cerrado e o Semiárido.

Alguns pontos merecem destaque nessa trajetória: na década de 1970, o Brasil importava 85% das maçãs que eram consumidas no mercado interno, e poucos brasileiros tinham acesso à fruta; atualmente, somos autossuficientes e consumimos sete vezes mais maçãs. Fato semelhante ocorreu com o mercado de suco de uva, que possuía uma oferta reduzida e, consequentemente, não havia o hábito de consumo da bebida. Hoje, mais de 50% das uvas processadas se destinam ao atendimento desse mercado, melhorando a diversificação da alimentação dos brasileiros. Existe ainda a produção de uvas sem sementes. Além do abastecimento do mercado interno, o Brasil exporta 45 mil toneladas da fruta para diversos países, tendo como destaque as variedades ‘BRS’ desenvolvidas pela Embrapa. Tudo isso é fruto da ciência brasileira, que tem na Embrapa, em conjunto com outras instituições de pesquisa, ensino, assistência técnica e extensão rural, um dos principais alicerces na geração e transferência de novas soluções tecnológicas.

A pesquisa brasileira desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho por todos esses anos auxiliou o Brasil a se destacar no panorama mundial da produção de uvas e maçãs. Variadas cultivares de uva atendem a agricultura familiar e empresarial de Norte a Sul do país, permitindo a produção da fruta todo dia; sete Indicações Geográficas de Vinhos agregam valor aos diferentes terroirs brasileiros; há o protagonismo na produção de alimentos seguros por meio da implantação das normas técnicas para a Produção Integrada de Frutas.

 Tem mais: o desenvolvimento de sistemas de produção e os avanços em pesquisa básica que subsidiam a compreensão de fenômenos como a apirenia   — ausência de sementes nas uvas — e a superação de dormência, todos extremamente importantes no cenário das mudanças climáticas e na expansão das fronteiras agrícolas. São muitas conquistas e há espaço para avançar no setor de frutas. Mantemos o compromisso de continuar na busca pelo desenvolvimento de novos produtos e tecnologias sustentáveis, que respeitem as pessoas, o meio ambiente e gerem renda, emprego e prosperidade aos produtores de fruticultura de clima temperado e de viticultura.

A inquietação e a curiosidade estão na essência da equipe da Embrapa Uva e Vinho, que há 45 anos apoia o desenvolvimento da vitivinicultura e fruticultura de clima temperado, atuando em conjunto com representantes do setor produtivo, atendendo demandas, prospectando novas oportunidades e contribuindo para o reconhecimento da qualidade do produto nacional.

A Embrapa é dos brasileiros para os brasileiros. Por isso, ao consumir uma uva sem sementes, um suco de uva com cor e sabor especiais, degustar um bom vinho ou saborear uma maçã, é importante ir além de símbolos de mitologia. No Brasil, são frutos da agricultura que têm como base a pesquisa, o desenvolvimento, a inovação e a competência do nosso agricultor.

 Existem muitos motivos para celebrar todo esse avanço. Por isso, brindemos — com os emblemáticos espumantes brasileiros — aos 45 anos da pesquisa desenvolvida na Embrapa Uva e Vinho e àqueles que fazem parte dessa história.

Leia também: Embrapa Uva e Vinho comemora 45 anos com eventos virtuais

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Quem Sou

Sou jornalista especialista em vinhos e em comunicação digital. Sou sommelier Fisar e diretora da Associação Brasileira de Sommeliers do DF. Possuo qualificação Nível 3 (Wine Spirit Education Trust) e o Intermediário do ISG. Também tenho certificado em vinhos franceses (FWS) e vinhos californianos (CWAS).

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