Sinto decepcionar muita gente que, assim como eu, cresceu com a seguinte informação: “Vinho – quanto mais velho melhor”. A realidade não é bem essa e, definitivamente, a idade não é a melhor amiga dos vinhos tintos. Na verdade, cerca de 90% deles são produzidos para consumo rápido e não para envelhecerem. Resumindo: se você guardar por 10 anos um vinho tinto comum, desses de R$20 a R$50 reais encontrados no mercado perto da sua casa, encontrará algo desagradável no lugar da bebida quando for degustá-la, infelizmente.
Para envelhecer, um vinho tinto precisa ter bastante estrutura, ou seja, possuir algumas características especiais como uma boa base de taninos, acidez, álcool e açúcar residual ou uma combinação desses fatores. Consequentemente, tudo isso vai influenciar no valor final do produto. Não quero dizer assim que vinho bom é vinho caro, mas posso afirmar que, em se tratando de vinhos, o preço pode ser sim um indicador de qualidade.
Os tops de Bordeaux (França) são exemplos de vinhos muito tânicos, ácidos e frutados. Normalmente, possuem uma combinação perfeita para envelhecerem por até duas décadas ou mais. Com o passar dos anos seus taninos ficam mais suaves e macios (perdendo aquela sensação adstringente que seca excessivamente a boca) e a acidez (que provoca a salivação) conserva o frescor da bebida, deixando os sabores de frutas aparecerem para dar aquele toque especial aos vinhos. Esse também é o caso dos grandes Pinot Noir da Borgonha e dos Barolos, Brunellos, Barbarescos e Supertoscanos da Itália (Isso não quer dizer que esses vinhos não possam ser consumidos jovens, mas, certamente, será um desperdício fazer isso antes de chegarem a seu apogeu quando envelhecidos devidamente). Há ainda os Vinhos do Porto, que por possuírem bastante álcool e açúcar residual, estão aptos para envelhecerem numa adega por até um século.
Dica prática – quando for comprar vinhos no Brasil em mercados ou, até mesmo, em casas especializadas, ao se deparar com aqueles que custam entre R$20 e R$50, opte pelas safras mais recentes ou pelos que têm entre três e quatro anos de idade, no máximo – esses vinhos baratos, normalmente, são feitos em larga escala e a tendência é decaírem a cada ano. Se o vinho for acima de R$50, optar por um de até oito anos é o ideal para não se arriscar demasiadamente. Claro que essa é uma dica genérica, por isso, o indicado mesmo é sempre procurar o auxílio dos sommeliers ou dos vendedores especializados do estabelecimento, que vão saber com detalhes a procedência, a estrutura e a idade ideal de consumo dos produtos que estão a oferecer, principalmente, dos vinhos mais caros.