No dia 10 de abril, o Blog Vinho Tinto teve o privilégio de participar do lançamento do icônico vinho português Pêra-Manca Tinto, safra 2014, no restaurante Lago em Brasília. O evento foi organizado pela Adega Alentejana e contou com a presença do renomado enólogo Pedro Miguel Frade Pereira Baptista e do presidente do Conselho Executivo da Fundação Eugénio de Almeida, José Mateus Ginó.
Fundação Eugénio de Almeida
A Fundação Eugénio de Almeida é uma Instituição Privada de Solidariedade Social, instituída em 1963, localizada no centro do Alentejo, na cidade de Évora. Produz vinhos desde o século XIX, conta com aproximadamente 600 hectares de área de cultivo próprio de vinhas e, por intermédio da sua Adega Cartuxa, é responsável pelo emblemático Pêra-Manca Tinto.
Adega Cartuxa
Cartuxa é o nome da ordem religiosa que se encontra no Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, propriedade da Fundação Eugénio de Almeida, que comporta a Adega, Lagar e o Enoturismo Cartuxa. A propriedade fica localizada na Quinta de Valbom, foi casa de repouso de monges Jesuítas entre os séculos XVI e XVII e acolhia os padres que lecionavam na Universidade de Évora. Foi adquirida pela família Eugénio de Almeida quando houve a expulsão das Ordens Religiosas por determinação do Marquês de Pombal no século XVIII, e já nessa época, a Quinta possuía um lagar de vinho chamado Cartuxa, vizinho de um convento de mesmo nome.
Seus vinhos combinam tradição e modernidade e são conhecidos mundialmente por sua qualidade e representatividade das características únicas dos vinhos alentejanos.
Tapada do Chaves
Além da apresentação realizada sobre a missão da Fundação Eugénio de Almeida e da Adega Cartuxa, também foi possível conhecer a incrível história da Tapada do Chaves, que foi adquirida pela Adega Cartuxa. Essa propriedade está localizada em Portalegre, uma sub-região localizada no norte do Alentejo, com boa altitude, solos graníticos e influência da Serra de São Mamede e da cobertura agroflorestal próxima, resultando em um microclima mais frio e com boa amplitude térmica, que faz com que seus vinhos sejam marcados pela elegância e frescor.
A Tapada do Chaves possui 60 hectares, sendo 32 destinados para a produção de vinhos, e conta com alguns dos vinhedos mais antigos do Alentejo, datados de 1901 (vinhas tintas) e 1903 (vinhas brancas). São vinhedos centenários que, associados ao seu microclima, produzem vinhos estruturados, complexos e elegantes e atentos a um estilo mais clássico.
Vinhos Degustados
Não posso deixar de citar que o jantar estava maravilhoso! Foram servidos de entrada dadinhos de tapioca com geleia de pimenta, mil folhas de salmão e cream cheese trufado, pastel de queijo e mel e consumê de funghi e panko crocante. Para acompanhar, degustamos o Cartuxa Branco 2017, que eu já conhecia e gosto muito. Acompanhou muito bem as entradas.
O segundo prato foi o Peixe Branco com aligot e mini brotos. E para acompanhar foram servidos o Perâ-Manca Branco e o Tapada do Chaves Branco.
Eu gostaria de falar mais um pouquinho sobre esses dois vinhos e mais especificamente do Tapada do Chaves Branco, que eu não conhecia e foi uma grata surpresa!
Elaborado com Arinto, Antão Vaz, Assario, Tamarez e Roupeiro, é uma mistura de uvas provenientes de vinhas velhas e novas. Vinho complexo, que apresenta acidez média alta em complemento ao seu bom corpo. A intensidade aromática é média. No nariz apresentou aromas de mel, pêssegos maduros e um pouco mineral. Em boca chega ser untuoso! Excelente vinho, com um final muito persistente. É um vinho que sem dúvida pode envelhecer e deve ser apreciado com atenção! Agora estou curiosa pelo Tapada do Chaves Vinhas Velhas, que em conversa com o enólogo Pedro Baptista, me foi informado que as castas que produzem esse vinho estão plantadas juntas e são vinificadas em conjunto. Já as uvas de vinhas mais novas são plantadas e vinificadas separadamente.
O outro vinho que degustamos nesse momento foi o Pêra-Manca Branco 2016.
Já conhecia e já apreciava! Feito com Arinto e Antão Vaz, sendo que parte é fermentada em barricas de carvalho francês e outra em tanques de aço inox. Também fica em contato com as lias e passa por processo de bâtonnage durante 12 meses. Gosto muito desse vinho e lembro que degustei a primeira vez quando estive na Adega Cartuxa em 2012! Foi amor ao primeiro gole! Apresentou intensidade aromática média alta. Foi possível perceber notas de pêssego, um leve floral e baunilha. Em boca, é bem cremoso, com corpo médio e acidez média. O final é persistente! Adoro esse vinho!
E agora partimos para os tintos, que acompanharam o Filet ao molho do chef com rigatoni caseiro na manteiga de sálvia.
O primeiro foi o Cartuxa Colheita Tinto 2015, que muitos já conhecem, e o segundo foi o Tapada do Chaves Tinto 2013 do qual falarei a seguir.
Vinho que destaco por sua elegância, estrutura e frescor! Esse vinho é perfeito para quem procura algo um pouco diferente do que estamos acostumados quando pensamos em vinhos do Alentejo. Como foi dito nos primeiros parágrafos, os vinhos da região de Portalegre tendem a ser mais frescos em virtude do seu microclima mais frio e esse se mostrou exatamente dessa forma. A fruta aqui não é tão presente mas ele é delicioso! Fiquei muito feliz de poder comprovar na taça toda a diversidade que o Alentejo pode apresentar. São utilizadas as castas Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet que passam somente barricas velhas de 550 litros, sendo que algumas são de carvalho português (muito interessante). Tem alta complexidade aromática com notas de frutas negras frescas, café, pimenta. Os taninos e acidez são médio altos e o final é longo. É outro vinho que pode envelhecer. Fui informada que ele terá um preço próximo ao do Cartuxa Colheita.
E agora vamos falar da estrela da noite! O famoso Pêra-Manca Tinto 2014.
O Pêra-Manca tinto é produzido unicamente quando os requisitos de qualidade da safra são atingidos e o mais recente foi o de 2014, com uma edição limitada de 20 mil garrafas. É elaborado com as castas Trincadeira (55% neste ano) e Aragonez, oriundas de vinhas de mais de 35 anos, fermentado em barricas de carvalho francês com temperatura controlada. Passa por maceração pós-fermentativa prolongada e estagia por 18 meses em tonéis de carvalho francês. Apresenta alta complexidade e intensidade aromática com aromas de frutas vermelhas e negras frescas, pimenta, ervas frescas, pinho, chocolate amargo. É um vinho muito equilibrado e estruturado, com acidez média alta e taninos bem marcantes, possivelmente por conta da sua jovialidade. O final é longo e agradável. Sem dúvida nenhuma é um vinho que pode ganhar muito com o envelhecimento em garrafa.
Algo bem curioso que aconteceu foi o fato de terem servido esse vinho com com o bolo de chocolate cremoso com calda de brigadeiro. Achei engraçado e fui conversar com o enólogo e ele me disse que alguns vinhos potentes do Alentejo podem ser harmonizados com chocolate e também com muitas sobremesas a base de ovos que existem por lá! Experimentei e pra minha surpresa, deu certo!
A noite foi incrível e a troca de experiências com os representantes da Adega Cartuxa enriqueceram o evento com as histórias e curiosidades não só sobre o Alentejo, mas também sobre a produção de seus maravilhosos vinhos! Foi um privilégio e uma oportunidade única compartilhar esses vinhos memoráveis com os responsáveis pela sua criação.