Tive a oportunidade de participar de duas atividades da extensa grade de programação do American Wine Show – primeiro e maior evento de vinhos americanos realizado no Brasil, de 22 a 26 de setembro, no Rio e em São Paulo. Eu fui à Master Class American Wine – quatro horas e meia de estudo teórico e prático sobre vinhos do Napa Valley, Sonoma, Oregon e Washington – e ao Grand Tasting – degustação de seleção Premium das melhores vinícolas dos Estados Unidos – ambas no dia 24 e no Hotel Caesar Business em São Paulo.
A iniciativa foi da Smart Buy Wines,capitaneada por Giselda Badelucci (foto), que para divulgar os vinhos americanos em terras brasileiras trouxe para o Brasil produtores e grandes especialistas de vinhos de tradicionais regiões americanas, entre elas o Master of Wine e enólogo Geoff Kruth (foto) e a Presidente do Conselho do Comitê Internacional dos Vinhos de Napa Valley, Vivien Gay, e o primeiro Presidente da Associação de Vinhos de Washington Jeff Gordon.
Vinhos com três dígitos – Os vinhos americanos são realmente um espetáculo e, embora haja alguns com preços mais acessíveis, a grande maioria não sai por menos de três dígitos. Durante o American Wine Show, tive a oportunidade de experimentar vinhos que variaram de R$58 a R$860. Só na Master Class foram 18 rótulos apreciados. Durante o Tasting quase 60 vinhos estavam disponíveis para serem degustados à vontade. Vou listar abaixo os que mais me chamaram atenção:
Chateau Montelena Chardonnay 2010 (Napa Valley) R$417 – Foi este o vinho que, em 1973, desbancou a supremacia dos brancos franceses (de Borgonha) em uma degustação às cegas que mudou a história do vinho no mundo.Quem assistiu ao filme ou leu o livro “O Julgamento de Paris” (Bottle Shock) sabe exatamente do que estou falando. Sem dúvida, é um ícone e sugiro a todos que, havendo oportunidade, apreciem-no calmamente. Vamos lá às minhas impressões: É um vinho mais forte que elegante e extremamente complexo tanto no nariz como na boca: um misto de frutas cítricas (limão, toranja) e frutas tropicais (banana, pêssego e mamão); um pouco de baunilha se apresenta no palato devido a passagem em barrica, mas algo muito sutil. A persistência e o volume em boca impressionam. Para acompanhá-lo, Jeff Gordon indicou pratos mais robustos e sugeriu lagosta ou frango ao creme.
Foppiano Pinot Noir 2011 (Russian River) R$159 – Este vinho realmente me encantou demais. É um vinho intenso em aromas frutados. É rico, é forte, é persistente. Diferentemente de Pinots Noirs do Velho Mundo, esse Foppiano remete a frutas negras mais que a vermelhas. Agora o que é realmente encantador é o final rico e intenso de caramelo – impossível não associar à Coca-Cola.
Mettler Estate Grown Petite Sirah (Lodi) R$149 – Esse resolvi experimentar por recomendação de alguns dos colegas presentes no Grand Tasting. Elaborado com uma das uvas emblemáticas da Califórinia, a Petite Sirah , este vinho explode em aromas e sabores – algo não muito esperado desta casta. Na verdade, é uma mistura de frutas maduras (em especial mirtilo e amora) com toques de pimenta negra.Os taninos são firmes e o final de boca é persistente. Por amadurecer 21 meses em barricas de carvalho francês apresentou algumas notas de tabaco e baunilha. Teve um leve amargor no final, mas que se contrapôs à doçura das frutas maduras e do teor alcoólico elevado (14,9%).
Clos Du Val Cabernet Sauvignon (Stags Leap District) 2009 R$500 (valor aproximado) – Esse também foi dos tintos que se destacaram no Julgamento de Paris e sua primeira safra – 1972 – ficou em sexto lugar na competição, desbancando alguns Bordeaux renomados. Essa mesma safra ganhou primeiro lugar numa revanche que ocorreu 10 anos depois, mostrando que os vinhos californianos poderiam envelhecer melhor que os franceses. Realmente é um vinho excepcional: uma mistura de frutas negras, ervas secas (algo típico dos Cabernets da Califórnia) e chocolate. Os taninos são macios e o vinho é bem equilibrado.
Old Vine Zinfandel (Lodi) 2012 (R$109) – Já falei desse vinho aqui no Blog (relembre aqui), mas vou falar de novo. Suas uvas provém de vinhedos antigos, alguns com mais de 120 anos de idade, que geram poucos cachos e muita concentração de sabor e aromas. É realmente especial: notas que remetem à frutas negras e um toque de pimenta e especiarias, especialmente cravo – algo que confere um sabor exótico a esse vinho. Possui taninos suaves e é bastante equilibrado, sem dúvida, um excelente exemplar de Zinfandel californiano.
Gordon Brothers Estate Grown Cabernet Sauvignon (Columbia Valley) 2010 (R$158) – Esse Cabernet Sauvignon de Washington lembra mais os Cabernets do Velho Mundo. Estagia 25 meses em barricas de carvalho francês e americano. Por conta da amplitude térmica da região, a Cabernet atinge uma ótima maturação. No paladar apresenta frutas negras, tostado leve e um pouco de chocolate. Bastante persistente. Sem dúvidas, um Cabernet Sauvignon de excelentíssima qualidade e muito elegante.
Silver Oak Cabernet Sauvignon (Napa Valley) 2009 (R$860)– Por último vou falar desse vinho que comparece nas melhores cartas dos restaurantes dos Estados Unidos. É daqueles vinhos que todos enófilos devem experimentar, pois integra o status de “Cult Wines da Califórnia”, ou seja, são tipicamente, mas não exclusivamente Cabernets do Napa Valley para os quais colecionadores, investidores e consumidores entusiasmados pagam preços muito elevados. Esses vinhos seguem tendências da década de 1990 em relação ao estilo, ou seja, apresentam mais frutas maduras, mais álcool e sabores intensos e mais concentrados. E o interessante é que seu corte segue o padrão bordalês: 84%Cabernet Sauvignon, 8%Merlot, 4%Cabernet Franc e 4%Petit Verdot, mas tem estágio é de 24 meses em barricas nova de carvalho americano e de 20 meses em garrafa.
Eu, particularmente, prefiro vinhos mais elegantes. Mas, claro, adorei a experiência de experimentar o “Cult Silver Oak”, que classifiquei como “uma verdadeira potência de vinho”. Com certo aperto tânico (até porque esse, se bem armazenado, poderá ser consumido até 2032), ele possui notas intensas de madeira, café, frutas negras e tostado. A vinícola responsável é destino favorito dos enoturistas que vão a Califórnia, pois seus vinhos já receberam mais de 30 vezes a pontuação de 90 pontos ou mais do crítico e avaliador de vinhos Robert Parker.
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