Chile x Argentina foi o tema da última reunião da Confraria Franciscana (que reúne funcionários e amigos do Restaurante Dom Francisco e da qual tenho a honra de participar). Ao todo degustamos 12 vinhos tintos de diferentes castas, safras e regiões chilenas e argentinas. Com os sentidos mais aguçados pela degustação às cegas (sem identificação dos rótulos), concluímos que todos os vinhos degustados apresentaram um sensação doce elevada.
O doce que agrada e vende – Vale ressaltar que esse dulçor pode ser decorrente de açúcar residual (para um vinho ser considerado seco no Brasil é permitido que ele tenha até 5 gramas de açúcar por litro) ou pode também ser apenas uma sensação aparente decorrente do teor alcoólico elevado, da baixa acidez ou mesmo da fruta excessivamente madura causada pelo excesso de sol de algumas regiões. O fato é que comercialmente falando esse “doce a mais” dos vinhos chilenos e argentinos acaba sendo muito conveniente no Brasil dada à preferência dos brasileiros por produtos adocicados. Não é à toa que, atualmente, os vinhos chilenos e os argentinos são os mais vendidos em território nacional.
Bom, mas voltando à Confraria, vou falar um pouco dos vinhos que mereceram destaque na última reunião:
Las Moras Black Label Bonarda 2011 (Argentina) – Foi a surpresa da degustação. Bem equilibrado, persistente, com bom volume em boca e elegante. Vale ressaltar que foi também o vinho mais barato: R$68. A uva Bonarda, apesar de ser usada na Argentina para produzir vinhos mais em conta, ficou fora de série nesse varietal das Las Moras.
El Povenir Laborum Tannat 2012(Argentina) – Pelas características quentes da região de Salta, onde é produzido, esse Tannat apresentou muita fruta negra madura em compota, mas não mostrou muito tanino e nem muita acidez, o que fez o vinho tornar-se enjoativo para ser apreciado sem nenhum acompanhamento adequado. Talvez, harmonizado de um prato de filé ao molho de frutas vermelhas, esse vinho possa revelar-se mais saboroso. R$150.
100 Barricas de Chile (Chile)– Esse vinho vale pela história. É um projeto de Rafael Prieto, diretor da top winemakers, que juntou 100 vinícolas chilenas para produzi-lo. Cada uma delas enviou uma barrica para o corte que levou 93% Cabernet Sauvignon, 5% Syrah, 1% Carménère e 1% Carignan. O resultado ficou interessante: um vinho que reflete toda a diversidade, riqueza e potencial de criatividade enológica do Chile. No nariz apresentou frutas negras, um corpo médio e taninos macios. R$435.
Garage Carignan Lot #27 2010 (Chile) – Esse vinho já chama atenção pela garrafa reciclada de champanhe, sem rótulo, mas pintada à mão. É proveniente de uma vinícola chilena cujos ideais são produzir vinhos de alta qualidade e em escala diminuta. Esse exemplar é um Carignan do Vale do Maule proveniente de vinhas velhas não irrigadas. Com coloração bastante intensa, taninos marcantes e boa estrutura, mostrou potência em boca, frutas negaras e especiarias sem apresentar nenhum tipo de notas herbáceas.Esse vinho também foi outra grata surpresa na degustação. (R$140)
Fabre Montmanyou Merlot Patagônia (Argentina) – Esse Merlot da fria Patagônia lembra figo e ameixas. Ao final apresentou um certo amargor, mas que contrastou com a doçura do álcool e das frutas. Taninos macios. Interessante. R$95.