A primeira vinícola que visitei no Uruguai foi a Pizzorno Family Estates. Fundada em 1910 por imigrantes italianos, está situada em Canelones, região vitivinícola que concentra 62% da produção total de vinhos uruguaios e distante 50km de Montevidéu. O empreendimento é administrado pela terceira e pela quarta geração da família, que mantêm o mesmo amor e respeito pela vitivinicultura que seus antepassados.
Quando cheguei, fui recepcionada por Francesco Pizzorno, diretor de exportação da vinícola e bisneto de Próspero José Pizzorno, fundador da empresa. Foi ele quem contou toda a história do empreendimento e revelou os esforços de seu pai, o enólogo Carlos Pizzorno, para replantar sistematicamente, após 1988, todas as vinhas do local com o objetivo de produzir vinhos finos (antes dessa época, a vinícola produzia apenas vinhos de mesa). Hoje a vinícola possui 20 hectares de vinhedos com cepas de Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Petit Verdot, Merlot, Pinot Noire,Malbec, Arinarnoa, Sauvignon Blanc, Chardonnay, y Moscatel de Hamburgo.
Em seguida, Francesco me apresentou alguns dos vinhedos da “bodega”, nome espanhol dado à vinícola. Como agosto é mês da poda no Uruguai, as vinhas não estão muito bonitas, mas o momento foi excelente para aprender detalhadamente sobre como e porquê deve ser realizado este procedimento.
Enquanto caminhávamos, tive a oportunidade de conhecer o senhor Ruben Pedransini, agricultor que há mais de 36 anos trabalha diretamente nos vinhedos da empresa. Ele é tratado como um integrante da família. Não é à toa. Ele conheceu todas as gerações que passaram por ali e, aos 83 anos de idade, é muito ativo ainda. Inclusive trabalha todos os anos na colheita, porque na Pizzorno todas as uvas são colhidas manualmente. Ali, os produtores acreditam que esta é a maneira mais eficiente de expressar com fidelidade o potencial das uvas e, por isso, até hoje, muitos vinhos são também elaborados de forma artesanal.
Depois do contato direto com a terra e com a planta, fomos conhecer os tanques e o processo de vinificação. Há grandes tanques de concreto revestidos de epóxi e também modernos tanques de inox. Como se trata de uma “vinícola boutique” o objetivo é o de elaboração limitada e de alta qualidade. Tanto é assim que todo o processo de rotulagem dos vinhos ainda é realizado à mão por uma única pessoa.
Passeamos também pela cava, onde repousavam os vinhos que envelhecem em barricas de carvalho francês e/ou americano.
Para finalizar, seguimos para a sala de degustação onde foram apresentados e apreciados os seguintes vinhos: Don Próspero Sauvignon Blanc 2016, Don Próspero Tannat Maceración Carbonica 2016, Pizzorno Tannat Reserva2013, Pizzorno Select Reserva2013, Primo Pizzorno 2011 e ainda o Arazá Ice Wine.
Meus Preferidos
Don Próspero Sauvignon Blanc 2016
Um corte de três parcelas com diferentes graus de maturação do Sauvignon Blanc do vinhedo colhidos em épocas distintas. Vinho extremamente aromático. Frutas cítricas e notas de maracujá bem evidentes, bem como os toques herbáceos. É um vinho, simples, com o estilo da Nova Zelândia, “crisp” como eles dizem nos Estados Unidos, pois tem uma acidez marcante que dá vontade de morder. Vinho ideal para entradas. Fácil de beber e de agradar, pois é leve e refrescante.
Tannat Pizzorno Reserva 2013
Esse vinho teve estágio de 12 meses em barricas americanas e, apesar de ser recomendado para guarda, está pronto para beber. É aquele Tannat de cor típica: vermelho rubi bem intenso sem possibilidade alguma de ver o fundo da taça! (rsrsrs). Misto de frutas vermelhas e negras em compota com algumas especiarias. Depois que respira, é possível notar tabaco. Há também notas de tostado. É um vinho potente com taninos bem presentes e com boa acidez. A persistência é média.
Pizzorno Primo 2011
É o vinho ícone da Pizzorno. Um blend elaborado com a excelente colheita de 2006 das uvas Tannat, Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot. Cada uva dessa é vinificada em separado e passa 12 meses em carvalho francês. Depois do corte, estagia mais 8 meses em barrica. Sem dúvidas, não tinha como ser diferente. Este vinho já recebeu diversos prêmios e é sempre muito bem avaliado por diversos críticos. Não é à toa. Realmente é um vinho que merece respeito. O que me chamou atenção foi o equilíbrio entre frutas maduras e madeira e os taninos macios. A complexidade aromática também surpreende,por isso, vale à pena apreciá-lo com calma. Uma boa carne vermelha é uma boa dica de harmonização.
No Brasil, os vinhos da Pizzorno são comercializados pela Grand Cru.
Senderos del Tannat
Nem preciso dizer que amei a visita e o diferencial de ter sido atendida pelos próprios donos e de ter tido “aula” nos vinhedos. E olha que isso não é privilégio de blogueiro, viu? Na Pizzorno o atendimento é assim para todos! Para visitar a vinícola, eu contei com o apoio da Senderos del Tannat, única agência de turismo de Montevidéu especializada em enoturismo. Pra mim, foi perfeito porque eles organizaram a agenda para que eu tivesse a oportunidade de conhecer em único dia outras vinícolas também. Para saber mais informações sobre Sanderos del Tannat você pode entrar no site da empresa www.senderosdeltannat.com.
Fotos Pizzorno (Créditos: Guilherme Penchel)
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