O Brasil enfrentará a Alemanha nas quartas-de-finais de 2014 e chegou minha vez de falar aqui no blog sobre esse país europeu responsável pela produção de excelentes vinhos brancos. Ótima oportunidade também para tentar minimizar o triste preconceito que ainda existe no Brasil com relação aos vinhos alemães, decorrente de algo que costumo chamar de “efeito Liebfraumilch”.
Efeito Liebfraumilch – Quem frequentou festas de casamentos e outras grandes recepções na década de 80, sabe muito bem do que estou falando. Naquela época, o Liebfraumilch (tradução literal “Leite da mulher amada”) fez um enorme sucesso aqui no Brasil.Vendido estrategicamente em uma garrafa azul para facilitar a sua identificação – já que o nome era de difícil pronúncia – acabou sendo o responsável por iniciar muita gente no mundo do vinho.
No entanto, por ser um branco barato, sem personalidade e extremamente açucarado (tinha pelo menos 18g de açúcar por litro), o Liebfraumilch foi também o grande responsável pela dificuldade, que perdura até hoje, de se aceitar que a Alemanha é, sim, produtora de vinhos de alta qualidade e de que vale à pena pagar um pouco mais para experimentar seus vinhos.
Riesling, a rainha alemã – A Riesling é a casta alemã mais famosa e a mais plantada na Alemanha. A variedade representa cerca de 20% de todas as plantações. Os Riesling dos melhores produtores germânicos oferecem um equilíbrio único entre a acidez da fruta e sua doçura residual. Essa casta, no entanto, se expressa de forma diferente em cada uma das regiões alemãs devido a variações climáticas.
RegiõesViníferas – E, por falar, em regiões viníferas, a Alemanha tem 13. As mais famosas são o Mosel; o Rheingau; Rheinhessen; Pfalz e Nahe. No Mosel são encontrados os vinhos mais leves da Alemanha (geralmente com menos de 10% de álcool). As castas brancas dominam por completo a produção por ali, especialmente, a Riesling. Os vinhos desta região são facilmente identificados por virem em garrafas verdes, ao invés das marrons usadas nas outras regiões; Rheingau é uma região pequena, mas prestigiada. Foi lá que os vinhos brancos secos de estilo moderno começaram a ser produzidos a partir da década de 80; Rheinhessen é a maior das regiões viníferas alemãs e produz grande quantidade de vinhos simples, para o dia-a-dia. O Liebfraumilch, por exemplo, teve sua origem lá. Pfalz é também uma região grande e ganhou notoriedade não só por seus brancos de boa qualidade, mas também pelos seus tintos muito bons. Já Nahe também é conhecida por produzir Rieslings mais cheios e intensos.
Identificando os vinhos alemães de qualidade – Os melhores vinhos alemães têm procedência e possuem um Prädikat, isto é, uma indicação da maturidade das uvas na colheita. A lei alemã divide os Prädikat em seis níveis – da menos madura à mais madura, são eles: Kabinett – O mais leve dos vinhos Prädikat; Spätlese – Significa literalmente vinho de colheita tardia; são concentrados, mas não necessariamente doce; Auslese – Feitos de cachos de uvas supermaduras selecionadas individualmente, mas não necessariamente doces. Categoria que abrange a maior variedade de estilos de Rieslings. Beerenauslese (BA) – Feito a partir de uvas maduras de cachos selecionados individualmente; é um vinho raro e caro – vinhos doces de sobremesa; Eiswein – Literalmente vinho de gelo – vinho muito doce e elaborado a partir de uvas que são deixadas na videira até congelar; Trockenbeerenauslese (TBA) – Feito a partir de uvas passas, super doce, vinho tipo mel, difícil de produzir e muito caros. Então, resumindo: mesmo que você não fale alemão, se encontrar qualquer uma dessas seis palavrinhas nos rótulos de vinhos alemães, saiba que está diante de um vinho de excelente qualidade. Agora, atenção, porque os três últimos níveis de Pradikat são necessariamente doces, enquanto, os três primeiros podem ser secos ou doces. Uma outra observação importante é que a Auslese é a mais alta categoria para um vinho seco de qualidade.
Vinho indicado e avaliação – Eu já havia experimentando alguns bons vinhos alemães, mas quando estudei o nível 3 do Wine and Spirits Education Trust tive a oportunidade de experimentar um Spatlese que me atraiu bastante: o Jesuitengarten Riesling Spatlese Von Buhl Forster. O que mais me impressionou foi saber que esse vinho 100% Riesling, elaborado na região do Pfalz,tem estimativa de guarda de 15 anos – isso por conta da alta acidez. Na boca esse vinho é uma mistura de flores, abacaxi cristalizado e até mel. Tem uma acidez instigante, mas é extremamente equilibrado e com um longo final com toques minerais.Um vinho realmente delicioso de uma vinícola pertencente ao VDP (Verband Deutscher Prädikatsweingüter), que reúne os 200 melhores produtores daquele país. Sem dúvida, é um ótimo representante de um bom Riesling alemão. Esse vinho pode ser encontrado nas lojas Decanter e custa R$208,60.