“Nosso objetivo é criar vinhos que expressem todo o caráter dos tradicionais vinhedos e variedades do Douro”, revela o casal de enólogos portugueses Sandra Tavares e Jorge Serôdio, juntos pela primeira vez no Brasil para divulgarem o lançamento das novas safras dos vinhos que produzem à frente da própria vinícola Wine and Soul, localizada em solos durienses.
Vinho e Alma – Em almoço organizado pela Adega Alentajana (responsável por trazer os vinhos da Wine and Soul para o Brasil) em Brasília, com a presença dos enólogos portugueses, e na companhia de outros convidados, tive a oportunidade de entender um pouco mais da filosofia dessa empresa que em português significa – “Vinho e Alma”. Dessa forma, compreendi o porquê de como uma vinícola com pouco menos de 15 anos de idade, mas movida pela paixão, determinação, trabalho e idealismo de dois enólogos obstinados pelo terroir do Douro, conseguiram transformar um sonho – o vinho tinto Pintas – em um dos melhores e mais reconhecidos tintos de Portugal, reconhecido inclusive pela renomada publicação Wine Spectator, que conferiu 98 pontos ao vinho safra 2011 – a maior pontuação já concedida a um tinto português. Como se não bastasse, o vinho branco da Wine and Soul, o Guru, obteve 96 pontos da Decanter pela safra 2013, pontuação também inédita a um branco português.
Novo Douro – A região do Douro em Portugal ficou conhecida mundialmente pela produção do Vinho do Porto. Mas, hoje, por lá, além do tradicional e fortificado Porto encontram-se maravilhosos vinhos de mesa (chamados aqui no Brasil de vinhos finos), por isso, é chamada agora de Novo Douro. Sandra Tavares e Serôdio Borges me explicaram, então, que para produzir seus vinhos na região procuraram as melhores vinhas do Vale do Pinhão, o mesmo local de onde “surgem” os grandes vinhos do Porto, os Vintage. Eles acreditaram que um mesmo vinhedo usado para produzir um vinho do Porto de qualidade (composto por vinhas velhas de mais de 50 anos e por mais de 30 castas autóctones) seriam igualmente capazes de produzir grandes vinhos de mesa do Douro. Segundo eles, essa visão associada à ideia de pequena produção (os melhores vinhos raramente ultrapassam 5700 garrafas) e intervenções mínimas na vinícola, seria capaz de produzir um vinho que encantasse os amantes do Velho do Mundo tradicional, enfim, um vinho que expressasse de forma natural o seu verdadeiro terroir. E, na prática, é o que vem acontecendo com os vinhos da Wine and Soul.
Degustação e harmonização – Degustamos ao total 10 vinhos, seis deles produzidos exclusivamente pela Wine and Soul (Guru, Manoella, Quinta da Manoella, Pintas Character, Pintas e Porto Tawny) e outros quatro produzidos por Sandra ou Jorge em parceria com outras empresas onde prestam consultorias ou realizam parcerias. Todos os vinhos foram devidamente harmonizados com cardápio e pratos elaborados especialmente pelo Chef Francisco Ansiliero, do tradicionalíssimo Restaurante Dom Francisco (Asbac), que fez questão de servir pessoalmente os convidados. O menu foi composto de salada, costela de tambaqui, saltimboca da Amazônia, maminha de alcatra prime, ancho Prime, e mousse de chocolate.
Bem, mas vamos aos vinhos! Aqui vale uma observação. Infelizmente, me cabe a difícil tarefa de selecionar apenas alguns para este post. Em resumo – Guru, Pintas e Crochet foram os melhores dentre os melhores. Manoella e Mar de Lisboa, os melhores custo x benefício.
Guru 2014 – Branco fenomenal elaborado à base de vinhas com mais de 50 anos. É um blend de Gouveio, Viosinho, Rabigato e Códega do Larinho – todas uvas autóctones (típicas de Portugal). É um exemplar bastante mineral em razão dos solos de ardósia do Douro, toques cítricos e um final levemente cremoso e elegante, acredito que pela fermentação em barricas de carvalho franceses. O preço médio desse vinho é R$240. Apenas 5.700 garrafas são produzidas. Segundo os produtores, tem ótima capacidade de evoluir em garrafa. (Wine and Soul)
Pintas 2013 – Vinho inesquecível. Feito com 30 diferentes tipos de uvas de um único vinhedo de 79 anos. Vinho concentrado, carnudo, complexo e, ao mesmo tempo, elegante. Acreditem! Muitos toques de violeta e frutas negras maduras. Produzidas apenas 5.800 garrafas. Preço médio R$540. (Wine and Soul).
Crochet 2012 – Esse vinho, apesar de ser do Douro, não é da Wine and Soul, é um projeto paralelo da enóloga Sandra Tavares com a enóloga Susana Esteban. Gostei demais dele e achei o nome bem sugestivo: crochet (principalmente depois de saber que o Tricot já está sendo elaborado). Bem, mas não pense que é vinho feito para “mulherzinha”. É um ótimo exemplar do Douro, com taninos macios, mas presentes. Ele traz toda a intensidade da Touriga Franca e o toque floral (violeta) e a cor da Touriga Nacional. Espetáculo. Preço médio R$330.
Manoella 2013 – Vinho tinto expressivo e elegante. Taninos macios e frutas vermelhas bem delicadas e especiarias. Produzido com vinhas velhas de mais de 35 anos. Blend de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Francisca. Excelente preço x qualidade pelo que oferece. É vendido a R$140. São produzidas cerca de 10 mil garrafas (Wine and Soul).
Mar de Lisboa 2012 – Esse vinho é o que gosto de recomendar para o dia a dia. É frutado (bastante frutas maduras), mas a boa acidez equilibra o paladar, taninos macios e muito fácil de agradar e de harmonizar. Vinho simples e de ótimo preço R$45. Corte de Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca e Syrah. Produzido na D.O. Lisboa pela vinícola Quinta da Chocapalha, mas com consultoria de Sandra Tavares.
Sobre a Adega Alentejana – Em 1998, a Adega Alentejana abriu as portas do Brasil para os melhores produtos enogastronômicos de Portugal. Poucos anos depois a empresa se transformou na maior importadora de vinhos portugueses do país. Todos os vinhos que a Adega Alentejana trabalha são transportados em containers refrigerados e todos os seus depósitos são climatizados para garantir a perfeita conservação da bebida. Com uma visão de negócios arrojada, mesmo em meio às mudanças do cenário econômico nacional e internacional, a Adega Alentejana não parou de crescer. Para aumentar sua capacidade e qualidade de armazenamento, inaugura nesse segundo semestre de 2015 o novo centro logístico em Mauá. Com uma localização estratégica, pretende agilizar a distribuição e entrega de todos seus produtos.
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