Na hora de brindar a chegada do novo ano com familiares e amigos, um espumante é companheiro indispensável, não é mesmo? E é possível que você, leitor atento, não só tenha ficado com água na boca ao ler esta constatação como possivelmente pensou que estamos nos referindo ao champanhe, certo? Não necessariamente, pois um espumante não é sempre um champanhe.
Embora todo champanhe (ou champagne, as duas grafias são aceitas) seja um espumante, não é todo espumante que pode ou deve ser chamado de champanhe. Vamos explicar agora a confusão de termos, que é bastante comum entre os apreciadores mais novatos de vinho.
A segunda fermentação
O espumante é um vinho fabricado a partir de dois processos de fermentação natural: a alcoólica e a que gera a famosa efervescência. A primeira ocorre em todos os vinhos, em barris de carvalho ou tanques, quando acontece a transformação do açúcar presente na uva em álcool.
Já a segunda fermentação, que resulta nas características borbulhas frisantes (também conhecida como perlage) geradas pelo dióxido de carbono, pode se provocada por dois métodos. Um é o chamado Charmat, produzido em cubas de aço inox pressurizados. O outro é o método champenoise ou tradicional, na garrafa.
Champanhe é espumante de uma região específica
O champanhe é um espumante, pois passa por essas duas etapas de fermentação. No entanto, designa exclusivamente o vinho branco espumante de Champagne, uma região localizada no nordeste da França.
A denominação é uma Appellation d’Origine Contrôléé (Denominação de Origem Controlada – AOC), certificado que obedece a rigorosas regulamentações e fiscalizações das autoridades do país europeu. E a exigência também recai sobre os tipos de uva, sendo aceitas, principalmente, três: Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay. Também podem entrar no corte a Pinot Gris, a Pinot Blanc, a Arbanee e a Petit Meslier, mas são pouco utilizadas.
Para se ter uma ideia do rigor desse controle, já houve casos de empresas famosas que tiveram de modificar nomenclaturas por colidir com as normas. Um caso emblemático é o da marca de alta-costura Yves Saint-Laurent, que foi obrigada a recuar do batismo de um perfume com o nome Champagne.
O champanhe brasileiro
A Peterlongo, em Garibaldi (RS), na Serra Gaúcha, é um raro caso de vinícola que obteve chancela oficial para ostentar no rótulo de seu espumante o nome champagne. A autorização foi concedida na década de 70 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em Recurso Extraordinário de número 78.835.
O argumento usado pela empresa brasileira, e aceito pela mais alta corte de justiça do país após ação de um grupo francês, foi de que a produção iniciou-se antes de 1927, ano em que foi baixada a AOC.
A ação proposta pelas sociedades francesas foi julgada improcedente e ficou esclarecido, conforme trecho do processo, que:
“o precursor da fabricação de champagne no Brasil foi Manoel Peterlongo e que em 1916 não recebeu qualquer advertência para não fabricá-lo, e, que somente muito tempo depois, quando o produto nacional já se tornara famoso, é que se lembraram as autoras de opor-se ao uso da denominação”.
Assim, a Elegance Champenoise Brut, da Peterlongo, pode ser chamada de champagne brasileiro. Esse espumante é feito a partir de uvas Chardonnay e Pinot Noir e goza do prestígio de um vinho requintado entre os especialistas em vinhos.