“Menos é mais”. Com essas palavras Sebastián Bisquertt (foto), presidente executivo da vinícola chilena Bisquertt, conhecida no Brasil pelos vinhos La Joya, definiu o novo modelo de negócios da empresa durante almoço promocional realizado este mês no restaurante Coco Bambu, em Brasília. “A ideia é trabalhar com menos maturação da uva, menos álcool, menos doçura e menos madeira, tudo para que prevaleça o terroir da região”, explicou referindo-se à intenção de produzir, cada vez mais, vinhos com personalidade.
Consultoria internacional reconhecida – O almoço foi organizado pela Art du Vin, empresa que distribui os vinhos da Bisquertt na capital. Fui uma das convidadas para participar do evento e, na ocasião, além de conversar com Sebastián Bisquertt também tive a oportunidade de conhecer o italiano Alberto Antonini – renomado consultor internacional de Enologia que já atuou como chefe de duas grandes líderes mundiais do mercado europeu: a Antinori e a Frescobaldi. Antonini, que também é reconhecido mundialmente por ser o responsável pelo processo de reputação internacional dos vinhos Malbec da Argentina, é a grande aposta da Bisquertt para o sucesso do novo projeto.
Estilo próprio – Segundo Sebastián Bisquertt, a contratação de uma consultoria desse nível visa aperfeiçoar os métodos de vinificação da Bisquertt, uma vez que Antonini utiliza técnicas modernas, sem perder a tradição vitivinícola para desenvolver vinhos de alta qualidade, como é o caso do reconhecidíssimo vinho argentino Altos Las Hormigas, de sua responsabilidade. “Não queremos mais seguir um estilo, queremos criar o nosso próprio”, explica Sebastián empolgado com a filosofia adotada pela empresa.
Terroir único – A vinícola Bisquertt data de 1978 e foi uma das primeiras no Vale do Colchagua. Está situada na sub-região de Marchihue, local que tanto Sebastián como Antonini classificam como de “alto potencial para ser o melhor terroir de Colchagua”, devido às características do solo e a influência marítima. “Queremos explorar melhor esse terroir para produzir vinhos que expressem verdadeiramente o caráter único dessa região”, revelam.
Processo gradativo – A parceria de Sebastián com Antonini é recente, tem menos de um ano, mas a transformação do modelo de vinhos da Bisquertt já pode ser notada em alguns rótulos. No entanto,o CEO da empresa faz questão de ressaltar que se trata de um processo gradativo. “Não buscamos protagonismo. As adaptações estão sendo feitas de maneira suave. Estamos preocupados em oferecer vinhos de excepcional qualidade. Esse é nosso grande objetivo”, conclui.
Degustação – Durante o almoço, experimentamos sete vinhos: La Joya Sauvignon Blanc (R$53 – foto abaixo), La Joya Syrah Grand Reserva (R$53), Ecos de Rulo Carmenère 2012 (R$82), Ecos de Rulo Cabernet Sauvignon 2012 (R$82), Crazy Rows Cinsault 2013, Q Clay 2011 Syrah/Cabernet (R$151) e o Tralca 2010 (R$295). Todos à venda na Art du Vin.
Ausência de caráter herbáceo marcante – Algo que me chamou muita atenção nos vinhos da Bisquertt foi a ausênica do caráter herbáceo marcante, muito comum nos vinhos chilenos. O La Joya Sauvignon Blanc 2014, por exemplo, o primeiro a ser degustado, apresentou bastante volume em boca, boa acidez, boa persistência e notas herbáceas suaves, algo que não deixou o vinho enjoativo. Não se trata de um vinho excepcional, mas é um Sauvignon Blanc que merece destaque pelo que oferece e por seu ótimo preço: R$53. Sem dúvida, é uma boa relação custo X benefício e um vinho muito indicado para harmonizar com lagostas e mariscos.
Cabernet Sauvignon com estilo de Velho Mundo – Outro que gostei muito foi o Ecos de Rulo Cabernet Sauvignon 2012 (R$82). Ao beber esse vinho, sinceramente, não percebi nenhum traço de pirazina (sabor e aroma de pimentão verde), algo muito comum em vinhos Cabernet e Carmenère do Chile e facilmente identificado por pessoas que tomam vinho com frequência. Achei-o um vinho bastante equilibrado e com bom peso em boca. Um Cabernet Sauvignon com mais estilo de Velho Mundo do que do Chile. Minha surpresa foi saber que Antonini já está trabalhando para melhorar ainda mais este vinho e que o Ecos de Rulo da próxima safra ainda promete estar bem melhor do que este.
Adaptação à vista – Tralca 2010 – Bem, esse é atualmente o vinho top da vinícola – 58% Cabernet Sauvignon, 34% Carmenére e 8% Syrah. Sem dúvida um excelente vinho. Muito aromático e complexo. Os aromas remetem a frutas negras e vermelhas maduras e por ter estagiado 24 meses em barricas novas de carvalho francês é potente e recomendado para guarda. Com todo o conhecimento de Antonini e sua tendência a vinificar “em estilo Velho Mundo”, isto é, dispensando o uso do carvalho ou minimizando o tempo de estágio em barricas, acredito que esse seja um dos vinhos que será adaptado por ele para ganhar mais elegância.