Antes de entender os vários terroirs uruguaios é importante ter a noção de algumas informações preliminares. Por exemplo: o Uruguai possui excelente localização geográfica para produção de vinhos finos por estar situado entre os paralelos 30 e 35 no hemisfério sul, assim como Chile, Argentina, África do Sul e Austrália. Por ser pequeno, é possível cultivar uvas em todo seu território. Além disso, é o único país da América do Sul que possui um clima Atlântico, com elevada precipitação e umidade e que quase sempre dispensa a irrigação das videiras.
Outro aspecto importante é o fato de ser dividido em departamentos (como se fossem estados aqui no Brasil). Ao todo são 19. E, hoje, existem 1751 vinhedos distribuídos em 15 deles. Porém, é no departamento de Canelones (há 50km de Montevidéu) onde está concentrado 60% dos vinhedos uruguaios.
Também existe por lá uma divisão geral em nove regiões vitivinícolas: Norte, Litoral Norte, Noroeste, Litoral Sul, Zona Central, Central Este, Sudoeste, Sul e Sudeste. A divisão basicamente foi realizada em função de combinações de clima e solo, sendo este último fator o de maior variação. E a título de curiosidade: as cepas representativas mais cultivadas nessas regiões são: Tannat, Moscatel de Hamburgo, Ugni Blanc e Merlot. Recebem o selo de VCP – Vino de Calidad Preferente os vinhos elaborados a partir de variedades Vitis Viníferas de reconhecidade qualidade enológica. O termo foi regulamentado em 1983.
Terroirs Uruguaios na prática
Para entender na prática a influência dessas regiões vitivinícolas no vinho, fui convidada a participar de uma degustação exclusiva sobre os terroirs uruguaios. A iniciativa foi de Alejandro Dominguez, proprietário da Iberpark, boutique gourmet e loja de vinhos em Montevidéu que comercializa rótulos de mais de 40 vinícolas uruguaias. A explanação ficou por conta do jornalista especialista em vinhos Martin Viggiano que escreve para o blog de vinhos do jornal Observador e também para o blog da loja Iberpark.
Colonia (Região Sudoeste)
Primeiro degustamos dois vinhos do departamento de Colonia (região sudoeste). Onde a confluência dos rios Paraná y Uruguai formam o grande estuário da Prata frente às costas, gerando um microclima que adianta a colheita e melhora a maturação das uvas. Os solos são bem drenados, de fertilidade média a alta, assegurando um desenvolvimento das videiras que alcançam um equilíbrio com seu entorno. Os vinhos degustados foram o Pinot Viejo 2002 da Bodega Castillo Viejo e o Tannat Reserva 2013, de edição limitada, da Bodega Boutique El Legado.
Lavalella (Região Sudeste)
Seguimos para o departamento de Lavalella (região sudeste). Zona de serras com solos pedregosos e encostas íngremes que aportantam mineralidade aos vinhos e permitem a vinha drenar o excesso da água. A influência marítima também é importante para a expressão dos brancos e frescuras dos tintos. O Clásico foi o vinho degustado para representar a região.
Maldonado (Região Sudeste)
Depois fomos para Maldonado (também na região sudeste). O clima temperado, as baixas temperaturas noturnas durante a colheita (15 ºC) e as brisas oceânicas favorecem a síntese dos polifenóis e compostos aromáticos. O solo é franco arenoso e as encostas íngremes (15 a 25%) permitem drenar a água da chuva rapidamente. Os vinhos degustados foram o corte Tannat/Viognier Alto de La Ballena e o Tannat Serra Oriental. Ambos me impressionaram bastante pelo frescor.
Terroir Paysandú (Região Litoral Norte)
Passamos por Paysandú – Tanto em Salto como em Paysandú, departamentos situados no litoral norte do país, se encontra, durante o verão, um clima com temperaturas superiores durante o dia quando comparada ao sul. Isso permite amadurecer as cepas tintas com mais intensidade e em menor tempo. Também permite a síntese de açúcar completa, o que resulta em vinhos com graduação alcoólica maior do que a média nacional. O Tannat senza Crianza 2013 da Bertolini e Broglio foi o vinho que representou o terroir de Paysandú. Apesar do álcool chegar a 15%, o vinho estava equilibrado. Gostei muito!
Terroir Canelones (Região Sul)
E, ao final: Canelones – Este é o terroir ideal para a Tannat, e resulta vinhos equilibrados com taninos doces e excelente aptidão para guarda. Solo calcário com argilas expansivas que permite criar fendas durante o verão, o que facilita a oxigenação das raízes e mantém uma umidade constante no solo. Como eu já havida degustados vários tannats de Canelones, adorei a experiência de poder apreciar o Arinarnoa (cruzamento de Merlot e Petit Verdot) da Gimenez Mendez e o Pinot Noir da J.Chiappella.
Atualmente existem aproximadamente 200 vínicolas produzindo vinhos no Uruguai nas mais variadas zonas vitícolas. Essa oportunidade de aprender na prática a diversidade do terroir uruguaio foi realmente única e inesquecível.
Iberpark
Para quem vai passar pouco tempo no Uruguai e visitar poucas “bodegas”, dar um pulo na Iberpark para comprar bons vinhos uruguaios, dos mais diferentes terroirs, sem dúvidas é uma boa opção. A loja possui mais de 20 anos de história e possui mais de sete estabelecimentos espalhados por locais estratégicos de Montevidéu. O interessante é que os vinhos vendidos na Iberpark são comercializados pelo mesmo preço ou abaixo dos encontrados nas próprias vinícolas da região.
Sobre a Senderos del Tannat
A empresa é a única de Montevidéu especializada em enoturismo. O apoio dessa agência foi fundamental nessa viagem, pois eles entraram em contato com vinícolas, restaurantes, lojas, agendaram os horários e me levaram até os locais. Esse apoio foi fundamental para que eu pudesse conhecer vários lugares em pouquíssimo tempo. Eles possuem serviços de vans e também de carros exclusivos e oferecem ainda uma série de roteiros enogastronômicos. Vale uma visita ao site da empresa antes de ir a Montevidéu. Clientes da Senderos del Tannat ganham 10% de desconto nas compras realizadas em qualquer loja da Ibepark.