Com a vigência do acordo de livre comércio Mercosul-União Européia, firmado em Bruxelas no dia 28 de junho último, 92% das exportações do bloco sul-americano para o europeu serão isentas de tarifas em um período entre 8 e 12 anos (o mercado tem discordâncias quanto a esse prazo).
Já a União Européia terá zeradas tarifas sobre 91% dos produtos que exporta para o Mercosul. Os blocos representam, juntos, cerca de 25% do PIB mundial e um mercado de 750 milhões de pessoas. O acordo representará um incremento do PIB brasileiro em até US$125 bilhões em 15 anos, segundo o Ministério da Economia.
Como esse acordo também afeta a importação e exportação de vinhos, a importadora Casa Rio Verde, com sede em Belo Horizonte, fez um estudo sobre os reflexos no preço dos vinhos. Abaixo, segue entrevista com Gabriel Roberto, economista e Gerente de e-commerce da Casa Rio Verde.
Como a Casa Rio Verde está vendo esse acordo?
Acho que é uma oportunidade única. Se hoje o consumo de vinhos no Brasil é de 2 litros per capita, acreditamos que, no mínimo, esse número dobrará. O acordo vai dar uma nova dimensão ao mercado de vinhos no Brasil.
Que benefícios o acordo trará aos importadores de vinho?
Hoje o imposto de importação é de 27%, o que encarece muito o produto para os brasileiros. Com certeza, ele funciona como uma barreira para a popularidade do vinho no Brasil, dando maior espaço para outras bebidas.
Com o acordo, teremos benefícios a curto e longo prazo. No caso dos Champagnes, Crémants, Proseccos italianos e outros espumantes europeus com custo acima de 6 dólares, a proposta é que a alíquota do Imposto de Importação seja zerada imediatamente após a assinatura do acordo, mas particularmente acredito que isso demorará em torno de 2 a 3 anos.
Já em relação aos vinhos chamados “tranqüilos” e aos espumantes abaixo de 6 dólares a tarifa será zerada no período de 8 a 12 anos, de acordo com opiniões divergentes no mercado, embora eu creia que de fato poderá ser em 8 anos.
Isso significa que, excluindo a variação do euro, como se trata de uma redução linear, a alíquota da importação para o importador deve cair em torno de 3 a 4% ao ano durante oito anos resultando numa redução de até 20% no preço final ao consumidor.
O acordo traz outras facilidades também, poderia falar delas?
Na verdade, acho que o benefício vai ser maior que os 27% porque o acordo não abrange só redução do imposto de importação. Importante lembrar que ele acarreta várias outras obrigações, em cascata, pois existem diversas taxas, além do imposto. Por exemplo, hoje são utilizados 12 parâmetros relacionados a medidas sanitárias e fitossanitárias. Com o acordo serão quatro, o que vai simplificar e agilizar o processo e diminuir o custo, com a retirada de algumas taxas.
Como o acordo afeta a produção nacional de vinho?
A possibilidade do acordo levantou uma série de protestos dos produtores nacionais, que temem perder mercado. Para minimizar o problema, o governo anunciou no dia 4 de julho um pacto com incentivos bastante atraentes como a criação de um fundo para modernização do setor Segundo anunciado, os recursos do fundo virão do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente no setor (produtos importados e exportados) e poderão ser usados para renovação das lavouras, financiamentos, equalização de taxas de juros e melhoria da logística, entre outros.
O objetivo é preparar o setor para competir com os produtos da União Europeia.
Já que a redução da alíquota beneficia os dois lados, você acredita que os vinhos nacionais têm chance no mercado internacional?
Acho que sim. No caso da Europa, poderão ser comprados principalmente pelos países que não produzem vinhos, como Holanda, Bélgica, Reino Unido, entre outros. Vejo também alguma possibilidade em acordos que poderão ser firmados com os Estados Unidos e até mesmo o Japão, principalmente em relação aos nossos espumantes.
E como ficam as exportações de vinhos dos países do Mercosul para o Brasil ?
O Chile, que não faz parte do Mercosul, é o país número 1 nas importações brasileiras de vinho. A Argentina disputa com Portugal o segundo lugar. Realmente, esses países vão ter que repensar sua política de exportação, vão precisar ser mais eficientes em custos e qualidade se quiserem continuar a dominar o mercado brasileiro.
É preciso aguardar para ver as medidas que serão tomadas pelos governos desses países para que o produto não perca competitividade. Se nada for feito, com certeza eles perderão espaço aqui dentro do Brasil. Mas, resumindo, eu acredito que alguma coisa vai ser feita e os consumidores brasileiros serão também beneficiados com uma queda nos preços desses vinhos, neste caso por ganho de produtividade pelos produtores sul-americanos.
Que outras consequências o acordo trará para os países envolvidos?
Acho que o acordo trará mudanças no perfil agropecuário principalmente europeu. Será mais vantajoso para eles importarem, por exemplo, milho e carne do Brasil, que é muito eficiente no agronegócio, do que investirem em produção própria. Acredito que muitos produtores europeus vão mudar o foco de seu negócio, realocando a terra e a mão de obra para outras atividades em que têm mais eficiência. Alguns setores serão prejudicados, mas os benefícios, ao meu ver, serão maiores tanto para o mercado como para os consumidores.
Sobre a Casa Rio Verde
Com 30 anos no mercado, cinco lojas físicas na capital mineira, um e-commerce de vinhos de alcance nacional ( www.casarioverde.com.br ) e um clube próprio de assinatura (o primeiro e único de Minas Gerais), a importadora Casa Rio Verde tem como foco os vinhos europeus, que correspondem a mais de 50% dos 450 rótulos comercializados.