A World Wine, fundada pelo empresário Celso La Pastina (foto) em 1999, é hoje uma das três maiores importadoras de vinhos premium do Brasil. A empresa herdou a tradição e o prestígio conquistados pelo trabalho da família La Pastina (há quase 70 anos no Brasil no setor de bebidas e alimentos finos) e hoje têm seus rótulos (cerca de 2 mil) espalhados praticamente por todo o Brasil. Nessa entrevista exclusiva ao Blog Vinho Tinto, o empresário ítalo-brasileiro fala um pouco sobre os negócios do Grupo, defende a popularização do vinho e afirma que a “harmonização” é algo essencial para os profissionais, mas que não pode ser um dogma para os consumidores. Também deixa clara sua preferência por vinhos mais naturais e, confiante, afirma que no futuro os vinhos serão “menos concentrados, menos alcoólicos, menos amadeirados e menos maquiados”. Enfim, “mais vinho e menos coca-cola”. Confira a íntegra da entrevista:
Blog – A La Pastina é uma empresa que funciona há quase 70 anos no Brasil e hoje é considerada uma das principais importadoras de vinhos e alimentos “gourmets” do país. É verdade que o grande salto da empresa ocorreu na década de 90, com a abertura das importações? A importação de vinhos também ajudou no sucesso da empresa?
Celso La Pastina – Sim. Na verdade, tudo que temos hoje foi a transformação da nossa base anterior para marcas próprias e exclusivas, tanto em alimentos como em vinhos. Além desse fato, começamos a importar produtos antes proibidos como: massa italiana, arroz para risotto e por algum tempo queijos e presuntos.
Blog – Em 1999 foi criada a divisão de vinhos do grupo La Pastina, denominada “World Wine”, que é hoje uma das três maiores importadoras de vinhos premium do Brasil. Como funciona a World Wine?
Celso La Pastina – Hoje temos mil rótulos, que se transformam em mais de 2 mil vinhos, pois temos várias safras e tamanhos diferentes disponíveis. O perfil da nossa venda de vinhos é muito alinhado com o perfil da importação do Brasil. As diferenças estão relacionadas a questões de oportunidades e timing de chegada das nossas marcas no mercado.
Blog – Em 2011, o senhor também expandiu os negócios da família e tornou-se sócio da Enoteca Fasano com vistas a reforçar o posicionamento da empresa no segmento “luxo”. Hoje, três anos após a negociação, como o senhor avalia o investimento?
Celso La Pastina – Na verdade compramos a Enoteca Fasano e hoje não utilizamos mais a marca Fasano. Atualmente, as duas lojas se chamam World Wine. O investimento foi excelente, pois além de aumentarmos em 30% o faturamento, a iniciativa nos ajudou a consolidar o nosso trabalho nesse segmento de luxo.
Blog – É verdade que o Brasil é um mercado em ascensão quando o assunto é vinho? Explique, por favor, esse contexto.
Celso La Pastina – Um mercado em ascensão, pois a base era muito pequena. O consumo no Brasil ainda é pequeno e ainda tem muito potencial.
Blog – Hoje, no Brasil, se bebe cerca de 2 litros de vinho per capita (vinhos de mesa e finos). O que dizer de um número tão baixo e o que, em sua opinião, pode ser feito para mudar esse valor?
Celso La Pastina – O número oficial que tenho do Brasil em consumo de vinho fino é de 0,6 litros per capita – somando a importação e a produção nacional – mas o número é maior, pois há uma venda expressiva na fronteira e na importação privada dos consumidores durante as viagens internacionais. Mas no que diz respeito ao incentivo, acredito que o que pode ser feito é um trabalho de promoção para melhor aceitação do vinho – algo para torná-lo mais íntimo. Outra ação seria a diminuição dos impostos para um produto de consumo popular, como ocorre com a cerveja e com a cachaça. Por que não? Assim o vinho deixaria de ser considerado um um produto de elite.
Blog – Existe no congresso uma proposta para transformar vinho em alimento, o que poderia significar uma redução de carga tributária para o vinho de modo geral e torná-lo uma bebida mais popular. Acredita nesse tipo de iniciativa? Por quê?
Celso La Pastina – Mais do que ser transformado em alimento, o que dificilmente será aprovado pelo Ministério Público, acredito que o vinho deveria ser considerado uma bebida popular, a fim de aumentar a produção nacional e incentivar o consumo de uma bebida bem mais saudável.
Blog – Quais os critérios adotados por sua empresa na hora de selecionar um vinho para ser importado?
Celso La Pastina – O primeiro é a afinidade entre as pessoas e os vinhos. É uma trabalho impossível de se fazer se não houver isso. Claro que depois há os aspectos comerciais também, pois se trata de um negócio e tem de gerar resultados positivos.
Blog – Vinhos biodinâmicos, vinificação em ânforas de barro, vinhos feitos com uvas pouco conhecidas, como Cinsault, Carignan, Viogner – acredita que isso seja uma tendência? Há mercado no Brasil para esse tipo de vinho?
Celso La Pastina – Acredito muito. Fomos pioneiros nesse tipo de produto, mas acredito mais nos vinhos tradicionais feitos da forma mais natural do que em vinhos feitos de uvas pouco conhecidas.
Blog – Muitos produtores chilenos, inclusive, estão deixando de produzir vinhos “alcoólicos e amadeirados” para produzirem vinhos autênticos, sem passagem por barricas e que expressem mais o “terroir” chileno. Acredita que o Brasil que é o maior importador de vinhos chilenos do mundo irá se adaptar com facilidade à essa tendência?
Celso La Pastina – Espero que sim, e é nisso que acreditamos. Esse estilo faz parte do nosso trabalho e da nossa essência. Os vinhos do futuro serão com certeza muito mais naturais, menos concentrados, menos alcoólicos, menos amadeirados e menos maquiados. Serão mais vinho e menos Coca-Cola.
Blog – Com certeza, o senhor já atuou como “Wine Hunter” da empresa. Pode revelar qual foi a sua mais importante descoberta?
Celso La Pastina – A minha maior descoberta foi quando provei os vinhos do Philippe Pacalet (renomado produtor de vinhos biodinâmicos na Borgonha) e experimentei o primeiro vinho natural. Foi como passar a enxergar.
Blog – Quando o assunto é harmonização de vinhos e comida, qual é seu posicionamento? Prefere fugir às regras ou arriscar-se?
Celso La Pastina – Acho que a harmonização é fundamental, porém não pode virar um dogma e dificultar o acesso e o entendimento para o consumidor. É um benchmarking a ser seguido. Para quem é profissional é fundamental, porém para o consumidor deve ser tratado de uma forma bem leve e sem culpa de sentir que está cometendo um erro grave. Muito pior do que não harmonizar bem – e um erro gravíssimo – é comer com Coca-Cola.
Blog – Para finalizar, então, uma sugestão para os leitores do Blog Vinho Tinto (baseada em seu gosto pessoal) de um bom prato italiano harmonizado com um delicioso vinho italiano.
Celso La Pastina – Um Papardelle all’uovo da Rustichella com Ragu de carne, feito com pomodori pelati La Pastina harmonizado com Nebbiolo (um Langhe ou Barbaresco ou um Gattinara ou um Barolo ) do Paolo Scavino, Giancarlo Travaglini, Bruno Rocca , Icardi ou Roberto Voezio.