Entrevista com o Embaixador da Geórgia: “O vinho corre nas veias dos Georgianos”

Embaixador da Geórgia
Embaixador da Geórgia no Brasil, David Solomonia: “orgulho de nossa rica e histórica cultura vinícola”/

A história do vinho é imprecisa, já que a bebida foi criada antes mesmo da escrita. Mas estima-se que em algum lugar nas montanhas da Geórgia entre 8000 a.C. e 5000 a.C., um fazendeiro descuidado acabou esquecendo um punhado de uvas amassadas dentro de um recipiente. Com o tempo, as frutas sofreram fermentação, exalando um aroma típico que chamava a atenção de quem passava por perto. Alguém não resistiu e resolveu experimentar – glup! O resultado você pode conferir hoje, na sua taça!!

Não à toa, o símbolo do país é a Kartlis Deda (“Mãe dos Georgianos“, no idioma local), visível de todos os lugares da capital Tbilisi. A mensagem é clara: Para os amigos, vinho. Para os inimigos… a espada.

Para os amigos, vinho; para os inimigos: a espada
Para os amigos, vinho; para os inimigos: a espada

Nessa entrevista, realizada por Stéphane Queiroz, da Wine7, o Embaixador da Geórgia no Brasil, David Solomonia, fala sobre a cultura peculiar de seu país e a importância do vinho para seu povo, já que o país é considerado o berço do vinho no mundo, além de único em termos de preparação e fermentação feita em Qvevri recipiente de barro criado na Geórgia e usado para fermentar a uva. Solomon fala também de seu trabalho e o grande interesse em fazer da Geórgia o destino de férias para os brasileiros e os amantes do vinho. Confira a entrevista.

Leia também: Você conhece os vinhos da Geórgia?

Os vinhos georgianos têm despertado cada vez mais o interesse dos amantes do vinho no Brasil e no mundo? O que torna o vinho georgiano tão especial? 

Vinhos da Geórgia tem despertado o interesse do Brasil e do mundo
Vinhos da Geórgia tem despertado o interesse do Brasil e do mundo

Como georgianos, temos orgulho de nossa rica e histórica cultura vinícola. Posso citar como exemplo um método tradicional que tem vivido um renascimento: o qvevri – um vaso de barro usado para armazenar e envelhecer vinhos por milhares de anos – e que está se tornando o símbolo não oficial do país. A Geórgia é justamente considerada o “berço do vinho”. Arqueólogos rastrearam a primeira criação de vinho conhecida do mundo até 8.000 aC na Geórgia. Os primeiros georgianos descobriram que o suco de uva poderia ser transformado em vinho enterrando-o no subsolo. A palavra vinho vem do georgiano “gvino”. A Geórgia agora está se destacando no mercado natural de vinhos, o aumento do interesse pelos métodos tradicionais e o uso de argila para armazenamento e fermentação colocou o país na vanguarda da produção da bebida. Com clima e topografia únicos e mais de 500 variedades de uvas, você pode passar a vida desfrutando vinhos da Geórgia. Como diz o ditado, o vinho corre nas veias dos georgianos. Há uma lenda que relata como os soldados teciam um pedaço de videira na cota de malha protegendo o peitoral; assim, quando morriam em batalha, uma videira brotava, não apenas de seus corpos, mas de seus corações.

Quando falamos de vinho, já pensamos na comida com a qual vamos harmonizar, isso nos diz um pouco sobre comida típica da Geórgia e, se, como o vinho, existe alguma que faz parte da lista da UNESCO?

Vinho da Geórgia
Vinho e Gastronomia da Geórgia: magia deliciosa e requintada

As tradições de cada nação estão intimamente ligadas à sua cultura gastronômica e, é claro, não se pode mencionar o vinho georgiano sem mencionar a rica e deliciosa culinária georgiana. Abrangendo a antiga Rota da Seda, há um argumento sólido para considerar a comida da Geórgia como sendo a culinária de fusão original do mundo. Rica em história e sabor, a cozinha georgiana é uma das mais exóticas do mundo e a comida é principalmente caseira e orgânica. A cozinha georgiana é magicamente deliciosa e requintada, seus principais componentes são as características regionais, o produto original e as formas de preparação, que tornam os pratos georgianos inesquecíveis. A melhor maneira de experimentar a diversidade da culinária georgiana é viajar para a Geórgia, é claro, desfrutando do estilo de vida georgiano e descobrindo a paixão pela comida e pelo vinho. Um dos pratos georgianos mais populares, a tradição do Khachapuri, o pão em forma de barco cheio de queijo, foi inscrito no registro do Patrimônio Cultural Imaterial da Geórgia e atualmente o trabalho está em andamento para fazer a UNESCO proclamar a Tradição do Khachapuri como patrimônio cultural imaterial da humanidade. Hoje essa iguaria pode ser experimentada até mesmo no Brasil.

No dia 26 de maio é comemorada a data nacional da Geórgia. Como os georgianos comemoram essa data? Como o senhor descreve seu país?

Embaixador da Geórgia no Brasil
Embaixador da Geórgia no Brasil

26 de maio é o dia em que a República Democrática da Geórgia adotou o ato de independência, restabelecendo assim o Estado georgiano. Como em geral, o Dia da Independência está associado a concertos, feiras e cerimônias, além de vários outros eventos públicos e privados que comemoram a história e a cultura da Geórgia, mas no fundo de todos os georgianos é o dia de orgulho e compreensão do significado do sacrifício de nossos antepassados, seus feitos e sua luta para manter viva a ideia de independência por séculos. Quanto à descrição da Geórgia, como diz a lenda, quando Deus dividia a Terra entre os povos, os georgianos estavam atrasados, porque na época estavam colhendo as uvas para fazer vinho. Como estavam atrasados, Deus teve que dar aos georgianos a terra que ele guardava para si. E esta é a melhor descrição da Geórgia, um país com todas as variedades e cores da natureza disponíveis em todas as estações do ano; com habitantes alegres, calorosos e hospitaleiros e, claro, um vinho delicioso.

A Geórgia é o único país do mundo a ter o idioma georgiano como oficial. O Senhor poderia comentar um pouco sobre suas peculiaridades?

O idioma georgiano (kartuli ena) é realmente único e não tem nenhum vínculo com outros grupos de idiomas, consistindo também de subgrupos regionais de outros idiomas kartvelianos. E também não devemos esquecer o alfabeto georgiano único, um dos 14 alfabetos existentes no mundo, inscrito na lista representativa do patrimônio cultural imaterial da humanidade pela UNESCO. A evolução da linguagem escrita da Geórgia, a partir do século V, produziu três alfabetos – Mrgvlovani, Nuskhuri e Mkhedruli – que permanecem em uso até hoje. Mrgvlovani foi o primeiro alfabeto do qual o nuskhuri foi derivado; depois veio o mkhedruli, o alfabeto moderno. Os alfabetos coexistem graças as suas diferentes funções culturais e sociais, refletindo um aspecto da diversidade e identidade da Geórgia. Seu uso contínuo em um sentido cultural, também dá um sentimento de continuidade às comunidades.

O turismo na Geórgia é um segmento muito importante para o país. Em tempos de pandemia, quais são as perspectivas de promoção para o setor? E quais são as perspectivas para o crescimento do enoturismo entre o Brasil e a Geórgia?

passará a receber visitantes estrangeiros a partir de 1º de julho de 2020
Geórgia passará a receber visitantes estrangeiros a partir de 1º de julho de 2020

Antes de tudo, deve-se notar que a Geórgia conseguiu manter os casos do Covid-19 muito baixos, com baixo número de infecções e casos letais. Agora, o Governo da Geórgia, em coordenação com as instituições relevantes, estabeleceu diretrizes de segurança obrigatórias para a indústria do turismo visando garantir a segurança dos turistas no país e das pessoas empregadas no setor de turismo. De acordo com a decisão do governo, a Geórgia abrirá suas fronteiras criando “corredores verdes”, com a maior segurança e passará a receber visitantes estrangeiros a partir de 1º de julho de 2020. Durante o pico da pandemia na Geórgia, a indústria do turismo local ganhou uma experiência inestimável, que atualmente garante a prontidão do país como um destino seguro para atender adequadamente os turistas em conformidade com os protocolos internacionais de saúde e com padrões de segurança que nos dá a oportunidade de ser um dos primeiros países do mundo a abrir suas fronteiras para viajantes internacionais. Acreditamos que a bela natureza, as paisagens, os parques nacionais, o clima curativo e as águas minerais (especialmente importantes durante os tempos da pandemia), juntamente com a deliciosa culinária, os costumes de vinificação de 8 mil anos, a autenticidade e o patrimônio cultural único, a diversidade do país e as classificações de segurança superiores, transformarão a Geórgia em um importante destino de viagem para viajantes brasileiros, porque cada um desses aspectos juntos e separadamente representam o que os viajantes procuram no próximo destino.

Qual mensagem o Senhor deixa para os brasileiros que querem conhecer a Geórgia?

A Geórgia é o país da história antiga, da cultura e tradições entrelaçadas com um estilo de vida moderno. São milhares de anos de história, mitos e lendas, é a terra do “Velo de Ouro” e das montanhas do Cáucaso, onde Prometeu foi acorrentado. É o lugar do vinho e da comida deliciosa. Terra de pessoas hospitaleiras, onde todos podem encontrar seu próprio lugar. É importante ressaltar que os georgianos não são tão diferentes dos brasileiros. Com nosso temperamento e natureza, nós, como brasileiros, sempre tentamos encontrar uma visão otimista do mundo e sempre vemos o lado bom, mesmo nos momentos mais difíceis.

Colaboração: Stéphane Queiroz é enóloga e administradorta especialista em Comércio Exterior. É executiva de negócios do Consulado da Geórgia em Goiás e sócia da empresa Wine7.

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Quem Sou

Sou jornalista especialista em vinhos e em comunicação digital. Sou sommelier Fisar e diretora da Associação Brasileira de Sommeliers do DF. Possuo qualificação Nível 3 (Wine Spirit Education Trust) e o Intermediário do ISG. Também tenho certificado em vinhos franceses (FWS) e vinhos californianos (CWAS).

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