A avaliação de vinhos é algo tão complexo como o processo de elaboração de cada um deles. Por isso, sempre tenho muito cuidado ao julgar se um vinho é ou não bom. Quando não me agrada muito, prefiro usar a expressão “diferente”. Dia desses participando de uma degustação de vinhos do Rhône (Norte e Sul), com exemplares que ostentavam belos brasões nos rótulos e em relevo nas garrafas, eis que surge uma “figura dissonante”: o Domaine Fond Croze Côtes Du Rhône Villages Cuvée Romanaise 2010 – um vinho com um rótulo simples, preto com letras brancas e laranja, mas que não deixava de ser um Village de Cotês Du Rhone – categoria essa atribuída de forma rigorosa apenas aos vinhos com níveis mínimos de álcool e máximos de rendimento.
Apreciei o “vinho diferente” após degustar um Crozes Hermitage de 2003 do renomado produtor Paul Jaboulet Ainé: este, um vinho potente, intenso, com muita ameixa seca e especiarias. Sem dúvida, o melhor vinho da degustação. O Domaine Fond Croze, por sua vez, apresentou menos persistência em boca e potência e mostrou-se com um final de boca bem doce – algo muito incomum nos vinhos daquela região. Por ter vindo na sequência, acabou sendo totalmente ofuscado e considerado o pior vinho da degustação.
Ao final da confraria, fiz uma reflexão interessante junto com alguns confrades e levei em conta que o “vinho dissonante” não podia simplesmente ser taxado de ruim porque estava aquém dos demais na concepção geral (algo extremamente subjetivo inclusive). O vinho não estava estragado e não apresentava nenhum defeito, apenas oferecia uma proposta diferente – algo que literalmente já estava estampado em seu rótulo nada tradicional: queria romper paradigmas, ser um vinho mais moderno, mais comercial. Enfim, vinho “tipo exportação” para agradar os novos consumidores do Novo Mundo.
Mesmo tendo classificado o vinho apenas como “diferente”, ao pesquisar na internet, percebi que os produtores do Domaine Fond Croze Côtes Du Rhône Villages Cuvée Romanaise 2010 exportam grande parte do que produzem para os Estados Unidos e Austrália. Logo, confirmei minhas suspeitas. Enfim, eles podem até não agradar os tradicionais apreciadores de vinhos do Rhône (como os integrantes da Confraria da qual participo e na qual me incluo), mas vem atingindo seus objetivos comerciais. Em 2012, a própria revista inglesa Wine Spectator divulgou para o mundo ser o “vinho diferente” um dos 60 melhores custoxbenefício das safras 2009 e 2010 francesa(US$23) com a seguinte descrição: vinho definido, este tinto oferece notas de grafite que são executadas do início ao fim, junto com lotes de amora e groselha preta. A borda de maçã assada marca o fim.