Jura na França: vinhos únicos e castas pouco conhecidas

O Jura é uma região pouco conhecida pelos apreciadores de vinho e, por esse motivo, resolvi falar um pouquinho sobre ela aqui no Blog. Trata-se de uma região montanhosa que fica entre a Borgonha e a Suíça e exporta somente 10% da sua produção de vinho. No Jura é possível encontrar vinhos únicos, de castas pouco conhecidas e métodos de produção bem específicos.

Jura – França

Uma informação que eu adorei descobrir: a era Jurássica foi assim nomeada devido às montanhas da região do Jura, onde as argilas calcárias desse período foram identificadas.

As principais uvas brancas da região são a Chardonnay e a Savagnin, que tem um papel muito especial na produção do Vin Jaune, que vou explicar daqui a pouco. As castas tintas mais conhecidas são a Poulsard, Pinot Noir e Trousseau.

As seis denominações da região são: AOC Arbois, AOC Château-Chalon, AOC L’ Étoile, AOC Côtes du Jura, AOC Macvin du Jura e AOC Cremant du Jura.

Apesar da região produzir vinhos tintos, brancos e espumantes mais convencionais, vou falar dos três tipos bem característicos da região:

Vin Jaune

Vin Jaune

O primeiro deles é o Vin Jaune (vinho amarelo). Dizem que em suas grandes safras ele pode durar até um século!

É produzido exclusivamente a partir da casta Savagnin. Após a fermentação ser concluída, o vinho é armazenado em barris antigos, que nem sempre são completamente preenchidos. Não há controle de temperatura.

Esses barris não podem ser movidos por 60 meses e durante esse período, uma película de levedura se forma sobre o líquido (semelhante à flor do Jerez). Além de proteger o vinho do contato direto com o ar, ela transforma o acetato etílico e ácidos em aldeídos. Essa oxidação controlada produz vinhos com características únicas e com grande potencial de envelhecimento.

O vinho deve ser engarrafado após 6 anos e 3 meses depois da colheita em uma garrafa de 620ml conhecida como clavelin. Normalmente é servido em uma temperatura ambiente de 14-16 graus harmonizado com o queijo Comté, tradicional da região. A AOC Château-Chalon produz somente Vin Jaune.

O vinho da foto é um Château D’Arley, 2003 – AOC Côtes du Jura – e foi encontrado no restaurante Dom Francisco da Asbac, em Brasília. Estava delicioso. Aromas de amêndoas, nozes, mel, frutas secas.  Acidez alta e final longo. Gostei muito!

Na verdade, não é a primeira vez que o Vin Jaune aparece aqui no blog, tem outro post bem legal falando sobre ele (relembre aqui).

Macvin du Jura

O segundo vinho é o Macvin du Jura. Nesse caso não estou falando de um vinho propriamente dito (na verdade seria um “vin de liqueur” ou “mistelle”), já que ele é produzido pela adição de aguardente ao mosto não fermentado, que depois de fortificado, é envelhecido em tonel durante o mínimo de 10 meses e engarrafado com álcool entre 16 e 20%.

Macvin de Jura

O Marc é a aguardente utilizada no processo de produção e é obtido pela destilação dos bagaços do vinho do Jura. A lei exige que ela envelheça por no mínimo 14 meses em barrica antes de ser utilizada.

Todas as cinco uvas são autorizadas para a produção, tanto em sua versão tinta quanto branca, mas a mais comum é a branca com a casta Chardonnay.

O Macvin deve ser servido frio, entre 6 e 8 graus e muitas vezes é servido como aperitivo ou acompanhado uma sobremesa. Pode envelhecer até 20 anos e depois de aberto pode durar ainda algumas semanas.

Já tive a oportunidade de degustar um Macvin e foi uma experiência bem legal. Esse da foto foi encontrado na Fox importadora na 113 Sul.

Vin de Paille

Por último, vou falar do Vin de Paille (vinho de palha). Esse vinho pode ser elaborado com cachos de Chardonnay, Poulsard e/ou Savagnin, que são colocados para secar por no mínimo seis semanas. Alguns produtores ainda secam esses cachos em uma cama de palha, mas hoje em dia é mais fácil encontrar esse processo sendo feito em caixas de plástico ou madeira ou pendurados em vigas.

Vin de Paille
Vin de Paille

Durante esse período a fruta se desidrata concentrado os açúcares e compostos aromáticos. Entre dezembro e fevereiro as uvas são prensadas e o mosto não é fermentado por completo, produzindo um vinho naturalmente doce. O álcool mínimo é 14% e pode chegar a 15%. A partir daí, amadurece por 18 meses em barrica.

É liberado para venda após três anos sempre em meias-garrafas (375ml). Ele pode durar uma década ou mais dependendo da safra e deve ser servido frio (6 -8 graus).

Nunca tive a oportunidade de degustar esse vinho, mas espera-se encontrar aromas e sabores de laranja cristalizada, ameixa, mel e caramelo.

Bianca Dumas @vinhobonzao

 

 

 

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Quem Sou

Sou jornalista especialista em vinhos e em comunicação digital. Sou sommelier Fisar e diretora da Associação Brasileira de Sommeliers do DF. Possuo qualificação Nível 3 (Wine Spirit Education Trust) e o Intermediário do ISG. Também tenho certificado em vinhos franceses (FWS) e vinhos californianos (CWAS).

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