A Casa Grande Vinos y Bodegas foi outro local que visitei quando estive no Uruguai. Uma “bodega garaje”, ou seja, uma pequena vinícola que produz vinhos em quantidade reduzida que expressam um estilo próprio do seu produtor. Como grande parte das vinícolas uruguaias, está também situada no departamento de Canelones, bem pertinho de Montevidéu, pouco mais de meia hora de carro. A casa que deu origem ao nome da vinícola foi construída há mais de 60 anos e foi chamada “Casa Grande” por ser, na época, a maior da redondeza.
Quem me recebeu foi a Florencia De Maio, uma jovem estudante de Enologia, da terceira geração da família, e neta de Gaitán e Chica, primeiros moradores do local e responsáveis pela construção da “Casa Grande”. Muito alegre e simpática me conduziu direto aos vinhedos. Pelo caminho pude observar detalhes preciosos: equipamentos de vitivinicultura que hoje fazem parte da história da vinícola, e que até pouco tempo eram utilizados para fazer vinho de mesa. O lugar é tão encantador que nem o inverno conseguiu ofuscar sua beleza.
Sempre guiadas por Zippolo, o cachorro da família, fizemos um tour pelos vinhedos. Por ali, tive ciência de que no local eram cultivadas as seguintes cepas: Viognier, Albariño, Sauvignon Blanc, Tannat, Merlot, Cabernet Sauvignon e Arinarnoa. Alguns provenientes de clones franceses; outras de, sul-africanos.
Foi lá na pequena Casa Grande Vinos Y Bodegas que tive a oportunidade de conhecer de perto o sistema de condução do vinhedo em lira que, apesar de ter sido desenvolvido em Bordeaux, na França, tem tido excelentes resultados no Uruguai, proporcionando boa qualidade à uva e ao vinho. Muito interessante e muito bonito também!!!
Era uma quinta-feira de agosto pela manhã e, enquanto fazíamos o tour, o agricultor, proprietário da vinícola e pai de Florencia, Washington De Maio, arava a terra. Na visão da futura enóloga, ali estava represantado o pilar mais importante da empresa quando o assunto é microterroir: o homem na terra. “Neste caso, o homem que dá tudo por suas vinhas”, concluiu.
Em um breve momento de pausa, ele fez questão de nos cumprimentar, conversar um pouco, e fazer uma foto para o Blog. Tinha certeza de que com Florencia estavámos em ótima companhia.
Em seguida seguimos para a “garagem”, onde os vinhos são vinificados. (Aproveito para esclarecer uma questão. Na Casa Grande Arte e Vina, os vinhos são elaborados literalmente em uma garagem, mas para ser considerado um vinícola de garagem não é necessário que isso aconteça, vale, antes de tudo, o conceito que expliquei lá em cima, ok?)
Um pequeno galpão que abriga tanques de fermentação compactos, pulpitres para os espumantes, mesa para as etiquetas e uma sala para as poucas barricas de carvalho. Enfim, tudo em pequena quantidade e artesanal mesmo!!!
Depois fomos para a degustação, que acontece na “Casa Grande” e que é também a residência da família De Maio (leia-se Washington, sua esposa Francesca e Florencia), onde há uma sala construída especificamente para as degustações e para jantares especiais de até 15 pessoas. Além dos vinhos, deliciosos antepastos preparados carinhosamente por Francesca também nos aguardava: almôndegas, berinjelas, pães, tortillas e uma bela tábua de frios.
Iniciamos a degustação com o Albarino 2015. Como esse Albarino é um corte de 50% de vinho em barrica, ele tende a ser levemente untuoso, portanto, não é um albarino clássico, por assim dizer. No entanto, é um vinho bem interessante. É um misto de frescor, frutas brancas de caroço e manteiga. Ideal para acompanhar comidas à base de molhos brancos, por exemplo.
Seguimos para a linha Casa Grande Arte e Vinas: Sauvignon Blanc, Rosé, Merlot, Cabernet Franc e Tannat. Todos os vinhos dessa linha são extremante frescos e frutados. Pelo que percebi, a ideia é expressar o terroir e as características de cada cepa. O Sauvignon Blanc e o Merlot dessa linha foram os que mais se destacaram, em minha opinião. O primeiro pela acidez marcante, refrescância, notas cítricas e herbáceas em boca e nariz e pela boa persistência para um vinho de entrada. O Merlot por ser um vinho equilibrado, fácil de beber, harmonizar e de agradar, inclusive, pelas notas de morangos e cerejas e boa acidez. Além disso, os rótulos são lindos e levam a arte para a mesa, não é mesmo? Os desenhos são do artista plástico uruguaio Gaston Izaguirre que personificou cada um dos vinhos baseando-se na procedência dos clones das cepas que os compõem.
Em seguida, experimentamos o Tannacito. O vinho ícone da vinícola. A produção é de apenas 300 garrafas!!! É um vinho que estagia 16 meses em carvalho francês. Apresenta um misto de frutas negras e vermelhas maduras com um misto de chocolate e especiarias, ao mesmo tempo, tem algo de fresco. Os taninos são presentes, mas não agridem. A persistência é boa.
Ao final, junto com o Cristian Safie, proprietário da Senderos del Tannat, agência especializada em enoturismo de Montevidéu, brindamos mais uma enoamizade!
Infelizmente, os vinhos da Casa Grande Vinos y Bodegas ainda não são importados para o Brasil. Quem sabe em breve? Vamos torcer, pois “Vale la pena!”, como dizem os uruguaios!
Senderos del Tannat
Aproveito para falar um pouco do trabalho da Senderos del Tannat. A empresa é a única de Montevidéu especializada em enoturismo. O apoio dessa agência foi fundamental nessa viagem, pois eles entraram em contato com as vinícolas, agendaram os horários e me levaram até os locais. Esse apoio foi fundamental para que eu pudesse conhecer vários lugares em pouquíssimo tempo. Eles possuem serviços de vans e também de carros exclusivos e oferecem ainda uma série de roteiros enogastronômicos. Vale uma visita ao site da empresa antes de ir a Montevidéu.
Mais fotos da Casa Grande (Fotos: Guilherme Penchel)
Fotos da Casa Grande Vinos Y Bodegas
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