Entrevista com Pablo Miranda Roger: Vinhos, Desafios Climáticos e o Mercado Brasileiro
Pablo Miranda Roger é um renomado enólogo espanhol que trabalha com vinícolas em diversas regiões da Espanha, criando rótulos que têm se destacado pela qualidade e inovação. Em uma conversa franca, ele nos contou sobre os desafios que enfrenta ao produzir vinhos em diferentes terroirs, as questões climáticas que afetam a viticultura global, e compartilhou sua visão sobre o mercado de vinhos brasileiros. Também discutimos a importância dos vinhos de corte, o impacto das novas gerações de consumidores e o que faz de certas regiões vinícolas da Espanha um verdadeiro tesouro a ser descoberto. Abaixo, confira a entrevista completa com perguntas e respostas.
1. Como você trabalha com consultoria para vinícolas em várias regiões?
Eu presto consultoria para vinícolas em diferentes regiões porque é preciso entender o mercado e saber quais vinhos estão tendo sucesso. A experiência de estar sempre em contato com as vinícolas, com o mercado, e com pessoas do setor, como chefs e especialistas, me ajuda a capturar a essência do vinho e a adaptar a produção às novas tendências e necessidades dos consumidores.
2. Como a mudança climática impacta a produção de vinhos?
A mudança climática afeta muito a produção, especialmente com a variabilidade nas temperaturas e chuvas de um ano para o outro. Quando se trabalha com vinhos de uma única variedade, é necessário usar muita energia e química para compensar essas mudanças. Por isso, eu vejo o futuro na criação de vinhos de corte (blends), que conseguem se adaptar melhor a essas dificuldades climáticas, além de focar em vinhos ecológicos e artesanais.
3. Qual é a importância dos vinhos de corte em comparação aos varietais?
Os vinhos de corte estão se tornando uma tendência porque oferecem mais equilíbrio e flexibilidade diante das mudanças climáticas. Quando você trabalha com diferentes variedades de uvas e terroirs, consegue um produto mais estável e interessante para o mercado. As pessoas às vezes acham que os varietais são superiores, mas os vinhos de corte trazem uma riqueza que muitas vezes é subestimada.
4. O que os consumidores brasileiros valorizam nos vinhos europeus?
O Brasil tem uma conexão forte com Portugal, mas os brasileiros também amam a Espanha. A cultura espanhola, com ícones como o Real Madrid, o Barcelona e nossa gastronomia, é muito admirada. Acredito que estamos apenas começando a ver o vinho espanhol crescer no Brasil, e com o excelente custo-benefício que eles oferecem, há um grande potencial para aumentar essa presença.
5. Quais vinhos espanhóis têm um bom custo-benefício no Brasil?
Eu destacaria vinhos como o “El Turra Blanco” de Toro, que tem uma boa relação custo-benefício e é uma novidade no mercado brasileiro. Também temos vinhos como os de Requena e da Ribera del Duero, que são muito bem avaliados e funcionam tanto em lojas quanto em restaurantes.
6. Quais uvas são mais importantes na Espanha?
A uva Tempranillo é a mais reconhecida e especial na Espanha. Além dela, estamos trabalhando com Garnacha e introduzindo novas variedades de uvas brancas no mercado, para que o público conheça mais opções.
7. Quais vinhos excepcionais você recomendaria para apreciadores?
Estamos trazendo um novo rótulo ao Brasil, o “Día de Laira” da vinícola Requena, que é uma novidade top de linha. Também temos vinhos excepcionais da Ribera del Duero, que possuem muita harmonia e expressão.
8. Qual é a sua opinião sobre o vinho brasileiro?
Acho que o vinho brasileiro não deve ser comparado diretamente com o vinho europeu. O Brasil está em fase de desenvolvimento, e precisa criar suas próprias regras, métodos e palavras. O foco deve ser agradar ao público brasileiro e aumentar o consumo local. Com o tempo, o vinho brasileiro ganhará mais reconhecimento, assim como os queijos de Minas Gerais, que hoje são premiados mundialmente.
9. Quais regiões da Espanha você acredita que têm grande potencial, mas ainda são pouco conhecidas?
Eu sou um grande fã dos vinhos de Toro. É uma região pequena, mas está ganhando muita atenção no mundo. A Espanha tem muitas regiões com vinhos incríveis, e cada área tem características que se destacam. Ribera del Duero, por exemplo, é uma região com terroirs excepcionais.
10. Como é sua relação com a importadora Del Maipo no Brasil?
Comecei a trabalhar com a Del Maipo há cerca de 11 anos. Eles têm uma excelente seleção de vinhos espanhóis, e hoje a maioria dos vinhos espanhóis da Del Maipo conta com a minha assessoria. É uma parceria muito boa, que permite trazer vinhos de alta qualidade ao mercado brasileiro.
Essa entrevista ilustra a visão de Pablo Miranda Roger sobre a diversidade da viticultura espanhola, os desafios climáticos enfrentados pelos produtores de vinho e suas percepções sobre o futuro do mercado de vinhos brasileiro.
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