A estada em Mendoza foi relativamente curta (sete dias), mas suficiente para conhecer locais maravilhosos e extremamente importantes na produção de vinhos de qualidade. Depois de um breve passeio pelo Valle do Uco (relembre aqui), fui visitar Luján de Cuyo, província situada a 30km do centro mendocino, uma área especial, localizada bem aos pés da Cordilheira, em cujos solos de cascalhos e seixos desintegrados das rochas dos Andes estão concentradas 40% das bodegas (vinícolas) argentinas abertas à visitação, dentre elas, as conhecidas Catena Zapata, Alta Vista, Chandon, Norton e Luigi Bosca.
Veja fotos da visita à vinicola Alta Vista, clicando aqui.
Terra do Malbec – Luján de Cuyo é uma região situada entre 900 e 1.100 metros de altitude aos pés dos Andes. Esse fato, aliado às características genéricas do clima e do solo da região, confere ao local a fama de ser uma área produtora de vinhos potentes e com muita concentração de cor e de frutas. Muitos vinhos dali costumam se destacar pela complexidade aromática, inclusive com matizes florais e herbáceos. Por conta da significativa adaptação da casta francesa Malbec ao local (mais até do que no seu próprio habitat natural em Cahors na França), Luján de Cuyo passou a ser conhecida como a “Terra do Malbec”.
Quatro circuitos – Para facilitar o acesso dos turistas às vinícolas, o governo local dividiu Luján de Cuyo em quatro circuitos: La Historia, El Río, Cordón del Plata e El Sol – segundo sua história, localização geográfica e entorno natural, respectivamente. De toda forma, resolvi levar em consideração os conselhos de vários blogs de viagem e continuar o passeio com um carro guiado pelo Juan Mercado, motorista da Nossa Mendoza, agência especializada nesse serviço de transporte especial – algo que recomendo muitíssimo a quem quer desfrutar de Mendoza com conforto e comodidade. (Ressalto aqui que como a gente se empolga nas degustações e lojinhas das vinícolas, o motorista além de ser super útil por estar sempre sóbrio e por encontrar os endereços com muita facilidade, ainda é um excelente auxiliar no controle do tempo, evitando que a gente perca o horário dos demais compromissos previamente agendados).
Cordón de Plata – Falarei agora sobre três vinícolas (Pulenta Estate, Catena Zapata e Ruca Malén) que integram o circuito “Cordón de Plata”. O nome do circuito deve-se ao famoso cordão montanhoso onde se encontra o Cerro El Plata. Seus cumes nevados o ano todo formam uma paisagem inigualável. Muitas vinícolas que estão nessa área têm explorado este recurso construindo suas sedes de frente para essa belíssima vista.
Pulenta Estate – Esta é uma vinícola jovem que foi instalada em 2002. Pertence aos irmãos Hugo e Eduardo, filhos de Antonio Pulenta, que foi um dos donos da famosa vinícola Trapiche, uma das maiores da Argentina. Quando se chega perto do local, o que mais impressiona é a paisagem, para mim uma das mais belas de toda o percurso.
Agradável Surpresa – Apesar da aparência simples e pequena da sede, a Pulenta Estate é uma bodega que surpreende. É, na verdade, uma vinícola de médio porte, com produção anual de 600 mil litros de vinho. Suas instalações e equipamentos são muito modernos. A questão é que tanques de cimento, aço, madeira, barricas de carvalho, enfim, toda a parte de vinificação, se encontra no subsolo da sede.
Roll Fermentors – É uma das poucas vinícolas da Argentina que conta com os modernos e caros tanques de fermentação giratórios, os roll fermentors. Seus tanques tradicionais também estão conectados uns com outros de forma a permitir a ação da gravidade no transporte do vinho sem o uso contínuo de bombas, o que minimiza o risco de oxidação da bebida.
Visitas e Degustação – As visitas à Pulenta Estate duram cerca de uma hora (com a degustação). O preço varia de 90 a 150 pesos por pessoa de acordo com a degustação escolhida. Paguei 150 pesos, degustei os melhores vinhos: Pulenta Estate branco, Gran Pinot Noir, Gran Malbec, Gran Cabernet Franc e Gran Corte e ainda participei de uma interessante brincadeira sensorial às cegas.
Meu Destaque – O Sauvignon Blanc Pulenta Estate 2014 (120 pesos) da vinícola foi o que mais me impressionou: super equilibrado, fresco, frutado e com acidez excelente. Também pudera, é elaborado com o blend (mistura) de uvas da mesma vinha, mas colhidas em três momentos distintos: uvas mais verdes (para garantir os sabores herbáceos), uvas normais (pelos sabores cítricos) e uvas mais maduras (pelo dulçor). No Brasil, os vinhos da Pulenta são importados pela Grand Cru.
Confira mais fotos da visita à Vinícola Pulenta Estate aqui.
Catena Zapata – Essa é a vinícola mais procurada pelos turistas brasileiros que visitam Mendoza. Por lá, descobri que o formato de pirâmide da sede é uma homenagem à cultura maia e foi ideia de um dos personagens mais famosas da vinicultura argentina e que é também amante de História: Nicolas Catena, neto do imigrante italiano de mesmo nome, que em 1899 iniciou o projeto dessa que seria a principal produtora de vinhos populares da Argentina. A Catena Zapata integra o Grupo Esmeralda, uma gigante que produz mais de 60 milhões de litros de vinho por ano.
Visita – De forma diferente das outras bodegas, na Catena Zapata não são realizados passeios pela parte produtiva da vinícola, mas só por sua sede, construída com pedras das montanhas. Primeiramente, os visitantes são convidados a assistirem a um vídeo de cinco minutos que conta a história da empresa e, em seguida, inicia-se a visita em si. Um dos grandes atrativos dessa bodega é a bela vista que se tem do topo da pirâmide para os vinhedos e a Cordilheira. No entanto, não fui informada disso durante minha visita. Resultado: só fiquei sabendo da existência do terraço quando deixei o local e perdi a oportunidade de tirar ótimas fotos. Uma pena!
Degustação da linha Premium – Optei por fazer a visita com a degustação da linha Premium (Angelica Zapata Chardonnay, Angelica Zapata Malbec, Angelica Zapata Cabernet Sauvignon e um Nicolas Catena) que custa US$100 por pessoa mas infelizmente, a falta de um serviço adequado (temperatura irregular, ausência de decanter e tempo curto para o vinho respirar na taça) atrapalhou uma melhor apreciação dos vinhos.
Meu destaque – Mesmo com todas as falhas no serviço, seria injusto não registrar que o Nicolas Catena 2010 (710 pesos) surpreendeu positivamente. Mostrou-se imponente no nariz e na boca, complexo, com mesclas de frutas vermelhas e negras maduras, inclusive certas especiarias, e interessantes toques de tostado, que não se sobrepuseram à fruta do vinho. Os taninos mostrarem-se muitos macios. No Brasil, os vinhos da Catena Zapata são importados pela Mistral.
Veja mais fotos da visita à Catena Zapata, clicando aqui.
Ruca Malén – Essa imponente e moderna vinícola tem capacidade para produzir 1 milhão e duzentos mil litros de vinho por ano. Foi fundada em 1998 por experientes empresários da área vitivinícola, Jean-Pierre Thibaud (ex-presidente da Chandon Argentina) e Jacques Louis de Montalambert (de família tradicional da Borgonha). Minha visita ao local aconteceu na hora do almoço, algo que recomendo a todos para que possam conhecer o inesquecível menu harmonizado do restaurante de lá, que foi o ganhador da medalha de ouro do reconhecido prêmio “Global Best of Wine Tourism” e tornando-se internacionalmente conhecido como o melhor restaurante em vinícola do mundo. Os almoços são realizados diariamente sempre às 12h30min e às 13h.
Pelas videiras – Mesmo quem vai para almoçar tem direito à visita guiada às instalações da bodega. O interessante é que nesse passeio, além de conhecer o maquinário e o processo de vinificação e amadurecimento dos vinhos, os visitantes também passam pelas videiras, o que permite ver de perto o famoso sistema de irrigação utilizado em Mendoza – algo fundamental em uma área desértica com índices pluviométricos que não chegam a 200 mm anuais.
Almoço em alto estilo – Para almoçar no restaurante da Ruca Malén é indispensável fazer reserva. O menu do almoço é fixo, custa 600 pesos por pessoa, inclui dois aperitivos, entrada, prato principal e sobremesa – tudo harmonizado com os vinhos produzidos na vinícola. O cardápio varia a cada estação e é elaborado em conjunto pelo chef Lucas Bustos, pela sommelier da casa Eugenia de la Iglesia e pelos diretores da vinícola.
Leia o post “Almocei no melhor restaurante em vinícola do mundo. Veja como foi.”
Meu Destaque – O melhor de todos os vinhos degustados na Ruca Malén foi o Kinién 2010 Malbec. Proveniente de antigos vinhedos cuidadosamente selecionados, é equilibrado e tem muita personalidade. Possui intensos aromas de frutas vermelhas e leves toques de tabaco e tostado decorrentes do estágio de 14 meses em barricas francesas. Sem dúvida,o Kinién, ou seja,o único – tradução literal do nome escolhido em linguagem mapuche. No Brasil, os vinhos da Ruca Malén, são importados pela Hannover Vinhos.
Confira mais fotos da Vinícola Ruca Malén, clicando aqui.
Nossa Mendoza – Todos os passeios narrados aqui e na parte I do Especial Mendoza tiveram reservas efetuadas antecipadamente pela equipe da Nossa Mendoza. A empresa é formada por uma jovem equipe de argentinos, todos profissionais da área de Turismo, que atende exclusivamente turistas brasileiros. A agência é especializada em elaboração de roteiros personalizados e possui carros novos e motoristas/guias que realizam traslados e passeios nas regiões vinícolas de Mendoza, inclusive nas belas montanhas da região.
Leia também: Especial Mendoza: um oásis aos pés da Cordilheira (parte I)
Especial Mendoza: Visitando Maipú, a primeira zona dos vinhos (parte III, última)
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