Sempre fui encantada com os vinhos da Borgonha e mais recentemente comecei a apreciar muito os vinhos de Beaujolais, principalmente os provenientes dos Crus que fazem parte dessa denominação (relembre como foi a degustação dos dez Crus de Beaujolais aqui). Por esse motivo, fiquei muito feliz quando o Blog Vinho Tinto foi convidado pela Interfood para participar do almoço de apresentação dos vinhos da Maison Louis Jadot com o seu Diretor de Exportação, Nicolas Dupuis, no restaurante Lago, em Brasília.
Degustação dos Vinhos
Foram degustados quatro vinhos e falarei dos que eu mais gostei. O primeiro é o Couvent des Jacobins Bourgogne Chardonnay 2016!
Trata-se de uma apelação regional que permite a utilização de uvas de todas as partes da Borgonha. Elaborado um com blend de uvas provenientes da Côte d’Or, Chalonnaise e Viré-Clessé, mais nova denominação de Mâconnais criada em 1999. A fermentação ocorreu em barricas, sendo que 1/3 são novas e além disso, permaneceu em contato com as borras durante 15 meses antes do engarrafamento. É um vinho que me agradou muito pelo seu frescor, com aromas de intensidade média alta, apresentando maçã, limão, baunilha, um leve tostado. A acidez é média alta, o corpo médio baixo e o final médio. É um ótimo exemplo de Chardonnay da Borgonha para quem quiser conhecer um pouco mais das suas características essenciais. Harmoniza bem com saladas e com pratos de frutos do mar mais leves. Super fácil de beber! Pode ser encontrado por cerca de R$ 149.
O segundo vinho que me chamou atenção foi o Louis Jadot Pommard 2013.
Pommard é uma denominação comunal que se encontra na Côte de Beaune, em encostas que variam entre 240 e 380 metros de altura. Somente são elaborados vinhos tintos de Pinot Noir com essa denominação, que possui 28 vinhedos Premiers Crus e nenhum Grand Cru. O solo é composto de argila calcária com uma boa parcela de barro vermelho, que produz vinhos de cores e aromas intensos. Normalmente, precisam de alguns anos para amaciar os taninos e para demonstrar seu potencial. Com o passar do tempo, aromas de caça e couro podem ser notados. O vinho degustado envelheceu por 18 meses em carvalho, sendo que 1/3 são novas. Apresentou boa estrutura e complexidade aromática. Foi possível notar frutas silvestres como amoras, mirtilos e cerejas negras. Além disso, notei chão florestal e aromas que me lembraram cogumelos e ervas frescas. A acidez e tanino eram médio altos com um final bem persistente. Um vinho que gostei muito com muito potencial de envelhecimento! Toda a tipicidade estava lá! Ótimo rótulo e que representa bem essa denominação! Pode ser encontrado por a partir de R$ 536.
Ainda na Borgonha, degustamos o Couvent des Jacobins Pinot Noir 2015, que pode ser encontrado por cerca de R$ 149. De Beaujolais, foi possível conhecer o Moulin-à-Vent Château des Jacques 2013, por aproxidamente R$ 189.
Maison Louis Jadot
A Louis Jadot tem mais de 150 anos de experiência e possui vinhedos desde 1826, que se estendem pela Cote D´Or entre Chenôve (ao sul de Dijon) Satenay, uma das últimas AOCs da Côte de Beaune antes de chegar na Côte Chalonnaise na Borgonha. Suas propriedades compreendem cerca de 250 hectares de vinhedos, sendo 53 hectares de Premiers Crus e 8,40 hectares de Grand Crus.
A política de vinificação é de intervenção mínima nos vinhedos e adegas, priorizando a expressão do terroir em seus vinhos e atualmente distribui para mais de 120 países.
Saiba mais sobre a Borgonha
Não tem como falar dos vinhos da Louis Jadot sem falar da Borgonha, que é reconhecida por seus vinhos únicos e valorizados mundialmente. Esta região é dividida entre Chablis, Côte de Nuits, Côte de Beaune (essas duas últimas conhecidas como Côte D´Or), Côte Chalonnaise e Mâconnais. Com aproximadamente 225km de extensão entre Chablis e Mâconnais, aplica o seu conceito de terroir de forma cuidadosa e criteriosa. Para se ter uma ideia, apesar de representar cerca de 6% da produção francesa de vinhos, a Borgonha possui aproximadamente 20% das AOCs francesas e quase todas as suas parcelas de terreno são classificadas, atestando assim a singularidade dos vinhos de cada local.
Isso tudo começou quando os monges que lá habitavam começaram a perceber que parcelas diferentes de terrenos produziam vinhos com diferentes caraterísticas entre si e começaram a catalogar essas descobertas. Muitos dos principais vinhedos foram registrados justamente na Idade Média, quando a igreja dominava a exploração vitivinícola. Por exemplo, o Clos de Bêze foi nomeado em 630 D.C e o Corton, em 775C.C. Curiosamente, nessa época, o vinho utilizado nas missas era branco!
As principais castas da Borgonha são a Chardonnay (branca) e a Pinot Noir (tinta) e seu solo é composto predominantemente de calcário e marga (argilas ricas em calcário) e seu clima pode ser considerado semi-continental. Vale ressaltar que o solo dessa região é extremamente fragmentado, tendo em vista as diferenças entre as pequenas parcelas de terrenos, mesmo que um esteja bem próximo do outro. Por esse motivo, o sistema de classificação da Borgonha chega a alcançar o nível de vinhedo e é dividido da seguinte forma: AOCs Regionais, AOCs Comunais (ou Village), Premiers Crus AOCs e Grand Cru AOCs (da zona mais geral para a mais específica). Repare que a classificação mais genérica da Borgonha é uma AOC! Não existe um IGP da Borgonha!
Outro ponto de extrema importância na Borgonha é a orientação e exposição solar de seus vinhedos, sendo que os melhores estão plantados nas encostas com orientação para o leste. Em linhas gerais, o topo das encostas são destinados aos vinhos Premiers Crus, no meio das encostas estão localizados a maioria dos Grand Crus e a parte inferior e mais plana é destinada para as denominações Comunais e Regionais.