Pelo fato de participar constantemente de eventos, cursos e confrarias relacionadas ao “enomundo“, tive a oportunidade de apreciar inúmeros vinhos especiais em 2014. Mas, sem dúvida, houve os que se sobressaíram por sua história, procedência, aromas e sabores, ou por tudo isso junto. Selecionei 10 deles, e todos já foram apresentados aqui no blog. De toda forma, por terem sido tão interessantes, faço questão de destacá-los novamente. Confira:
Plavac Mali Korta Katarina 2007 (Croácia):
Esse vinho croata da nativa Plavac Mali (variedade ligada à uva Zinfandel, também conhecida na Itália por Primitivo) apresenta imensa complexidade no nariz: frutas vermelhas e negras maduras, especiarias, ervas e folhas secas que lembram chá. Sabores realmente interessantes com toques exóticos, eu diria. A boa acidez e os taninos macios são destaques. Bebi esse vinho na época da Copa do Mundo em homenagem ao jogo de estreia do mundial Brasil X Croácia (relembre aqui) e achei super interessante ter tido a oportunidade de apreciar um excelente vinho croata. Confesso que percebi pouca semelhança com o típico Zinfandel da Califórnia, que normalmente é mais doce e menos herbáceo, mas encontrei alguma semelhança com um bom Primitivo di Manduria, com muita pigmentação e notas de especiarias e ervas secas. Preço: R$338,60 (Importadora: Decanter)
100 Barricas de Chile (Chile):
Esse vinho vale pela história. É um projeto de Rafael Prieto, diretor da top winemakers, que juntou 100 vinícolas chilenas para produzi-lo. Cada uma delas enviou uma barrica para o corte que levou 93% Cabernet Sauvignon, 5% Syrah, 1% Carménère e 1% Carignan. O resultado ficou interessante: um vinho que reflete toda a diversidade, riqueza e potencial de criatividade enológica do Chile. No nariz apresentou frutas negras, um corpo médio e taninos macios. Preço: R$435 (Importadora:Terruares).
Sparkiling Ice Wine Inniskillin Vidal 2011 (Canadá):
Da região do Niágara, no Canadá, e feito com a uva Vidal, esse vinho é uma explosão de doçura e frutas compotadas. Manga, pêra e damasco pareciam exalar da taça.Nesse vinho também é possível encontrar mel. Como é uma versão “sparkiling” ou “espumante” do Ice Wine tradicional, mostrou-se bastante fresco e com uma ótima acidez, o que fez um belo contrastaste com o doce excessivo – estilo doce de batata doce – característica inerente a essa bebida de sobremesa tão especial quanto rara. Preço: US$80 (Esse vinho não é comercializado no Brasil)
Primeira Estrada Syrah 2010 (Brasil):
Vinho intenso no nariz e complexo na boca, que alterna toques de mineralidade (gostinho salgado mesmo) com suaves toques adocicados e de especiarias. Esse mineirinho Syrah brasileiro 2010, lá deTrês Corações, chamado “Primeira Estrada”, foi realmente uma grata surpresa no ano de 2014. Fiquei contente em saber que Minas Gerais é capaz de produzir um Syrah tão interessante, complexo e equilibrado como esse. Em uma degustação às cegas realizada em um dos encontros da Confraria Franciscana, da qual também participo, todos os participantes (inclusive renomados sommeliers de Brasília) elogiaram o vinho e ninguém acertou sua procedência (relembre aqui). Preço: R$78 (Vinícola Estrada Real)
Cossart Gordon Terrantez 1977 (Madeira/Portugal):
Gostei de apreciar esse vinho de uva exótica e super rara que é a Terrantez. Esse vinho de Madeira é algo sensacional, com toques de tabaco, mineralidade acentuada, frutas secas e oxidação. E o mais interessante: com um grande frescor para um vinho de 37 anos idade. Um excelente vinho de meditação indicado para iniciados. Preço: R$537 (Importadora: Decanter)
Toppiano Russian River Valley Pinot Noir 2011 (Estados Unidos)
Um vinho intenso, rico, forte e persistente. Intenso em aromas frutados, mas, diferentemente de Pinots do Velho Mundo, esse Foppiano remete a frutas negras (amoras e mirtillos) muito mais que a vermelhas (cerejas), como era de se esperar. Agora o que é realmente encantador é o final rico e intenso de caramelo. Impossível não associar à Coca-Cola. Impossível não pedir bis. Preço:R$159 (Importadora: Buywine)
Carm SO2 Free Branco (Portugal):
O anidrido sulforoso tem função antioxidante e antiséptica nos vinhos, mas a vinícola portuguesa Carm (Casa Agrícola Roboredo Madeira do Douro) resolveu produzir esse exemplar sem o SO2 e, claro, o vinho ficou realmente diferente, pois passou a evoluir naturalmente, e, digamos, de maneira mais intensa. No nariz se apresenta muito aromático e complexo – mas muito mesmo – com notas de pêssego, goiaba e pêra. Em boca, mostra bastante fruta, mas ao mesmo tempo é leve e fácil de beber. Recomendo a experiência. Vale à pena. Preço: R$120 (Importadora:World Wine).
Chateau Montelena Chardonnay 2010 (Estados Unidos):
Foi este o vinho do Napa Valley (Califórnia) que em 1973 desbancou a supremacia dos brancos franceses (de Borgonha) em uma degustação às cegas que mudou a história do vinho no mundo. Quem assistiu ao filme ou leu o livro “O Julgamento de Paris” (Bottle Shock) sabe exatamente do que estou falando. Sem dúvida, é um ícone e sugiro a todos que, havendo oportunidade, apreciem-no calmamente. Vamos lá às minhas impressões: É um vinho mais forte que elegante e extremamente complexo tanto no nariz como na boca: um misto de frutas cítricas (limão, toranja) e frutas tropicais (banana, pêssego e mamão); um pouco de baunilha se apresenta no palato devido a passagem em barrica, mas algo muito sutil. A persistência e o volume em boca impressionam muito. Para acompanhá-lo, é indicado pratos mais robustos, como lagosta ou frango ao creme. Preço:R$417 (Importadora:Buywine).
Azul Gran Reserva 2010
Experimentei esse blend de Malbec e Cabernet Sauvignon dentro das instalações da pequena e encantadora vinícola boutique “La Azul”, localizada no Valle do Uco, em Mendoza (relembre aqui). Não bastasse o vinho ser fantástico por si só, ele foi servido para mim diretamente por seu produtor, o simpático Ezequiel Fardel, após ser retirado diretamente da barrica de carvalho onde finalizava seu estágio de maturação. Potente, intenso, frutado, com notas de frutas vermelhas maduras e tabaco e com final incrivelmente prolongado. Potencial de guarda para mais de 20 anos. Um vinho de produção limitada, produzido com uvas próprias pela única vinícola que não cedeu à tentação estrangeira e persiste em ser a única da região em ter 100% de capital argentino. Realmente, um vinho especial. Preço: R$168,70 (Empório Vino e Mare).
Chateau d´Yquem 2003 (França):
Esse ano tive a oportunidade de beber uma taça de um dos vinhos mais desejados que existe: Chateau d´Yquem. É o mais famoso vinho branco de sobremesa do mundo produzido em Sauternes (França), a partir de uvas Sauvignon Blanc e Semillon desidratadas pelo fungo (botrytis cinerea), que confere ao vinho níveis de acidez e açúcar excepcionais. Para os enófilos de carteirinha experimentar um Chateau d´Yquem, um vinho que pode envelhecer até cem anos, é ocasião rara e imperdível. Experimentei esse vinho no Bardega, em São Paulo. Fiquei em êxtase ao degustá-lo. Minhas notas: frutas cítricas, damasco, mel, flores e muito mais. Aspecto visual: “Luz engarrafada” – como muito bem registrado pelos já inúmeros admiradores dessa bebida há séculos atrás… Preço da taça de 30 ml R$96 (Bardega São Paulo)