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Portuguesa Quinta do Monte d’Oiro e seus maravilhosos vinhos estilo Rhône
25 de julho de 2016
07:43
Quem pensa que os bons vinhos de Portugal se resumem a Douro e Alentejo está muito enganado. A “terrinha” possui outros terroirsque também apresentam gratas surpresas. Caso da região IGP Lisboa, que apesar de não muito famosa, faz excelentes vinhos. Esses dias mesmo, tive a oportunidade de experimentar alguns daQuinta do Monte d’Oiro, que produz muitos de seus vinhos em Alenquer, uma DOC dentro da IGP de Lisboa. O evento foi promovido pela importadora Mistralno restaurante Dom Francisco, em Brasília, e a apresentação foi conduzida por ninguém menos que Francisco Bento dos Santos, o proprietário da vinícola.
Degustei sete vinhos da Quinta do Monte d’Oiro: o Lybra branco (Viognier, Arinto e Marsanne), o Quinta do Monte d’Oiro Madrigal Viognier, o Lybra Tinto (Syrah), o Têmpera Tinta Roriz, o Aurius Touriga Nacional, o Quinta Monte d’Oiro Reserva (Syrah) e também o Quinta Monte d’Oiro Syrah 24. Dos vinhos de entrada (Lybra) aos mais elaborados (Quinta Monte d’ Oiro), pude notar um refinamento e uma elegância característica. Ao conversar com o Francisco entendi o porquê. Na verdade, apesar de a Monte d’Oiro ser uma vinícola do século XVII, em 2006 ela passou por uma reestruturação para vinificar vinhos de alto gabarito, dando início a produção de uvas com rendimentos baixos e, consequentemente, incrementando a qualidade enológica da sua produção. Sem dúvidas, isso refletiu positivamente nos vinhos. Na mesma época, também adotaram a conversão para a agricultura biológica. (Particularmente, não acho que esse aspecto tenha interferido diretamente na qualidade, mas enalteço a iniciativa no que diz respeito a práticas sustentáveis e a preocupação com meio ambiente).
Syrah e Viogner
“Em Portugal, não há ninguém a trabalhar com a Syrah e a Viognier como a Monte d’Oiro”, ressaltou Francisco Bento. Ele explicou que o terroirda vinícola é muito semelhante ao do Rhône devido à proximidade atlântica, às baixas temperaturas e os constantes ventos. Para ele, essas características aliadas ao baixo rendimento fazem com que a Monte d’Oiro seja capaz de produzir Syrahs semelhantes aos do no Norte do Rhône e um Viogner ao estilo Condrieu.
Degustação
Após degustar os sete vinhos da Monte d’Oiro deu para perceber bem a proposta da vinícola no que diz respeito à qualidade. E, embora, o Touriga Nacional e o Tinta Roriz degustados fossem muito bons, eu gostei mesmo foi dos elaborados com a Syrah e com a Viogner, seguindo o estilo Rhône. Sem dúvida, um diferencial quando se trata de vinhos portugueses. Confira abaixo a avaliação dos meus prediletos:
Lybra Syrah 2007 – Esse é o Syrah de entrada da vinícola. Delicioso, equilibradíssimo e elegante. Boa persistência em boca com destaque para as notas de especiarias e frutas negras, taninos macios. Na verdade é um corte de vários Syrahs da vinícola. Um detalhe importante é que esse vinho agradou grande parte da mesa (jornalistas e blogueiros da área enogastronômica de Brasília) R$126,00. Por ser um vinho de entrada, o valor parece alto, mas é um vinho de entrada diferenciado já que é produzido a partir de uvas com baixos rendimentos. Vale o preço!
Quinta do Monte d’Oiro Madrigal Viognier 2012 – Vinho elaborado a partir da melhor parcela de Viognier da vinícola. Estilo Condrieu, portanto, varietal. Concentrado, fresco, mineral e com estrutura para durar um bom tempo. Apesar de a Viognier não ter acidez pronunciada, o vinho mostrou-se equilibradíssimo. R$278,00.
Quinta do Monte d’Oiro Reserva – Vinhaço! Para mim, o melhor da noite. Estrutura impressionante, complexo nariz, com notas intensas de especiarias e frutas maduras. Na boca, apresenta taninos macios, elegância, vigor e um final persistente. O estágio em 18 meses em barricas de carvalho francês foi perfeito para o refinamento do vinho. Autêntico Syrah do Velho Mundo. R$467,25.
Quinta do Monte d’Oiro
Localizada na região de Lisboa, a Quinta do Monte d’Oiro é uma referência desde o séc. XVII na produção de vinhos notáveis. Foi adquirida em 1986 pelo conaisseur gastronómico José Bento dos Santos, que replantou as melhores parcelas – após vários anos de estudos sobre as condições edafoclimáticas – com as castas que melhor se adaptaram aos seus desígnios de elaborar vinhos de alto gabarito, ao estilo europeu (“Velho Mundo”), que concomitantemente fossem vinhos de requintado sentido gastronômico, com um perfil eminentemente talhado para acompanhar em perfeita harmonia pratos de uma genuína cozinha regional, cozinha clássica ou alta cozinha. Após os primeiros anos de consolidação de uma produção de vinhos de consistente alta qualidade, a Quinta do Monte d’Oiro entrou numa nova fase da sua história a partir da colheita de 2006, lançando para o mercado uma nova imagem e vinhos provenientes de uma conversão para a agricultura biológica. Dos 42 ha da propriedade, apenas 15,5 ha foram replantados com as castas Syrah, Viognier e Petit Verdot, importadas directamente das suas regiões originais em França, e com as castas portuguesas Touriga Nacional e Tinta Roriz.
Sou jornalista especialista em vinhos e em comunicação digital. Sou sommelier Fisar e diretora da Associação Brasileira de Sommeliers do DF. Possuo qualificação Nível 3 (Wine Spirit Education Trust) e o Intermediário do ISG. Também tenho certificado em vinhos franceses (FWS) e vinhos californianos (CWAS).