Você já deve ter ouvido a expressão “vinhos de inverno”, mas talvez não saiba seu significado exato. Ela deriva de um método de produção de vinhos finos que têm ganhado corpo no Brasil.: a técnica da dupla poda, ou da poda invertida, que interfere no ciclo da videira fazendo com que a colheita das uvas ocorra no inverno, não no verão, como é de praxe.
Dupla poda atrás do clima perfeito
Essa tecnologia, desenvolvida inicialmente no sul de Minas Gerais e disseminada pelos outros estados do sudeste do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo), além de Goiás, no centro-oeste, tem permitido que regiões naturalmente hostis à produção de vinhos finos de qualidade por conta dos altos índices de chuvas no verão passem a ser convidativas.
Isso porque o inverno nessa área do Brasil tem condições climáticas muito favoráveis à colheita das uvas para a produção de vinhos finos, com maior concentração de álcool e açúcar. Os dias recebem grande incidência de sol e à noite a temperatura baixa. A amplitude térmica associada ao solo mais seco forjam as características fisiológicas adequadas.
Entenda a Técnica da Dupla Poda
A técnica para que a colheita ocorra em período invertido no calendário consiste em uma poda “extra”. A essência está na extensão do ciclo reprodutivo da videira ao proceder-se a duas podas em vez de somente uma, a de produção, como tradicionalmente ocorre.
A primeira, chamada poda de formação, é feita entre agosto e setembro, para o desenvolvimento e descarte dos ramos produtivos. Já uma segunda, esta sim de produção, acontece em janeiro com a finalidade de frutificação. Então, nos meses seguintes acontecem os passos naturais de florescimento e formação dos cachos para, enfim, proceder-se à colheita de inverno.
Vale mencionar que a técnica é válida tanto para a produção de vinhos finos tintos como para brancos.
Os mentores da técnica
Embora o conhecimento e a prática de alteração da poda para retardar a época da colheita não seja uma novidade na vitivinicultura, a técnica da dupla poda nasceu, foi introduzida e tem prosperado no Brasil graças a um ator fundamental: um grupo de pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Foi esse grupo que desenvolveu a tecnologia, pelas mãos do engenheiro-agrônomo Murillo Albuquerque Regina, PhD em vitinicultura e enologia pela Universidade de Bourdeaux (FRA) .
Assim, o estado de Minas Gerais entrou no rol de novos terroirs para a produção de vinhos finos por obra do trabalho feito na Epamig, com os primeiros experimentos tendo sido feitos em 2003, na cidade de Três Corações.
Vinhos
Syrah (vinho tinto) e Sauvignon Blanc (branco) são as castas de uvas usadas em maior escala na produção a partir da inversão do ciclo de reprodução. Também há Chardonay, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Pinot Noir, porém em proporções menores.
Entre as marcas premiadas de vinho advindas dessa técnica, destacam-se as seguintes:
- Maria Maria (Boa Esperança/MG)
- Primeira Estrada (Três Corações/MG)
- Casa Geraldo (Andradas/MG)
- Luiz Porto (Cordislândia)
- Casa Verrone (São José do Rio Pardo/SP)
- Guaspari (Espírito Santo do Pinhal/SP)
Relembre aqui minhas impressões sobre alguns vinhos de Minas Gerais feitos com a técnica de dupla poda que tive a oportunidade de degustar.