Os amantes de vinho que já tiveram o privilégio de experimentar os bons vinhos do Vale do Rhône sabem o quanto são marcantes, principalmente os elegantes exemplares do norte dessa famosa região francesa.
Sendo assim, tive a oportunidade de realizar o sonho de conhecer o berço da casta Syrah – que aprecio tanto – e vou aqui contar para vocês como foi essa experiência e quais as vinícolas que visitei!
Acho que primeiro é importante citar que o Vale do Rhône pode ser dividido principalmente em duas grandes regiões: o norte e o sul, que produzem vinhos bem distintos entre eles.
Como fiquei hospedada em Lyon, optei por conhecer somente o norte do Rhône! Reservei um dia inteiro para conhecer essa área, que tem início a 32 km ao sul de Lyon e se estende por 72 km entre Vienne e Valence.
O Norte do Rhône
Aqui os vinhedos estão plantados em encostas estreitas e e íngremes, principalmente perto do Rio Rhône, onde os melhores lugares possuem orientação sul para propiciar um bom amadurecimento das castas em virtude das temperaturas mais baixas dessa região.
Esses vales também servem para proteger as vinhas do Mistral, vento frio do norte. Além disso, as videiras são suportadas por estacas individuais ou por um conjunto de estacas para evitar que elas sejam danificadas pelo Mistral.
O Norte do Rhône é mais conhecido por seus vinhos potentes elaborados com a casta Syrah. No entanto, apesar de a quantidade produzida ser menor, o vinho branco a base de Viogner tem importante prestígio entre os conhecedores de vinho.
Principais regiões
- Côte Rôtie: localizada mais ao norte no vale do Rhône. Aqui, apenas se produzem vinhos tintos, embora se possa adicionar um pouco de Viognier. Vinhos têm cor profunda, muito corpo e aromas de especiarias.
- Condrieu: denominação de vinho branco produzido exclusivamente a partir da uva Viognier. A AOC Château-Grillet é uma
propriedade dentro de Condrieu que tem a sua própria apelação e que produz vinhos dentro de um estilo similar aos de Condrieu. - Saint-Joseph: se estende ao longo da margem oeste do Rhône, desde Condrieu, a norte, até Tournon, ao sul. Aqui, a maioria dos vinhos são tintos feitos a partir da Syrah. Também se produzem alguns vinhos brancos a partir das castas Marsanne e Roussanne.
- Hermitage: está localizada numa encosta íngreme orientada a sul. Geralmente, o Hermitage tinto é, dentre os vinhos tintos do Norte do Rhône, o que tem mais corpo, e envelhece bem. Pode-se produzir brancos com as castas Roussanne e Marsanne.
- Crozes-Hermitage: A mais importante denominação de origem em termos de volume. Os vinhedos se encontram em diferentes tipos de terreno à volta da colina de Hermitage. Os vinhos tintos são produzidos a partir da syrah. A qualidade destes vinhos variam muito, dependendo da localização das vinhas. Também são produzidos alguns vinhos brancos.
- Cornas: é apelação de vinho tinto que está mais a sul e é o mais quente. A exposição solar é virada ao sul. Os vinhos de Cornas devem ser elaborados com 100 por cento de syrah. Os vinhos têm cor profunda, muito corpo e um estilo e qualidade similares aos de Hermitage.
- Saint-Péray: produz vinhos brancos tranquilos e espumantes a base de Roussanne e Marsanne. Está localizada na margem direita do Rhône. Os brancos têm aromas de flores e frutas cítricas. O vinho espumante é produzido aqui desde 1825.
Vinícolas
Domaine Georges Vernay
A primeira parada foi a incrível Domaine Georges Vernay, que foi escolhida porque Georges Vernay é conhecido por ser um dos mais experientes produtores da região de Condrieu e responsável por salvar a reputação da dessa apelação, além de ter sido presidente dessa denominação por 30 anos.
Infelizmente ele faleceu aos 92 anos em 2017, no entanto, sua filha Christine Vernay não só deu continuidade ao seu legado como começou a produzir excelentes vinhos da região Côte Rôtie e, por isso, já recebeu a alcunha de “rainha de Côte Rôtie” . Só degustei vinhão aqui!
Comecei bem com o famoso Coteau de Vernon 2017. Que vinho é esse? Maravilhoso! Tentei comprar e não tinha mais! Mas pelo menos consegui degustar! Muito mineral, com notas de flores e damasco. Ainda muito jovem. Apesar da viognier ser conhecida por produzir vinhos com acidez mais baixa, nesse aqui estava alta. Corpo médio alto e muito persistente! Ainda é bem jovem e tem muito potencial de envelhecimento! Super elegante! Vinhão!
Outro ícone da vinícola e região! Les Chaillées de l’Enfer 2017 Incrível! A intensidade aromática chamou atenção logo de primeira! Muito pêssego branco, damasco e notas cítricas. Além disso, as notas de flores brancas encantaram! Acidez média alta e corpo médio. Muito persistente! Outro vinho que vai envelhecer e ainda mostrar todo o seu potencial! É de uma delicadeza que encanta!
Esse foi um dos melhores Saint-Joseph já degustei na vida! Muito equilibrado! O La Dame Brune é produzido com a partir de vinhedos de syrah de 45 anos de idade localizados em encostas graníticas. Boa complexidade aromática com muita amora, pimenta e um toque de baunilha. Os taninos são médios altos e assim como a acidez. O final é é longo!
O Maison Rouge 2016 me fez entender porque Christine Vernay já foi chamada de a rainha do Côte-Rôtie! Que vinho! Muito equilibrado! Possui estrutura e elegância! Seus vinhedos possuem 50 anos de idade e é elaborado com 100% de syrah. Permanece por 24 meses em barricas de carvalho (30% novas). Muito complexo aromaticamente! Apresentou notas de pimenta negra, alcaçuz, cerejas negras, amoras e chocolate amargo! A acidez é média alta com taninos finos e macios! É um vinho muito persistente! Vai ganhar muito com o envelhecimento em garrafa!
Jean-Luc Colombo
A próxima parada foi na Jean-Luc Colombo! Essa vinícola foi escolhida porque a família Colombo foram os pioneiros em promover os vinhos de Cornas e atualmente Anne é a presidente desta denominação. Além disso, eles produzem bons vinhos de outras apelações e eu estava curiosa pelo seus Hermitage.
Fomos muito bem recebidas pelo Jérémie Montagnon, que nos levou para fazer um passeio pelas encostas de Cornas antes da degustação de vinhos. Foi um passeio bem legal e educativo e tivemos a oportunidade de conhecer os vinhedos da propriedade, além de aproveitar a bela vista do Vale do Rhône!
Depois do passeio, a degustação teve início e ela foi super completa! Começamos com um vinho que eu nunca tinha degustado e tinha muita curiosidade. É o Saint-Péray La Belle de Mai 2017!
Ele é elaborado majoritariamente com a casta Roussanne e tem só um pouquinho de Marsanne. Vale a pena degustar! Fiquei impressionada com o floral que esse vinho apresentou no nariz, além de notas de maracujá, baunilha e um leve tostado. A acidez é média e final médio.
O Le Rouet 2016 é um Hermitage muito bom! Jovem, estruturado e elegante! Apresentou muita fruta negra madura, pimenta, violeta, café e especiarias. Taninos são altos e a acidez é média alta. É muito persistente! É um vinho potente que vai se beneficiar com mais alguns anos em garrafa!
O Les Ruchets 2014 é um vinho complexo com boa tipicidade. Apresenta muitas características esperadas de um bom syrah do norte do Rhône! Aromas de pimentas negras, especiarias doces, anis e carne curada. O tanino é médio alto mas bem macio, provavelmente por seu tempo maior de garrafa. A acidez é média alta e possui um final persistente.
Domaine Courbis
A Domaine Courbis foi a última visita do dia e foi super legal porque o Laurent Courbis, um dos proprietários, nos recebeu pessoalmente e fez questão de nos mostrar toda a adega! É uma vinícola familiar e já li que seus vinhos são produzidos de forma sustentável e são veganos!
Apesar deles produzirem vinhos de outras denominações, gostei muito de dois da AOC de Cornas! O La Sabarotte e o Champelrose!
Vinhão! Muito intenso! Alta intensidade aromática! Percebe-se muita fruta negra, como amora e ameixas. Também é possível perceber pimenta preta, especiarias doces e um toque de tostado! O corpo é médio alto, assim como os taninos e acidez! O final é bem longo! Ainda está jovem!
O Champelrose 2017 é muito estruturado e potente! No nariz apresenta muita fruta negra madura, baunilha, pimenta negra. É um vinho que também possui corpo médio alto. Os taninos são altos e a acidez é média alta. O final é bem persistente. É um vinho encorpado e marcante!
Esse foi o resumo do passeio que fiz pelo norte do Vale do Rhône! Claro que tem muita coisa boa para conhecer e beber por lá! Mas aí tem que dedicar muito mais tempo! É importante lembrar que todas as visitas foram agendadas com antecedência por e-mail.
Texto: Bianca Dumas