No período de 05 a 08 de junho, foi realizado no Vale dos Vinhedos, a nona edição do concurso de vinhos Brazil Wine Challenge. O único concurso brasileiro que tem a chancela da Organização Internacional da Vinha e do Vinho – OIV e da União Internacional dos Enólogos – UIE. Mais de 611 amostras provenientes de 18 países foram analisadas por 50 especialistas (relembre aqui). O concurso contou com um sistema de avaliação totalmente informatizado, que garantiu maior agilidade e segurança na captação e tabulação dos dados, colocando a avaliação entre as mais organizadas do mundo. A organização do IX Brazil Wine Challenge ficou a cargo da Associação Brasileira de Enólogos-ABE, cujo presidente é o enólogo da vinícola Luiz Argenta, Edegar Scortegagna. Nessa entrevista, Edegar faz um balanço do evento, convida o consumidor brasileiro a dar um voto de confiança aos vinhos produzidos no Brasil e diz o que espera do resultado final do concurso, principalmente, em relação à divulgação em outros países. Confira a íntegra da entrevista.
BVT – Gostaria que você fizesse um balanço da nona edição do Brazil Wine Challenge. Concurso, inclusive, organizado pela Associação Brasileira de Enólogos, entidade que você preside.
Edegar Scortegagna – Essa nona edição do Brazil Wine Challenge mostrou a outra cara do Brasil porque aprovou a qualidade dos vinhos brasileiros. Tínhamos vinhos de 18 países, num total de 611 amostras, provenientes de cinco continentes, e tivemos premiados vários e vários vinhos brasileiros. Os espumantes brasileiros então, brilharam ainda mais, conquistando três medalhas Gran Ouro (a mais esperada) e isso foi fantástico. É uma mostra de que as borbulhas brasileiras estão cada vez melhores e mais reconhecidas.
BVT – Por que o Brazil Wine Challenge é um concurso de vinhos tão reconhecido internacionalmente?
Edegard Scortegagna – Os concursos internacionais de vinho são feitos às cegas. Não tem interação do degustador com os rótulos. É 100% às cegas. Além do mais, o Brazil Wine Challenge é o único concurso brasileiro que tem chancela da respeitada Organização Internacional da Vinha e do Vinho – OIV e da União Internacional dos Enólogos – UIOE, que reúne enólogos do mundo inteiro, o que, consequentemente, confere grande credibilidade ao certame. Vale ressaltar ainda que diversos fiscais acompanham pessoalmente todo o processo.
BVT – Em sua opinião, o que falta para o vinho brasileiro brilhar ainda mais?
Edegard Scortegagna – Falta o consumidor brasileiro dar um voto de confiança aos vinhos nacionais.
BVT – Por que você acha que o consumidor brasileiro compra mais vinho importado do que nacional?
Edegard Scortegagna – O consumidor brasileiro muitas vezes prefere o importado porque se criou uma imagem de que o produto importado era melhor, o que não é verdade. Temos os dois lados. Temos coisas boas e coisas nem tão boas. O fato de se ter um vinho de um país ou de outro não quer dizer que o produto é melhor ou pior. Por isso, é importante um concurso como o Brasil Wine Challenge, que pode impulsionar o consumidor a experimentar o vinho brasileiro e se surpreender com a qualidade do produto.
BVT – Você acha que os vinhos brasileiros ganhadores de medalha no BWC também irão agradar os estrangeiros?
Edegard Scortegagna – Os jurados do Brazil Wine Challenge eram jurados de vários países e o resultado do concurso na categoria Gran Ouro foi: três medalhas para o Brasil, três medalhas para Portugal e duas medalhas para o Chile. Isso quer dizer que os especialistas que vieram de fora do Brasil também aprovaram o vinho nacional. Seguindo as normas da OIV para o concurso é necessário ter o mínimo de 30% de degustadores estrangeiros, podendo ser enólogos e experts no assunto. Quando se fala de uma medalha Gran Ouro quer dizer que a mesa toda estava em consenso e que o vinho ganhador dessa medalha é um baita vinho porque todos os degustadores são profissionais. Logo, não tenho dúvida que esses vinhos farão sucesso lá fora.
BVT – A Bolívia também ganhou uma medalha de ouro. Como você vê essa conquista?
Edegard Scortegagna – A Bolívia assim como o Peru e a Colômbia estão crescendo em vitivinicultura. Nós temos uma associação de enólogos chamada G4 – Brasil, Argentina, Uruguai e Chile – e vamos incorporar em breve Bolívia e Peru, e quem sabe no futuro a Colômbia. São países emergentes, mas que contam com vários empresários interessados em produzirem vinhos finos. Vamos ouvir falar ainda muito desses vinhos. Até mesmo porque nossa intenção na G4 é fortalecer a América do Sul como um todo e, claro, todos irão ganhar com isso, principalmente o consumidor pela diversidade dos vinhos.
BVT – E a questão do preço? Você não acha que também afeta na escolha?
Edegard Scortegagna – Certamente o preço do produto afeta a escolha, mas dentro do mundo dos vinhos, sejam eles importados ou nacionais, temos opções para todos os gostos. É claro que se levarmos ao pé da letra, os nacionais são castigados da forma que são tributados perante os importados.
BVT – Agora vamos falar de Portugal, único país do Velho Mundo a se destacar no certame: cada dia mais vemos aumentar o consumo de vinhos portugueses no Brasil. Você acredita que isso se deva ao valor ou à qualidade desses produtos?
Edegard Scortegagna – Primeiro lugar acredito que é o foco que Portugal está dando ao mercado brasileiro. Recentemente assumiu o segundo lugar como venda de vinhos aqui no Brasil. Hoje o primeiro é o Chile. Então, Portugal veio em peso para o concurso e, claro, também a qualidade vem crescendo e isto faz cada vez mais os vinhos aparecerem.
BVT – Países muito reconhecidos no mundo do vinho como França, Espanha e Alemanha enviaram suas amostras, mas não obtiveram nem Ouro e nem Gran Ouro. Como você poderia explicar tal situação?
Edegard Scortegagna – Estes países enviaram uma quantidade de amostras muito pequena se compararmos com Brasil, Chile e Portugal. Provavelmente, estes países não veem o Brasil como mercado foco e então acabam tendo menos representatividade.
BVT – Concursos de vinho de modo geral são elogiados por uns e criticados por outros (inclusive produtores e enólogos). Em sua opinião, porque isso acontece?
Edegard Scortegagna – Existem milhares de concursos pelo mundo, alguns sérios e outros menos sérios. Geralmente aqueles concursos que são um negócio para o organizador são os mais contestáveis. Então, sempre iremos encontrar os contra e os favoráveis.
BVT – Como foi para você organizar um concurso de vinhos dessa magnitude e o que você espera do resultado final com relação à divulgação nos outros países?
Edegard Scortegagna – Para nós da Associação Brasileira de Enologia é sempre um desafio organizar este concurso pois, não é um negócio para nós. Todos os organizados envolvidos são voluntários. Então, cada um de nós procura dar o máximo de si para que tudo transcorra da melhor forma possível.
A partir de agora cada país ou degustador estrangeiro convidado vai levar para seu país e divulgar. Isso vai acontecer junto com os vinhos premiados que levaram um selo do concurso.
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