ntrevista com Pablo Miranda Roger: Vinhos, Desafios Climáticos e o Mercado Brasileiro
Pablo Miranda Roger é um renomado enólogo espanhol que trabalha com vinícolas em diversas regiões da Espanha, criando rótulos que têm se destacado pela qualidade e inovação. Em uma conversa franca, ele nos contou sobre os desafios que enfrenta ao produzir vinhos em diferentes terroirs, as questões climáticas que afetam a viticultura global, e compartilhou sua visão sobre o mercado de vinhos brasileiros. Também falou sobre a importância dos vinhos de corte, o impacto das novas gerações de consumidores e o que faz de certas regiões vinícolas da Espanha um verdadeiro tesouro a ser descoberto. Abaixo, confira a entrevista completa.
Etienne Carvalho – Como é trabalhar prestando consultoria para vinícolas situadas em várias regiões na Espanha?
Eu presto consultoria para vinícolas em diferentes regiões porque é preciso entender o mercado e saber quais vinhos estão tendo sucesso. A experiência de estar sempre em contato com as vinícolas, com o mercado, e com pessoas do setor, como chefs e especialistas, me ajuda a capturar a essência do vinho e a adaptar a produção às novas tendências e necessidades dos consumidores.
Etienne Carvalho – Como a mudança climática impacta a produção de vinhos espanhóis?
A mudança climática afeta muito a produção, especialmente com a variabilidade nas temperaturas e chuvas de um ano para o outro. Quando se trabalha com vinhos de uma única variedade, é necessário usar muita energia e química para compensar essas mudanças. Por isso, eu vejo o futuro na criação de vinhos de corte (blends), que conseguem se adaptar melhor a essas dificuldades climáticas, além de focar em vinhos ecológicos e artesanais.
Etienne Carvalho – Qual é a importância dos vinhos de corte em comparação aos varietais?
Os vinhos de corte estão se tornando uma tendência porque oferecem mais equilíbrio e flexibilidade diante das mudanças climáticas. Quando você trabalha com diferentes variedades de uvas e terroirs, consegue um produto mais estável e interessante para o mercado. Algumas pessoas às vezes acham que os varietais são superiores, mas os vinhos de corte trazem uma riqueza que muitas vezes é subestimada.
Etienne Carvalho – O que os consumidores brasileiros valorizam nos vinhos europeus?
O Brasil tem uma conexão forte com Portugal, mas os brasileiros também amam a Espanha. A cultura espanhola, com ícones como o Real Madrid, o Barcelona e nossa gastronomia, é muito admirada. Acredito que estamos apenas começando a ver o vinho espanhol crescer no Brasil, e com o excelente custo-benefício que eles oferecem, há um grande potencial para aumentar essa presença.
Etienne Carvalho – Dos vinhos que você trabalha, quais têm um bom custo-benefício no Brasil?
Eu destacaria vinhos como o “Iturria Blanco” de Toro, que tem uma boa relação preço-qualidade e é uma novidade no mercado brasileiro. Também temos vinhos como os de Requiém e da Ribera del Duero, que são muito bem avaliados e vendem bem tanto em lojas quanto em restaurantes.
Etienne Carvalho – Quais dentre os vinhos excepcionais que você produz e também recomenda para apreciadores exigentes?
Estamos trazendo um novo rótulo ao Brasil, o “Dies Irae” da vinícola Requiém, que é uma novidade top de linha. Também temos vinhos excepcionais da Ribera del Duero, que possuem muita harmonia e expressão.A uva Tempranillo é a mais reconhecida e especial na Espanha. Mas, além dela, estamos trabalhando com Garnacha e introduzindo novas variedades de uvas brancas no mercado, para que o público conheça mais opções.
Etienne Carvalho – Quais regiões da Espanha você acredita que têm grande potencial, mas ainda são pouco conhecidas?
Eu sou um grande fã dos vinhos de Toro. É uma região pequena, mas está ganhando muita atenção no mundo. A Espanha tem muitas regiões com vinhos incríveis, e cada área tem características que se destacam. Ribera del Duero, por exemplo, é uma região com terroirs excepcionais.
Etienne Carvalho – Qual é a sua opinião sobre o vinho brasileiro?
Acho que o vinho brasileiro não deve ser comparado diretamente com o vinho europeu. O Brasil está em fase de desenvolvimento, e precisa criar suas próprias regras, métodos e palavras. O foco deve ser agradar ao público brasileiro e aumentar o consumo local. Com o tempo, o vinho brasileiro ganhará mais reconhecimento, assim como os queijos de Minas Gerais, que hoje são premiados mundialmente.
Etienne Carvalho – Como é sua relação com a importadora Del Maipo no Brasil?
Comecei a trabalhar com a Del Maipo há cerca de 11 anos. Eles têm uma excelente seleção de vinhos espanhóis, e hoje a maioria dos vinhos espanhóis da Del Maipo conta com a minha assessoria. É uma parceria muito boa, que permite trazer vinhos de alta qualidade ao mercado brasileiro.
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