No último dia 15 de outubro, foi comemorado no Brasil o Dia dos Professores. Em homenagem a esses profissionais, o Blog Vinho Tinto entrevistou Eugenio Echeverria, um educador na área de vinhos respeitado e reconhecido no Brasil, no Chile e na Colômbia por apresentar de forma simples, objetiva e apaixonante os segredos e as informações do mundo do vinho aos amantes da bebida e a profissionais da área interessados em especializar-se no assunto. Eugenio é natural do Chile e diretor da The Wine School, instituição autorizada a ministrar os cursos da renomada instituição britânica Wine and Spirits Education Trust (WSET) no Brasil, na Colômbia e no Chile. Entusiasta e amante do vinho, o professor Eugenio possui vários certificados internacionais na área de vinhos e destilados e já atuou tanto na área operacional quanto comercial de diversas vinícolas do mundo. Atualmente, viaja pelas capitais e interior do Brasil, do Chile e da Colômbia para ensinar sobre vinhos e destilados. Nesta entrevista, ele fala um pouco sobre a WSET, vinhos brasileiros, regiões promissoras na área vitivinícola e sobre a experiência de ser um educador na área de vinhos no Brasil. Confira:
Blog – A Wine and Spirits Education Trust – WSET é uma renomada organização mundial na área de educação de vinhos e destilados. A instituição foi fundada há 45 anos em Londres. A The Wine School, escola que você administra em São Paulo, é a primeira representante da WSET no Brasil, Chile e Colômbia e foi fundada em 2005. Por que a WSET demorou tanto tempo a ser instalada na América do Sul?
A WSET é uma escola inglesa, portanto, só foi possível a sua chegada à América do Sul depois de identificar profissionais competentes com conhecimento e experiência adequada para ministrar os cursos da instituição. Também foi levada em consideração a estabilidade política e econômica da região e, claro, o aumento nesses países do interesse em estudar os vinhos do mundo, uma tendência identificada nos últimos 10 anos.
Blog – Qual o perfil geral do aluno WSET? E quais as principais diferenças e semelhanças entre os alunos brasileiros, chilenos e colombianos?
Em geral, nossos alunos são 60% profissionais da indústria de bebidas e cerca de 40% pessoas aficionadas por vinhos. Esses últimos são pessoas que nos procuram simplesmente pelo prazer de aprender. Eles querem melhorar seus conhecimentos para saberem comprar vinhos e, claro, poderem disfrutar melhor da bebida.Já os profissionais das indústrias nos procuram para aperfeiçoarem o conhecimento, as aptidões e a linguagem, uma vez que o mercado tornou-se exigente na seleção de pessoas qualificadas na área. Eles também procuram uma certificação internacional para conseguirem aumento no salário ou conquista de um melhor emprego.
Blog – É um diferencial ser um aluno WSET? Por quê?
Sim; é um diferencial ser um aluno WSET porque os cursos oferecidos pela instituição são reconhecidos mundialmente. As matérias de estudo são sempre atualizadas e buscam apresentar as últimas e importantes novidades de cada região do mundo. Além disso, a certificação é única e a mais alta dentro da indústria em trajetória, qualidade e prestígio. Em resumo, o aluno aprende a falar a linguagem de vinhos e destilados conhecida mundialmente.
Blog – Nos livros dos cursos WSet são apresentados vinhos de diversas partes do mundo e detalhes sobre alguns países vitivinícolas. O Chile e a Argentina aparecem nas publicações, mas o Brasil sequer é citado. Por quê? Quais são os critérios para figurar nas publicações WSet?
Como os cursos são internacionais e a presença do WSET no mundo cobre, atualmente, quase 100 países, em cinco continentes, é importante que as regiões de estudo sejam mundialmente conhecidas e com presença relevante de vinhos nos mercados, do contrário, fica difícil ensinar sobre eles sem o produto disponível.
Blog – Você acha que o Brasil produz bons vinhos? O que falta, então, para sermos reconhecidos como grandes produtores?
Sim, gosto muito dos vinhos brasileiros, principalmente, os da casta Merlot e dos vinhos espumantes, que têm um padrão alto de qualidade em relação ao Chile e à Argentina, seus mais próximos vizinhos. O que falta? Acho que continuar investindo na produção de vinhos de qualidade e aumentar a participação nos mercados interno e externo. Destaco o trabalho de divulgação e promoção da associação “Vinhos do Brasil”, que tem sido fundamental para isto melhorar dia a dia.
Blog – Recentemente, foi realizado em Bento Gonçalves a Avaliação Nacional de Vinhos que elegeu os melhores da safra 2013. Muitas pessoas criticam este tipo de concurso. O que você pensa a esse respeito?
Eu penso que qualquer iniciativa de degustação de vinhos com profissionais e consumidores deve ser respeitada e promovida sempre, por ser uma instância de prova, de análise, de avaliação, de sugestões, de críticas e de melhoras. Tomara que este evento possa continuar crescendo. E por que não fazer três versões – uma no Sul, outra no Centro e uma no Nordeste do Brasil? São consumidores diferentes e ocasiões diversas de consumo!
Blog – Carmenère: Chile; Malbec: Argentina; Zinfandel: Estados Unidos; Pinotage: África do Sul; Shiraz: Austrália e Merlot: Brasil. O que você acha de vincular a produção de determinados tipos de uva a países do novo mundo que se destacam em sua produção? Marketing ou fato?
Acho que você não pode ser bom em tudo e fazer todos os tipos de vinhos. Algumas variedades de uva, de fato, se adequam melhor que outras em cada região do mundo, sejam por fatores climáticos, ou de solo, ou de altitude/latitude, e muitas outras variáveis, por isso, é importante selecionar o que há de melhor em cada área e, inclusive, gerar as “denominações de origem”, que procuram cuidar, proteger e potenciar os melhores resultados de cada região.
Blog – Quais são os países que em sua opinião merecem destaque pela qualidade dos vinhos que produzem?
Sem dúvida, as origens como França, Itália, Portugal e Espanha continuarão sendo destaques no mercado.
Blog – Para você o que pesa mais hoje em dia: a tradição dos vinhos do Velho Mundo ou a inovação dos vinhos do Novo Mundo? Por quê?
Os vinhos são feitos para acompanhar as comidas e os gostos dos consumidores, portanto, acho que não existe um vinho melhor do que outro. As preferências dos consumidores são as que vão decidir o futuro. Para mim, é importante que os vinhos sejam de qualidade e a um custo justo.
Blog – Em sua opinião quais as regiões promissoras no cultivo de uvas e produção de vinhos?
Sem dúvida as produções do Brasil, China, Índia, Zimbábue são interessantes de serem acompanhadas, como também os vinhos de países do Centro e do Leste Europeu. Também existem novas regiões do Chile, Austrália, África do Sul e da Argentina que parecem promissoras.
Blog – É correto afirmar que vinho bom é vinho caro?
Jamais. Todos os dias, me surpreendo com ótimas experiências de vinhos justos e honestos. Também acontece o contrário.
Blog – No último dia 15 de outubro comemoramos o Dia do Professor no Brasil. Você é um educador na área de vinhos bastante conhecido e respeitado no Brasil. Como é ensinar vinhos em nosso país? O que tem a declarar sobre a profissão?
Em primeiro lugar, agradeço a gentileza de ser considerado um professor conhecido e respeitado. Na verdade, amo minha profissão de educador na área de vinhos. Gosto do contato diário com meus alunos, de conhecer suas experiências e vivências e o que os fez chegar ao vinho. Tudo isso é vibrante e apaixonante. O brasileiro, em geral, é um grande conhecedor de vinhos, tem acesso aos vinhos do mundo, lê, viaja e gosta de comer e beber bem. A mescla cultural desse país é incrível e faz com que o Brasil tenha uma diversidade riquíssima de gostos e preferências, isso é ótimo. Viva!!