Depois de conhecer o Vale do Uco (relembre) e Luján de Cuyo (relembre), chegou a vez de ir a Maipú, pequeno município que integra a região vitivinícola Central de Mendoza, conhecida como “primeira zona” dos vinhos argentinos pelo prestígio que alcançaram alguns rótulos produzidos na região. Essa é uma área cujos vinhedos se encontram a uma altitude menor (600 a 760m) e onde é possível encontrar muitas vinhas velhas que produzem vinhos intensos e aromáticos. O local, de modo geral, é dominado por grandes e antigas bodegas (vinícolas), como Familia Zuccardi, Finca Flichman, La Rural (Rutini) e Trapiche.
Foco na qualidade – Minha visita ao município, no entanto, começou pela Carinae Vinedos y Bodegas, uma vinícola familiar e pequena, cuja produção não alcança 100 mil litros por ano. A propriedade pertence aos franceses Philipe e Brigite Subrá que adquiriram as instalações no final dos anos 90, revigoraram o local e iniciaram a produção efetiva de vinhos em 2003. Sem dúvidas, é um projeto relativamente novo, mas se destaca por contar com consultoria especializada da equipe do renomado enólogo francês Michel Rolland.
“Tour mais exclusivo” – Como em vinícolas familiares os visitantes têm maiores chances de serem recebidos pelos proprietários e de fazerem um “tour” bem mais exclusivo, a visita acaba sendo mais agradável do que em grandes bodegas, onde tudo acontece de maneira mais rápida e de forma impessoal.Quem me recebeu na Carinae foi a própria Brigite Subrá, que pacientemente me contou toda a história da vinícola e me apresentou cada cantinho das instalações explicando o funcionamento de tudo. Na Carinae, a visita acontece diariamente e não precisa ser agendada. O preço varia de 50 a 200 pesos dependendo da degustação escolhida ao final.
Homenagem às estrelas – Foi conversando com Brigite que descobri que o nome da Bodega – Carinae – foi escolhido em homenagem a uma constelação que aparece em noites de verão e durante todo o período de colheita. No local, os 11 hectares de vinhedo de uvas Syrah, Malbec e Cabernet Sauvignon também recebem, cada qual, o nome de uma constelação especial.
Arte no cinza – Ao visitar as instalações da Carinae me deparei com algo inusitado. Dividindo o mesmo espaço com desengaçadeiras, tanques e barricas, havia algumas obras de arte de artistas franceses e argentinos, iniciativa que deu cor e alegria ao local.
Toque europeu – Isso sem falar dos vitrais coloridos, elemento arquitetônico típico europeu, que além de ornamentarem, conseguiram iluminar e dar vida ao espaço frio e escuro da sala de barricas. Muito lindo!
Degustação e destaque – Ao final da visita, fiz a degustação da linha Premium da bodega (Torrontés, Malbec Gran Reserva, Syrah Gran Reserva, Prestige e Passito). O preço pela degustação foi 120 pesos. Todos os tintos premium da Carinae são excelentes, pois têm algo em comum: são elaborados com uvas de baixo rendimento para garantir concentração de aromas e sabores. Detalhe interessante foi perceber que o Hommage Syrah é uma espécie de “argentino com alma francesa”. Um vinho potente, vivo, frutado e “levemente apimentado”, mas com a elegância típica dos vinhos produzidos no Vale do Rhône na França. No Brasil, os vinhos da Carinae são importados pela Buywine.
Confira aqui mais fotos da visita à Bodega Carinae. Visitando a grande Zuccardi – Depois de visitar a pequena Carinae, foi a vez de conhecer a famosa Zuccardi, vinícola reconhecida mundialmente e que está diretamente relacionada à história da viticultura no Maipú. A bodega foi fundada em 1963 pelo engenheiro Alberto Zuccardi, um visionário que por meio de um sistema experimental de irrigação provou que as terras da região, até então consideradas improdutivas, seriam capazes de produzir vinhos de destaque.
Visitas – O local recebe turistas para visitas e degustações de segunda a sábado de 9h às 17h30 e domingos de 10 às 16h. O valor de cada tour varia de acordo com a degustação escolhida ao final (regular, espumante, premium e super premium). Diferentemente de vinícolas pequenas, nas grandes não há o contato direto com os proprietários durante as visitas que, normalmente, acontecem de forma mais impessoal. No entanto, os guias são preparados para apresentar toda a estrutura para o visitante e ensinar alguns conceitos básicos de vinificação.
Mais terroir e menos madeira – Ao visitar a Zuccardi percebi que a tendência para elaborar vinhos premium menos amadeirados também já chegou por lá. A vinícola, inclusive, vem diminuindo consideravelmente o uso de barricas de carvalho em seus vinhos de primeira linha e fazendo uso de modernas tecnologias de forma a expressarem verdadeiramente a identidade da uva utilizada e das regiões onde são cultivadas suas vinhas, que estão não só em Maipú, como em Santa Rosa e no Vale do Uco (Altamira, Vista Flores e La Consulta). A utilização de tanques de concreto em forma de ovo (encontrados em pouquíssimas vinícolas na Argentina), por exemplo, tem a finalidade de produzir vinhos de caráter único.
Tendência mundial – A substituição gradativa do uso das pequenas barricas de carvalho de 225 litros pelos foudres de 2500 litros, que conferem menos sabor amadeirado ao vinho, também é algo perceptível não só no espaço físico da vinícola, como em seus vinhos da linha premium, que tendem cada vez mais apresentar menos notas de madeira e mais sabores frutados, atual tendência mundial.
Destaque – Fiz a degustação premium da vinícola e confesso que me encantei pelo vinho de sobremesa servido: o Malamado Solería elaborado com Torrontés. Esse vinho tem sua fermentação interrompida quando atinge 200 gramas por litro de açúcar, depois é fermentado em barricas de carvalho expostas ao sol por 40 meses. Resultado: 20 graus de álcool e 180 gramas de açúcar por litro destacando-se no nariz e na boca frutos secos, como nozes e amêndoas, e também casca de laranja e um toque de mel. É simplesmente fantástico. Os vinhos da Zuccardi são importados no Brasil pela Ravin importadora.
Veja mais fotos do passeio à Zuccardi, clicando aqui. Almoço tradicional argentino – Depois das visitas às vinícolas, nada melhor do que um bom almoço. Na própria vinícola Zuccardi está a Casa del Visitante, um restaurante bem aconchegante, que serve dois tipos de menu: o degustação, com nove passos que variam de acordo com a estação e o tradicional argentino – que inclui entrada, saladas da estação, verduras grelhadas, carne assada na brasa (o famoso “asado”) e a sobremesa. Optei pelo tradicional, pois queria experimentar o “churrasco argentino”. Embora muito mais simples do que o menu degustação, a opção é saborosa e farta, pois é uma espécie de rodízio de carnes. Um assado para encerrar minhas visitas às vinícolas argentinas, foi sem dúvida, uma excelente pedida. Devidamente harmonizado com os vinhos da Zuccardi, ficou ainda melhor!
Agradecimento especial:
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