Mudanças climáticas são um fator predominante quando o assunto é vinho. Os dados da empresa inglesa The Fine Wine Market – Liv-ex confirmam que o teor alcoólico de milhares de safras vem subindo ao longo dos últimos 30 anos. Na Califórnia, Piemonte, Toscana, Rhône e Rioja, por exemplo, o teor alcoólico subiu para mais de 14%. No caso de Rioja, de 1995 para 2018 houve uma diferença média de 13,1% para 14,4% em 2018. Algo bem significativo.
Em matéria publicada recentemente pelo Financial Times, o presidente-executivo da empresa de investimento em vinhos finos Cult Wines, Tom Gearing, apontou que as uvas produzem um teor de açúcar maior quando o clima é mais quente, e isso conduz a um teor alcoólico maior.
Outro fator que contribuiu pra isso, segundo diretor da Liv-ex Anthony Maxwell, são as preferências dos consumidores. Muitos dos consumidores da década de 1990 favoreciam “claretes ao estilo antigo”, com teor alcoólico mais baixo, ele disse, “mas então surgiram como influência os vinhos do Novo Mundo, e eles eram mais maduros e continham um pouco mais de açúcar. Em seguida, teve um novo boost com o “efeito Robert Parker”, crítico de vinho influente que tinha preferência por vinhos mais maduros e concentrados, e isso influenciou a forma como as produziam os vinhos.
A Accolade Wines, empresa australiana que produz marcas como Hardys e Banrock Station, comenta que o teor alcoólico no mercado cresceu marginalmente nas últimas décadas, e acrescenta que isso é uma tendência mundial. De acordo com a Liv-ex, os vinhos do Loire e de Rioja também demonstram alta substancial do teor alcoólico, e os tintos da Califórnia, Piemonte e Toscana se tornaram significativamente mais fortes nas décadas de 1990 e 2000, mas seu teor alcoólico depois disso se nivelou ou veio a cair. O teor alcoólico é em geral muito mais constante nos vinhos brancos do que nos tintos.
Nigel Sneyd, diretor mundial de vinho e qualidade da Accolade, disse que era improvável que o teor alcoólico continuasse crescendo. Ele diz que um teor alcoólico maior traz um desequilíbrio de palato, e por isso um teor significativamente mais alto que o atual requereria o uso de tecnologia para compensar o fato. A Accolade diz que os consumidores cada vez mais buscam vinhos de baixo teor alcoólico, ou sem álcool. E em algumas regiões, especialmente nos climas europeus mais variáveis, o foco mudou para mitigar os efeitos da mudança do clima, usando métodos como uma fermentação mais fria e lenta.
Anthony Maxwell associa a estabilização do teor alcoólico dos tintos de certas regiões,como a de Saint-Émilion em Bordeaux, à aposentadoria de Parker, que deixou o posto de editor-chefe de seu boletim em 2012 e se aposentou em 2019.
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