Por que tão caro? Passeando por supermercados, lojas ou sites especializados em vinho, talvez seja difícil não se questionar o por quê dos preços das garrafas de vinho variarem tanto entre si e alguns deles parecerem até exorbitantes. Assim como é possível esbarrar com a bebida custando R$ 20 ou menos, também podemos encontrar produtos que ultrapassam três dígitos! Pensando nisso, a Super Interessante, uma publicação da Editora Abril, preparou uma matéria bem especial para nos ajudar a entender por que os vinhos variam tanto de preço de uma garrafa para outra. A matéria ficou muito bem feita e, por isso, resolvi trazê-la aqui pro blog de forma sintética.
Oito fatos que podem influenciar no preço do vinho
1.Rendimento da vinha
Pode parecer confuso, mas o vinho apresenta uma qualidade melhor quando o rendimento (quantidade de frutas que brotam) “de cada cacho” é menor. A razão para isso é que a vinha distribui nutrientes igualmente entre as uvas, não importando se há um número maior ou menos delas. E são exatamente os nutrientes que dão aroma e sabor ao vinho. Se a vinha rende pouco, as frutas ficam com um sabor mais concentrado.
Alguns fatores influenciam no rendimento da planta, como, por exemplo, a idade. Plantas mais antigas geralmente produzem menos cachos (daí o valor dado às bebidas cujo rótulo estampa a expressão “vinhas velhas”). A disponibilidade de água também é um fator determinante, por que plantas que recebem menos água ficam mais “estressadas”, não dão muitos frutos e acabam gastando mais energia na menor quantidade de cachos que produzem.
Mas o que isso tem haver com o preço final? Simples: já que está extraindo menos vinho por metro quadrado, o produtor acaba compensando a diferença no valor da etiqueta na garrafa. Já no caso dos vinhos mais baratos, estes são produzidos a partir de parreiras com irrigação abundante, uma vez que isso provoca uma multiplicação dos cachos e a diluição no sabor das uvas.
2. Seleção das Uvas
Uvas melhores, rótulos mais caros: isso por quê a seleção de uvas exige um trabalho “artesanal”, que torna o processo mais caro. A seleção é feita de dois modos: separação da terra mais apropriada ou a escolha de cachos mais saudáveis para a preparação do vinho.
3. Desastres Naturais
Pragas, terremotos, incêndios, fatores climáticos: toda atividade agrícola ficar à mercê da natureza, cujo controle que se pode ter sobre ela é mínimo. Perdas causadas por esses motivos podem tornar inconstantes principalmente o preço dos vinhos mais caros.
Num caso hipotético, se determinada safra foi conturbada, tendo por exemplo 30% das vinhas mortas e a qualidade das uvas sosobrevivente comprometidas o produtor dos vinhos A (caro), B (médio) e C (barato) toma a seguinte decisão: não será possível engarrafar o vinho A naquele ano. Já a produção do B deverá ser reduzida e a maioria das uvas irão para os vinhos mais baratos. E por que estarão em menor número nas prateleiras, as garrafas de vinho mais caros subirão de preço para “equilibrar” oferta e demanda.
Detalhe: ao invés de acontecer o contrário, em anos excepcionalmente bons, o produtor costuma preferir reter o estoque para evitar que o preço caia.
4. Métodos de Produção
Rápido e com menos custo possível: vinhos mais baratos são colocados em tanques grandes de fermentação (depois que as uvas foram colhidas e prensadas) são embalados e vão com pressa para as prateleiras dos mercados. Já com os vinhos melhores e mais caros, todo o processo de vinificação é acompanhado de perto por um enólogo. A bebida fica mais tempo na vinícola, ocupando as instalações, envelhecendo em barris de carvalho (material bem caro) ou na garrafa por meses ou até mesmo anos, o que certamente influencia no valor final.
Além disso, o vinho mais caro geralmente é envasado em uma em garrafa mais pesadas, com rolha e cápsula (o revestimento da rolha) de maior qualidade, com rótulos mais trabalhados.
5. Impostos
Nos vinhos nacionais, os impostos podem representar até cerca de 65% do preço final; já nos europeus, 85%. Argentina, Uruguai e Chile levam vantagem porque são isentos dos 27% de tributo de importação. O blog tem um post abordando especialmente sobre essa questão.
6. Oferta e Demanda
Não funciona só com o vinho: quando um produto vende muito, o preço sobe e pode se estabilizar no topo. Isso pode acontecer também com todos os vinhos de uma zona de origem que ganha fama repentina. Um exemplo sãos vinhos produzidos na Borgonha (França): a demanda sempre foi maior que a oferta, que, por razões geográficas e burocráticas, não tem como crescer. Assim, vinhos borgonheses têm o preço geralmente muito mais salgado.
7. A nota que um vinho recebe
Um crítico pode influenciar para cima (ou para baixo) o valor de um vinho mercado antes mesmo de um reflexo na demanda. A avaliação dos profissionais da revista americana Wine Spectator, da equipe do crítico Robert Parker (também americano), da inglesa Jancis Robinson e de publicações regionais, como os guias Descorchados (América do Sul), Peñín (Espanha) e Gambero Rosso (Itália), são muito importante para o comércio. Se um desses veículos dá boa nota a um rótulo, o vinho em questão tende a ter preço maior na safra seguinte; se recebe boas notas de forma consistente (ano após ano), o preço preço tende a mudar.
8. Itens de Colecionador
Há vinhos que custam milhares de reais sem que exista um fator inerente à produção que justifique as cifras exorbitantes. O que os torna caros não é a qualidade (embora geralmente seja ótimo), mas sim a disputa a tapa de gente rica que os usa como objeto de status. Não há teto para o preço de um vinho assim: enquanto houver quem pague, o valor vai subir.
Matéria original da publicação Super Interessante.